Rui Costa foi reeleito presidente há um mês - Foto: IMAGO
Rui Costa foi reeleito presidente há um mês - Foto: IMAGO

Quem não manda no Benfica já todos sabíamos

Faltou à publicação entretanto apagada de Nuno Costa ser contemporânea de um Benfica diferente para melhor, rejuvenescido e impositivo em todas as frentes. Mas pouco ou nada mudou

Um mês depois da reeleição de Rui Costa, o seu chefe de gabinete, sempre na sombra e discreto, apesar de muitos lhe apontarem a real liderança do clube, fez rara publicação no LinkedIn. Não durou muito tempo, desapareceu. Não sem que a diminuta pegada digital tenha sido reproduzida nos jornais.

Nuno Costa enumerou de forma exaustiva quem não manda no clube, das redes sociais aos opinion makers, esquecendo-se, como curiosidade, de referir o próprio nome. Atribuiu ainda aos sócios o estatuto de proprietários e elementos decisores. Por muito que gostasse de ouvi-lo mais vezes, sobretudo pela influência que mantém junto de quem está legitimado para decidir — a vontade de quem elege acaba no momento em que coloca voto em urna ou aprova ou rejeita orçamentos ou estatutos —, não se percebe bem o que o motivou a reagir, ainda que depois — mesmo que isso também não lhe fique propriamente bem — tenha eliminado a publicação.

Pareceu querer dar passo atrás num clube que não deu ainda um à frente — vamos acreditar que há decisões mais estruturais e importantes do que o Benfica District e a Benfica FM — e permanecia pelo menos estagnado naquele pós-eleições, quando os candidatos foram absorvidos pela multidão nas bancadas, diluindo-se com eles qualquer ideia de oposição. A publicação de Nuno Costa ou saiu com a data errada ou falhou na lógica de já não haver rivais para confrontar na oratória. Felizmente, percebeu-o a tempo. Também talvez tivesse tido outro eco se fosse contemporânea de um novo Benfica, rejuvenescido, esfomeado, capaz de dar corpo definitivo à grandeza.

Em termos desportivos, no futebol e muito para lá deste, o clube ainda está a ser penalizado pelos erros do passado, atirados para trás das costas porque houve eleições e se traça aí a fronteira. Na verdade, são o presente. E, no desporto que mais interessa a quase todos, não há previsões de melhoria. O campeonato é cada vez mais uma miragem, mesmo que as fragilidades dos outros sejam coisa de pormenor em liga tão desnivelada, a Champions segue tremida e o resto não salva temporadas. Mourinho não faz a diferença com um plantel que não é o seu, e nunca deixará de lembrá-lo – ainda que também não saibamos se o faria igualmente com um à sua medida. Sem Europa agora, o mercado serviria para pouco, esgotar-se-ia no presente. E seja no verão ou daqui por dois anos, recomeçar do zero será certamente quase obrigatório.