José Mourinho, treinador do Benfica - Foto: IMAGO
José Mourinho, treinador do Benfica - Foto: IMAGO

José Mourinho cada vez mais 'à paulada'

A vitimização como 'mind game' e os ataques a árbitros e comentadores — eis o 'Special One' no seu melhor (ou será pior?)

Primeiro a culpa era dos árbitros, depois juntou-se a esta a do plantel construído pelo antecessor e não por ele e, por fim, a dos comentadores, esses malfeitores. Alvos fáceis que, apesar de tão díspares, têm algo em comum: a vitimização por parte do interlocutor. Que, neste caso, é, nem mais, nem menos, José Mourinho, experiente perito dessa arte chamada, em língua estrangeira, mind games.

O treinador do Benfica voltou à carga (o que tem acontecido recorrentemente independentemente do resultado ser mais positivo ou negativo) logo após a vitória da passada quarta-feira frente ao Nápoles, por 2-0, resultado que mantém as águias em modo de sobrevivência na UEFA Champions League e que teve como protagonistas dois dos menos amados pelo terceiro anel e, de acordo com Mourinho, pela comunidade de comentadores/jornalistas em geral: Richard Ríos, com um golo e uma assistência, e Leandro Barreiro, autor do segundo.

Disse Mourinho: «Não é fácil ser jogador do Benfica, ainda menos no momento atual, em que é muito fácil bater no Benfica. [Richard Ríos e Leandro Barreiro] levaram muita paulada e mostraram capacidade mental para lidar com muita crítica e comentário ofensivo. Ríos é um grande jogador, não conseguiram rebentar com ele.»

É legítimo que o treinador defenda os seus jogadores daquilo a que chama ataques e ofensas externas. Mas também é legítimo considerar que, num meio como o futebol de alta competição, reino de alta e constante pressão, não haja elementos imunes à crítica: dos treinadores aos dirigentes, passando, claro, pelos jogadores, sempre alvo do julgamento, ora por jogarem bem, ora por jogarem mal, e sem esquecer, naturalmente, os árbitros, alvos preferenciais de treinadores, como é o caso de José Mourinho, sobretudo quando o resultado é menos positivo. É assim há muitos anos e não há sinais de que isso mude a curto ou médio prazo.

O que também não muda é a ausência de coerência no nosso futebol e, nem anos de experiência em alguns dos maiores clubes do Mundo (Chelsea, Real Madrid, Inter, Manchester United...), ajudam a trazer alterações nessa tendência, comum a quase todos aqui pelo burgo, e não só.

Que legitimidade podemos ter se, por um lado, atacamos árbitros e comentadores, e, por outro, não aceitamos que os nossos sejam alvo da crítica?

Já aqui há uns anos, mais propriamente em fevereiro de 2021, Jorge Jesus atirava numa conferência de imprensa: «Ai? Ai o quê, pá? Levaste com um pau?!»