Benfica fez as pazes com a vitória, falta fazer as pazes com a Luz
Bruno Lage caiu onde menos se esperava e quando menos se esperava. Depois de sete vitórias em oito jogos, que envolveu conquista da Supertaça, apuramento para a fase de liga da Liga dos Campeões e entrada triunfal do Benfica na Liga com três vitórias seguidas, eis que empate em casa com o Santa Clara (1-1), para o campeonato, e derrota em casa com o Qarabag (2-3), do Azerbaijão, para a UEFA Champions League, precipitaram os acontecimentos.
Os dois maus resultados terão sido apenas parte do problema, mas, ainda assim, uma combinação explosiva com futebol pobre e falta de popularidade. Lage não estava no coração dos adeptos e não tinha a simpatia da casa encarnada, que foi madrasta para o técnico e custou mesmo a saída do Benfica, pois a reação dos benfiquistas no final do jogo europeu não deu margem de manobra a Rui Costa, presidente dos encarnados, que levou as mãos à cabeça ao 2-3 e sentiu claramente o momento, mais a mais em clima eleitoral e com concorrência numerosa e feroz.
José Mourinho, em estado de graça, em lua de mel, terá, pois, tudo a seu favor para conciliar equipa e adeptos, para ajudar a fazer as pazes entre as partes, porque não apenas Bruno Lage foi culpado pelas bancadas na noite de terça-feira. Os jogadores, ou pelo menos alguns, também foram visados.
O Estádio da Luz está, pois, sedento de glória, de bom futebol, de vitórias e vai receber o novo treinador de braços abertos, como uma lufada de ar fresco. Mas Mourinho, note-se, terá de retribuir na mesma medida, sob pena de defraudar expectativas altas e que não poderão baixar, pois o humor dos adeptos benfiquistas, sobretudo daqueles que marcam recorrentemente presença na Luz, muda com facilidade. Serão, porventura, os mais exigentes.
José Mourinho tem, no entanto, quase tudo a seu favor. Acabou de chegar, é adorado, ganhou a primeira partida, tem a equipa a seu lado, joga em casa, entra em campo como favorito.
Em teoria, só o pouco tempo disponível para trabalhar no Seixal com os jogadores será ponto negativo.
Este jogo com o Rio Ave, em atraso da 1.ª jornada, é o primeiro de uma série de dois consecutivos no Estádio da Luz e significa muito para os encarnados. Vencer é sinónimo de não deixar fugir o FC Porto na liderança da Liga — seis jogos, seis vitórias —, não vencer é ver agravado o atraso pontual numa altura em que se aproxima a passos largos o clássico do Dragão.
O nível de dificuldade do calendário das águias não é, pois, de desprezar, tendo em conta o ciclo em curso: Rio Ave (Estádio da Luz, Liga), Gil Vicente (Estádio da Luz, Liga), Chelsea (Inglaterra, UEFA Champions League) e FC Porto (Estádio do Dragão, Liga).
Depois, paragem de competições de clubes para compromissos das seleções, seguida de Taça de Portugal (3.ª eliminatória a 18/19 de outubro e disputada fora de casa) e, finalmente, Newcastle (Inglaterra, para UEFA Champions League).
São quatro partidas, três do mais alto risco competitivo, para jogar antes das eleições de 25 de outubro, havendo ainda que contar nesse dia com a receção ao Arouca, para o campeonato, que significará fasquia muito alta, também.
O triunfo na Vila das Aves, de estreia na Liga nesta segunda passagem de José Mourinho pelo clube da Luz, fez com que o clima tenso de dissipasse e permite agora ao treinador capitalizar no plano das ideias, de uma nova filosofia de jogo, até mesmo na forma como a equipa se relaciona com os adeptos. O Estádio da Luz também quer fazer as pazes com o futebol bonito e de ataque.
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