Equipa do Rebordosa a fazer a roda - Foto: Rebordosa
Equipa do Rebordosa a fazer a roda - Foto: Rebordosa

Mais de 20 anos à frente do Rebordosa: «Objetivo é a subida à Liga 3»

Pelos Caminhos do Futebol é uma rubrica de A BOLA que, semanalmente, o levará até ao país profundo. Esta quinta-feira fomos até Rebordosa e falámos com Joaquim Barbosa, presidente dos marceneiros que deu os primeiros passos no clube com 14 anos

Uma vida no Rebordosa. É o caso de Joaquim Barbosa, presidente dos marceneiros que deu os primeiros passos no clube com 14 anos. O Rebordosa compete no Campeonato de Portugal e não só lidera a Série B como é a equipa com mais pontos no quarto escalão do futebol português. No horizonte está uma subida à Liga 3, naquela que será a última época de Joaquim Barbosa na presidência.   

«Comecei a jogar no Rebordosa aos 14 anos e a paixão ficou logo ali como jogador. Mas ao fim de quatro ou cinco anos vi que não daria jogador e acabei por desistir. Depois, em 1978, regressei ao clube como vogal e saí em 1988. Estive 10 anos como vogal. Em 1996/1997 entrei para chefe de departamento de futebol e em 1997/1998 assumi a presidência. Subi à antiga 3.º Divisão Nacional, era um dos objetivos. Conseguimos começar as obras no estádio. Depois são as coisas, começa-se as obras, vai-se acompanhando, vai-se indo e lá passaram estes anos todos. Sinto-me orgulhoso pelo trabalho que fizemos, eu e a minha direção, a minha equipa. Tenho muitos diretores que estão comigo quase desde o princípio. Sentimo-nos orgulhosos por aquilo que fizemos nestes anos todos, mas estou-me a sentir cansado», referiu, em conversa com A BOLA, assumindo que não vai avançar para um novo mandato. O atual termina em junho de 2026.  

«Estou-me a sentir cansado e terei de fazer uma pausa. Isto cansa muito, é todos os domingos sempre com o futebol. Depois começas também a não ter as decisões certas para o sítio certo, começas a ver que realmente falhaste ali ou acolá. Acho que está na hora de me retirar. Já na Assembleia disse que não ia continuar. Vou ver se acabo o mandato», disse, recordando a altura em que entrou para a presidência do Rebordosa. 

Joaquim Barbosa, presidente do Rebordosa - Foto: Rebordosa/Instagram

«Quando entrei era o antigo Campo Fernando Santos. O que foi feito com muito sacrifício dos empresários e dos diretores. Era um campo pelado. Um dos objetivos era fazer um campo novo. Temos um estádio coberto, com oito mil lugares, mais ou menos. Começas a encontrar empresários que nunca viram as costas ao clube. O Rebordosa nunca passou por sobressaltos a nível financeiro. Se nós não pudermos fazer, não fazemos. Se tivermos uma equipa que custa cinco, não vamos gastar 10. Toda a gente ajudou, através de publicidade, ativos», explicou. 

Objetivo da subida à Liga 3 assumido

Não há melhor que o Rebordosa no Campeonato de Portugal. A equipa orientada por Vítor Gamito soma 19 pontos e ainda não sabe o que é perder na Série B. É o conjunto do quarto escalão com mais pontos. 

«Este campeonato foi muito bem ponderado, desde que começámos com este treinador a dar uma continuidade ao trabalho que temos vindo a fazer nestes últimos anos. Temos jogadores que cá estão há cinco, seis anos e já se conhecem uns aos outros. A equipa técnica também já está cá desde o ano passado», afirmou Joaquim Barbosa. 

Na época transata, o Rebordosa competiu na Série A (e não na B) do Campeonato de Portugal e ficou em quarto lugar, atrás de Vitória de Guimarães B e Paredes, que conseguiram, mais tarde, a subida ao terceiro escalão, e Bragança. 

«Foi diferente, os treinadores começam a conhecer os jogadores e os cantos à casa. Isto é empenho da equipa técnica, departamento médico e dos jogadores. Com a direção, fizemos uma pré-época bem estruturada preparada para enfrentarmos o campeonato com o objetivo que temos. Foi uma conversa feita entre a direção e os jogadores. O objetivo é a subida de divisão», assumiu, sendo questionado sobre as diferenças entre as Séries A e B. 

