Morita, 30 anos, está no Sporting desde 2022 (Foto: Miguel Nunes)
Morita, 30 anos, está no Sporting desde 2022 (Foto: Miguel Nunes)

O samurai Morita não se vai render até ao fim... o leão também não

O médio informou o Sporting que não pretende renovar contrato, mas isso não o tirou do onze inicial de Rui Borges nos primeiros dois jogos oficiais da época. Direção ainda não desistiu de o demover

Hidemasa Morita não se rende. Honrando o código que rege os velhos samurais, o médio japonês entra no último ano de contrato com o estatuto de titular e de indiscutível. A honestidade de ter assumido há muito tempo não ter a intenção de renovar o vínculo que o liga ao Sporting até ao verão de 2026 só lhe deu ainda mais crédito junto dos responsáveis leoninos.

Honestidade, respeito e lealdade. Tudo princípios fundadores do código dos samurais, guerreiros japoneses reconhecidos como expoentes máximos da honra, e que regem o comportamento do médio que chegou a Alvalade em 2022, oriundo do Santa Clara.

Morita foi titular nos primeiros dois jogos da época (Miguel Nunes)

Mas é um outro princípio do código samurai que afasta Morita de Alvalade: a bravura. Porque um samurai não se esconde. E aos 30 anos, o médio ainda acalenta a esperança de chegar a um dos chamados Big-5, com preferência assumida pela Premier League.

Morita tem uma mentalidade diferente. Acredita muito no valor que tem e precisa de desafios, porque é isso que o alimenta. Ele recusa ficar numa zona de conforto

Essa ideia é confirmada por Diogo Boa Alma em conversa com A BOLA. O antigo diretor desportivo do Santa Clara foi o responsável pela chegada de Morita a Portugal e reconhece na decisão de não renovar a ambição que o jogador tem.

«Ele tem uma mentalidade diferente da nossa. Acredita muito no valor que tem e precisa de desafios, porque é isso que o alimenta. Quando o conseguimos trazer para o Santa Clara, ele abdicou de muito dinheiro, veio ganhar um quinto para jogar no futebol europeu, e já foi porque acreditava que conseguiria dar o salto para outros patamares», introduz Boa Alma. «Ele recusa ficar numa zona de conforto, quer sempre o desafio. E percebeu que se renovasse com o Sporting, esse seria o último contrato na Europa. E o Morita não quer ver o rendimento baixar e pretende viver novas experiências», acrescenta.

Nesse sentido, e tendo a certeza de que o rendimento do médio não irá baixar devido ao final de contrato, Boa Alma vê Morita alimentar o sonho da Premier League. «Claramente é o campeonato que ele mais gostava de experimentar. É aquele que tem mais visibilidade e reconhecimento no Japão. E ele até tem exemplos recentes, como o Endo, que chegou ao Liverpool com 31 anos, e que o ajudam a alimentar essa expectativa de também chegar lá».

Pagar 20 euros/hora para poder 'picar' Morita e incentivá-lo com o português
Apesar do sucesso que veio a viver com a camisola do Santa Clara, que lhe permitiu dar o salto para o Sporting, o início de Morita nos açorianos não foi fácil. Sobretudo, pelas dificuldades de comunicação. Para ajudar o médio japonês, o Santa Clara contratou... o melhor amigo. Daisuke Kawashima, intérprete e amigo de infância de Morita, formado em Japonês-Português, viajou também para Ponta Delgada e além de ajudar o amigo, acabou por dar aulas de japonês a Diogo Boa Alma. «Eu pagava-lhe 20 euros por dia para ele me dar uma hora de aulas, para poder comunicar como o Morita. Por exemplo, pedia ao Daisuke para me ensinar a contar até 10 e no dia seguinte chegava ao pé do Morita, contava e dizia-lhe que no dia a seguir era a vez de ele contar até 10 em português. Isso ajudou-me a criar uma relação mais próxima com ele e incentivá-lo a aprender mais depressa», relata, sorridente o dirigente.

Ora, mas isso será assunto para o próximo verão. Para já, quem não parece muito (ou nada) importado com a situação é Rui Borges. O treinador assumiu várias vezes a admiração que sente pelo japonês, que já vem dos tempos em que o tinha como adversário, e que aumentou quando passou a trabalhar diretamente com ele. Mas mais do que as palavras, valem as ações.

E no arranque da época, Rui Borges deixou claro o papel que tem reservado para o médio japonês: o de protagonista! Hidemasa Morita foi titular nos dois primeiros jogos oficiais da época, fazendo dupla no meio-campo com o capitão Morten Hjulmand, tanto na Supertaça perdida para o Benfica, como na estreia vitoriosa na Liga, diante do Casa Pia (2-0).

E tudo indica que Morita vai continuar a ser primeira opção. Ele quer. O treinador também e a direção vê com bons olhos. Não só porque confia plenamente no valor do jogador, mas também porque ainda não desistiu de o fazer renovar. Até ao final da janela de transferências, essas conversas estarão congeladas. Mas a época é longa. E a vontade de segurar o samurai é grande.

O leão também não se rende!

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