Kelton Tavares viveu uma época de sonho com o Sporting, conquistando o título de campeão nacional de voleibol

Kelton Tavares: «Antes queria competir, agora quero ganhar!»

Kelton Tavares viveu uma época de sonho com o Sporting, conquistando o título de campeão nacional e agora também foi chamado à Seleção Nacional. De Cabo Verde para o Mundo.

— Já consegue fazer um balanço desta época?

— Foi uma época bastante boa, bastante positiva e que, vindo assim no final, acabou da melhor forma. Foi uma época em que nos fomos conhecendo também como colegas, em que crescemos juntos, criamos uma família, mais do que uma equipa, porque sempre andávamos juntos, sempre brincando, sempre naquela alegria. E foi assim que foi o nosso dia-a-dia, desde o primeiro dia até o final da época.

— Quando começou a época, imaginava estar aqui com o troféu?

— De certa forma, sim, porque era algo que a equipa toda mencionava e que propusemos uns aos outros, desde o primeiro dia: trabalhar para conseguir esse título.

— Mas era uma missão difícil, o Benfica é pentacampeão...

— Sim, sim. O Benfica vinha na vontade de conseguir o hexa e nós estávamos naquela vontade de não deixar acontecer, mas estávamos no início, a conhecermo-nos, a saber quem tínhamos ao lado, porque uma boa parte da equipa era nova.

— E foi uma surpresa boa?

—Sim, bastante boa, com colegas que trouxeram muito, além do voleibol. Também ensinaram muita coisa. Gostei muito de trabalhar com todos.

— Acha que isso pode ter feito a diferença?

— Sim. Às vezes não é só o voleibol em si, não é só uma pessoa ser boa tecnicamente ou fisicamente, também é aquilo que a pessoa é, o que traz para os outros, para a equipa no seu todo. E tivemos ótimas pessoas neste sentido, tivemos pessoas com uma empatia muito boa, pessoas carismáticas, que souberam transmitir calma a toda a gente, souberam transmitir confiança.

— Os sinais estavam lá desde o início, com a Taça, competições europeias, ou acreditavam que era um caminho que tinham de fazer?

— Acredito que os sinais já estavam lá, porque desde o primeiro dia toda a gente chegou com a mesma mentalidade, que era ganhar. E toda a gente veio a trabalhar para isso, mas toda a gente chegou descontraída, não era um clima tenso de trabalho. Às vezes, há pessoas que são bastante sérias e a sua personalidade também interfere com o resto da equipa. Mas isso não aconteceu, tivemos um grupo homogéneo desde o início, que soube trabalhar da mesma forma e da sua maneira e isso foi crescendo cada vez mais.

— A experiência nas competições europeias, com jogos difíceis, ajudou no campeonato nacional?

— Claro que sim. Tivemos mais jogos, mais treinos, mais repetições uns com os outros porque, apesar de tudo, ainda estávamos a conhecermo-nos, a saber o que é que um gosta mais, o que é que o outro não gosta, como é que um lida com uma certa situação... Quanto mais jogos tivemos, melhor nos conhecíamos e melhor sabíamos quando é que um estava no seu melhor dia ou quando é que não estava e o que é que podíamos fazer quando isso acontecesse, porque sabemos que nem sempre toda a gente está bem. Tínhamos de aprender a ajudar-nos uns aos outros neste sentido, quando um não está bem, o outro assume um bocado, quando o outro não está, o outro faz a mesma coisa.

Kelton Tavares celebra com os companheiros do Sporting. Foto Sporting

— Correu tudo bem até à final do 'play -off'?

— Tivemos uma época com alguns altos e baixos. Tivemos umas semanas difíceis com vários jogos e muito pouco tempo para descansar, o que fisicamente também é terrível. Não conseguimos chegar às meias, perdemos o primeiro lugar do campeonato, acabou a nossa hegemonia, acabou o nosso percurso também na Challenge e toda a gente parou um bocadinho. O início da época foi muito acelerado com vários jogos, não havia muito tempo para descansar ou refletir sobre o que andávamos a fazer. E quando tivemos essa fase pior, toda a gente parou e refletiu. Tivemos tempo para trabalhar mais intensamente nos treinos e melhorar a parte física. A partir daí preparamo-nos da melhor forma para o que faltava, o campeonato.

— Mas a final do 'play-off', também não começou bem...

— Pois.. No primeiro jogo, até começámos bem, o primeiro set e o segundo, depois começámos a quebrar, não éramos tão consistentes como fomos ao longo da época. Acabámos por perder o primeiro jogo, com momentos muito bons e outros não tão bons. No segundo jogo, em casa, a mesma coisa. Dissemos: 'Isto não pode continuar, chegámos até aqui. Não fizemos a época que fizemos para chegar à final e perder 3 a 0!'. Ia ser injusto e sabíamos que tínhamos qualidade para fazer mais e para ter melhores resultados.

— Perder 3-2 é uma coisa, perder 3-0 é outra?

— Exato! Perder 3-0 é, de certa forma, feio.

— Não justificava o campeonato que tinham feito?

— Exatamente. E depois fomos lá à Luz, ganhamos e o pensamento a seguir: 'Eles não podem vir festejar em nossa casa!' Até porque já tinham ganho dois jogos em nossa casa. E depois foi: 'Ok, já saímos desta fase má, vamos lá e vamos lá para ser campeões, não há outra hipótese!'

— O dia do jogo foi vivido com ansiedade ou confiança?

— Logo a seguir ao quarto jogo, estava ansioso, mas não era uma ansiedade má, queria que chegasse o dia do jogo, porque queria muito outra vez ir para dentro de campo e ir lá à procura da vitória outra vez. Lembro-me do treino de segunda-feira parecer que ainda faltava tanto e dizer a um companheiro meu: 'Nunca mais chega quarta-feira, quero tanto que chegue'. Não era nervosismo, era só mesmo querer que chegasse o dia do jogo.