O menino que queria ser peixe
ERA uma vez um menino que queria ser peixe. Mas não um peixe qualquer. Ele queria ser um marlim. Um marlim preto. Atingir a velocidade de 129 quilómetros por hora. O menino queria mesmo ser o peixe mais rápido do mundo…
Este podia bem ser o primeiro parágrafo de um livro infantil. O herói da história tem um nome: Diogo Ribeiro, medalha de prata nos 50 metros mariposa dos mundiais de natação. O primeiro português medalhado na história. Um livro que nos remete para «O menino que queria ser chita». A história de Francis Obikwelu, inimaginável prata nos 100 metros dos Jogos de 2004.
Se alguém me perguntar a que distância fica o céu eu respondo que fica a quatro centésimos de segundo… Os quatro centésimos que separaram Diogo Ribeiro de Jacob Peters. O Diogo recebeu a medalha e subiu ao pódio, o britânico ficou em quarto. E se alguém me perguntar a distância para o Inferno, eu respondo que fica também a quatro centésimos de segundo. Há dois anos, Diogo Ribeiro foi abalroado por um pesado e projetado da moto. Nem teve tempo para piscar os olhos, quando os abriu estava numa ambulância sem parte do dedo indicador da mão direita, uma fratura no pé, hematomas e queimaduras. E se alguém me perguntar a que distância fica o Inferno do Céu, respondo que não, não são oito centésimos de segundo. No caso do Diogo, são milhares de horas. Reconstrução do dedo, cura das mazelas físicas e psicológicas, treino, acompanhamento, sacrifício, ambição e paixão sem limites. Porque o Diogo queria muito ser um Marlim. E encher de orgulho a mãe, que o incentivou sempre a fazer desporto como parte da terapia para superar ter perdido o pai aos quatro anos.
Diogo Ribeiro não precisou de ir para uma qualquer universidade norte-americana. «Acho que não preciso de sair de Portugal para chegar ao topo», chegou a dizer. E não saiu. O talento associado a muito trabalho e paixão podem dar resultados de excelência quando enquadrados num projeto de carreira, condições de treino e uma competente equipa multidisciplinar de apoio permanente. Do treino técnico à biomecânica, passando pela psicologia. Porque também temos bons exemplos, Portugal soube criar condições para o Diogo Ribeiro. Mas o grande mérito é dele e da forma como ele encara a vida. Sim, a vida.
O Diogo tem apenas 18 anos, eu tenho 53. E ele é um dos meus ídolos. Porque ganha? Não. Porque não hesita em trocar as 24 horas de cada dia por quatro centésimos de segundo.