Marco Silva admite falhas no mercado mas quer bater o recorde de pontos outra vez
O Fulham, treinado por Marco Silva, não vive o melhor momento no que diz respeito a resultados na Premier League. A equipa do técnico português está, neste momento, em 17.º lugar e, depois de só ter perdido uma vez nas primeiras cinco jornadas, saiu derrotada dos embates frente a Aston Villa, Bournemouth, Arsenal e Newcastle. Em entrevista divulgada na última terça-feira pela DAZN ao podcast The Premier Pub, Marco Silva falou sobre o momento de forma da equipa e afirmou que tal é espelho do nível em que está o campeonato inglês.
O treinador luso, o terceiro há mais tempo no cargo numa equipa do campeonato inglês — só atrás de Pep Guardiola, no Manchester City, e de Mikel Arteta, treinador do Arsenal — entrou esta época na quinta temporada à frente dos cottagers. O tempo que teve para consolidar o processo de trabalho, e a forma como certos hábitos da equipa podem ser explorados pelos adversários, foram também temas abordados pelo treinador.
«É um dos nossos desafios. Percebemos que algumas coisas estão cimentadas e têm corrido muito bem, essa é a razão para as épocas terem sido muito positivas e para termos alcançado objetivos. A última temporada é bom exemplo disso, batemos o recorde de pontos do clube. Temos sempre de acrescentar algo mais», explicou Marco Silva, que também afirmou que uma das principais preocupações é «tirar algumas referências aos adversários»: «Conhecemos muito bem os nossos adversários, mas eles também nos conhecem muito bem a nós. É um pouco a história do gato e do rato. Queremos sempre esconder algumas coisas em que não somos tão fortes e explorar e acrescentar coisas à nossa equipa. Se ano após ano puderes acrescentar qualidades e perfis de jogadores, melhor.»
Mercado ficou abaixo do esperado, mas não há gestão de expectativas
Ainda antes do final da janela de transferências, Marco Silva deixou críticas ao mercado do Fulham, que terminou como o segundo clube que menos investiu na Premier League, só à frente do Leeds. «Não foi o melhor mercado para nós. Perdemos um médio, tínhamos pensado ir buscar outro de características um pouco diferentes, não o fizemos, perdemos algo que pretendíamos com aquela posição. Esperamos que os dois extremos que contratámos [Kevin e Chukwueze] nos possam oferecer o que até agora não ofereceram, mas que no futuro nos possam dar aquilo que pretendemos», afirmou.
Se, por um lado, poucos entraram, Marco Silva também defendeu que foi bom que muitas peças importantes não saíssem. «Tivemos algumas propostas, até elevadas, por alguns jogadores nossos, mas fiz muita questão de, se fosse possível, não perder ninguém, não podíamos correr esse risco. Nas épocas anteriores tínhamos perdido jogadores importantes, foi o Mitrovic, foi o Palhinha. Não fazia sentido fazê-lo novamente porque estávamos a tirar qualidade à equipa, não a acrescentar», prosseguiu.
«Tínhamos três posições definidas que queríamos reforçar: dois extremos com características diferentes do que tínhamos e um '8' que pudesse ser um segundo médio no momento defensivo mas mais criativo», continuou Marco Silva. Conclusões que chegaram, naturalmente, da análise do passado. «Nas últimas épocas, pelas características dos jogadores, temos sido mais produtivos do lado esquerdo. Quisemos, do lado direito, ir buscar um médio com as características do que temos no lado direito. Não conseguimos. Sentimos que, no ano passado, tivemos muita falta de melhor definição no último terço, de mais jogadores para desequilibrarem no 1 contra 1. Foram essas as razões para termos ido buscar o Kevin e para, no último dia de mercado, termos ido buscar o Chukwueze», acrescentou.
Questionado sobre se o desinvestimento pode significar piores resultados, Marco Silva não quis gerir expectativas e confessou que, depois de bater o recorde de pontos do Fulham na época passada, desafiou o plantel a... voltar a fazê-lo em 2025/26: «Não vou fazer essa gestão. Não tenho problemas em ser frio na análise no fim da época. No ano passado, após o último jogo, em que batemos o recorde de pontos do clube, rapidamente estabeleci os objetivos para a época seguinte, aquela em que estamos agora, que seria bater novamente o recorde de pontos. Não sabia o que seria o mercado, mas quis colocar aquela fasquia. Não me vou esconder atrás de algo diferente.»
Ainda assim, ficou o reforço: «É óbvio que [o mercado] tem impacto, as outras equipas não andam a dormir, não estão contentes com o que têm. Se tivermos maior capacidade, vamos ser mais fortes. O dinheiro só por si não ganha jogos, mas ajuda muito se fizermos os movimentos certos no mercado», disse o treinador, que «Não foi o melhor, não escondo isso, mas não há que mudar nada. Não temos medo das expectativas. Há que encarar cada jogo da forma como queremos encarar. Tenho a certeza de que, se tivermos a equipa toda preparada, sem lesões, vamos ser fortes. Se tivéssemos feito o que deveríamos seríamos mais fortes? Sem dúvida, mas agora é termos os jogadores todos preparados e ao nível que nós pretendemos.»
Vida em Inglaterra é sinónimo de chá... mas sem leite
Marco Silva está na quinta época ao serviço do Fulham, mas está há quase nove anos em Inglaterra — assinou pelo Hull City no início de 2017 e já treinou Watford e Everton antes de rumar a Londres. Vida em Inglaterra é sinónimo... de chá, mas, ao contrário do que muitas vezes acontece no país, Marco Silva não gosta de leite no seu. «100% sem leite! Percebo a cultura, já consumia em Portugal. Não era um amante de chá, tornei-me mais aqui. Mas sempre sem leite», defendeu o treinador, que destaca um ponto como o que mais aprecia em Inglaterra: «Há outras coisas que aprecio muito na cultura, mas mais que tudo, o dia de jogo é incrível neste país. Os treinadores, estejam onde estiverem, querem sempre superar-se e aqui os testes são muito grandes.»