«Nunca tínhamos lá estado, por isso é que fomos buscar essa equipa técnica, que conhecia a Série A. Hoje, as equipas do Campeonato de Portugal preparam-se bem e batem-se bem. Não conhecíamos muito bem alguns campos», apontou, falando acerca do modelo competitivo do Campeonato de Portugal. 

«Sei que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) muitas vezes não pode fazer nada... mas é a situação das paragens. O campeonato acaba muito cedo, não tens tempo para recuperar, estamos a falar de 26 jogos. Deveria ser no mínimo uns 32 jogos. Tanto a Série A como a Série B são competitivas», atirou. 

Fortaleza em casa 

Nos quatro jogos realizados em casa esta época, o Rebordosa venceu... os quatro e não sofreu qualquer golo. Joaquim Barbosa destacou o apoio dos adeptos, tanto em casa como fora. 

«Por aquilo que tenho visto, o Rebordosa é o clube que mais gente envolve e leva. Os adeptos já me conhecem. O clube tem crescido de maneira sustentada, temos criado infraestruturas. Há poucos clubes na Segunda Liga que tenham condições como as nossas. Temos de fazer umas retificações, no caso das cadeiras e umas coisas mais, e temos condições para jogar na Primeira Liga. É uma união muito forte, por isso é que nós também tentamos escolher os treinadores que estejam minimamente enquadrados no grupo que temos e o Vítor Gamito veio acrescentar mais alguma coisa ao clube», referiu. 

O sonho da Liga 2

Joaquim Barbosa assumiu, numa entrevista há cerca de um ano, o sonho de ver o Rebordosa a chegar à Liga 2

«O Rebordosa tem todas as condições para estar na Liga 2. Mas para ir para a Liga 2, penso que terá de haver investidores. Será um passo diferente. Terá de se mudar alguma coisa na própria organização. Estão a pôr o futebol cada vez mais profissional. No Rebordosa, até à data, não apareceu nenhum investidor em que acreditássemos. Sabemos perfeitamente que é preciso gastar muito mais dinheiro para ir para a Segunda Liga, é preciso haver uma estrutura bem organizada e montada», afirmou o dirigente.  

«Deixo um trabalho bem organizado, o que custa é fazer as linhas para o comboio andar, depois põe-se o comboio em cima e é só dar-lhe mais ou menos velocidade. Comigo acho que anda com um bocadinho menos velocidade. Então é preciso vir alguém que lhe dê mais velocidade para chegar ao destino a tempo», prosseguiu, destacando que o «dinheiro ajuda, mas não faz tudo». 

«Comigo não será assim. O dinheiro ajuda muito, mas não faz tudo. Vejo equipas com orçamentos muito mais elevados, mas uma coisa é certa, em cada clube quem sabe é quem lá está. Tenho estado com presidentes a ver os nossos jogos e têm-me dito que temos uma equipa competitiva e que dá tudo», rematou. 

Receção ao SC Braga na Taça de Portugal ainda na memória

O Rebordosa defrontou o SC Braga, na terceira eliminatória da Taça de Portugal 2023/2024. Os marceneiros jogaram no Complexo Desportivo de Azevido e perderam, por 0-2, com os golos dos visitantes a serem apontados por Rony Lopes e Álvaro Djaló.  

Joaquim Barbosa contou que todos no clube ficaram «muito contentes» com o sorteio e com uma certeza: o jogo teria de ser no Complexo Desportivo de Azevido. 

«Foi uma experiência muito importante e aprendi muito com esse jogo. O SC Braga tem uma boa organização. Tivemos reuniões com o SC Braga, Federação e Força Policial para que não falhasse nada. Estávamos ali numa situação com a parte da eletrificação, porque o jogo era à noite e a nossa luz não tinha capacidade. Houve várias situações com a própria FPF... Juntamo-nos todos, alguns empresários e, no fim, quando pusemos a luz, deram-nos os parabéns pelo esforço em tão pouco tempo», disse, revelando uma conversa com António Salvador. 

«Disse-me que quase não acreditava e deu-nos os parabéns pelo nosso estádio e pela organização. Disse ainda que o SC Braga estaria sempre à disposição de ajudar quando precisássemos. Isso é bom para todos, para a nossa cidade. A prova rainha é para dar nomes às terras», rematou.