Incómodos e incomodados!
ANDAMOS todos desde o dia 27 de Junho de 2021- data em que fomos eliminados do Euro 2020 pela Bélgica - à procura de uma justificação para o insucesso da Seleção Nacional. O principal alvo das críticas, como não podia deixar de ser, é Fernando Santos e incide, fundamentalmente, sobre a convocação de alguns jogadores e a não convocação de outros, sobre os que jogaram e não deviam ter jogado e os que não jogaram, mas deviam ter jogado.
Nos últimos dias, ao assistir-se às exibições de um dos melhores jogadores da actualidade - Pedro Gonçalves de seu nome, também conhecido por Pote - muitos têm opinado que devia ter jogado, tal como André Silva, na prática o maior goleador do campeonato alemão, Lewandowski à parte. Outros alvitram que William Carvalho não devia ter sido chamado, insinuando que isso se conjugava com o interesse do Benfica por um jogador que não jogava no Bétis. Houve, pois, muita gente incomodada - diria mesmo irritada - com Fernando Santos, mas ninguém tem razão nos casos apontados.
Na verdade, decorridos que são menos de dois meses sobre a eliminação, a verdadeira razão surge em todo o seu esplendor e evidência: João Mário não vingou no Inter, não foi querido no Spartak, nem no West Ham, não se pensava ser dispensado pelo Sporting e foi votado ao ostracismo por Fernando Santos. Erro crasso, que deixou a Seleção Nacional sem aquele toque de classe que agora dá à selecção de estrangeiros encarnados e que seria suficiente para vencer o europeu! Calculo que Fernando Santos se deve sentir incomodado, mas estou certo que não se esquecerá dessa injustiça na próxima convocatória!
Mas, como diz o povo, guardado está o bocado! E Jesus, sem qualquer incómodo no que respeita ao processo utilizado, que aliás não lhe diz respeito, lá recebeu um jogador de classe que há tanto tempo procurava e não encontrava apesar dos milhões investidos, o que, de resto, também não o incomodou! Incomodados estarão os seus dirigentes - os que gostam dele e os que não gostam, o amigo dele que saiu e os que ficaram, cujo grau de amizade com ele desconheço!
E o incómodo é de tal monta que, agora, a cartilha encarnada, seguida por alguma comunicação social, aponta para o incómodo que a transferência de João Mário do Inter para a Luz estaria a causar incómodo em Alvalade, onde mora o campeão nacional, designadamente, a Frederico Varandas!
Não creio que o presidente do Sporting esteja incomodado com isso, nem teria razões para tal, quando escolheu para treinador alguém que sabe ser coerente com um projecto e solidário com o clube nas condições financeiras actuais. Incomodado estaria eu, e não só, se o Sporting assumisse quase 30 milhões de salários com João Mário, enquanto outros jogadores, mais importantes que ele, recebem menos e merecem mais. Incomodado ficaria eu, e não só, se tivéssemos de vender jogadores para poder pagar salários daquela ordem.
Como disse ontem Rúben Amorim, na conferência de imprensa, incomodado só pode ficar quem não viu treinar e jogar Matheus Nunes e Daniel Bragança. Incomodados devem ter ficado alguns com a naturalização de Matheus Nunes, abrindo-se as portas da Seleção Nacional!
«O incómodo tem um nome: Rúben Amorim»
Incomodado não me posso sentir quando o meu treinador afirma alto e bom som que não trocava nenhum dos seus jogadores por qualquer jogador do Benfica ou do Porto! Incomodado apenas me sentiria se deixasse de acreditar em Rúben Amorim ou me dissessem que estava de saída. Mais que incomodado, ficaria preocupado. Subscrevo o que disse ontem Rui Calafate, na sua habitual coluna no Record!
Mas o que havia de rezar a cartilha, agora que aparece reforçada à luz do dia com o cartilheiro-mor, Pedro Guerra, mais magro por fora e completamente vazio por dentro? Obviamente que sentem necessidade de afirmar o incómodo do Sporting para disfarçar o incómodo que sentem pelas mais diversas razões, algumas das quais nada têm a ver com resultados desportivos.
Um dos incómodos, e talvez não seja o maior, é o facto de o Sporting, para já, manter a mesma equipa, mas com mais soluções. Incomodado ficarei eu se tivermos de vender alguém nesta fase do mercado, antes da fase de grupos da Liga dos Campeões!
Mas, sem dúvida, o maior incómodo de todos, tem um nome: Rúben Amorim, pela sua liderança, pela sua qualidade técnica e pela forma como comunica. Portanto, quando hoje falamos de incómodos na Segunda Circular, para além do trânsito, os incómodos estarão para os lados de Benfica.
Antes de mais nada, e desde logo, o custo de Rúben Amorim e Jorge Jesus: dez milhões pagou o Sporting de Portugal ao de Braga, que se deslocou para Lisboa, se não estou enganado, de automóvel; Jesus foi resgatado ao Flamengo por apenas um milhão mais o transporte em avião privado!
Jesus chegou como um trunfo eleitoral, para arrasar, para jogar o triplo, e para numa das suas primeiras intervenções dizer que tudo tinha melhorado: o estádio, o Seixal, a estrutura, para concluir que só faltavam bons jogadores, como se o balneário estivesse cheio de apanha-bolas, com algum jeito, mas sem a classe, que agora João Mário empresta.
Rúben Amorim chegou sob suspeita, mas confiante em si e no seu projecto, e com humildade perguntou, como todos se lembram: e se der? E foi esta interrogação que me fez crer que era mesmo capaz de dar! E deu mesmo! Os homens inteligentes são humildes, não são arrogantes. A arrogância visa sempre suprir ou esconder a limitação intelectual!
O Benfica investiu milhões para dar classe, mas não ganhou nada. Tinha de ficar incomodado, mas desculpou-se com o Covid. Incomodado deve ter ficado quando viu o que aconteceu ao Santo Clara, que equipa de igual, mas que superou a adversidade com outro espírito.
O Sporting tinha matéria-prima, mas não a sabia aproveitar e muito menos distinguir quem tinha ou não qualidade para jogar no Sporting. Rúben Amorim, com coragem e determinação, separou o trigo do joio, ficou com quem tinha de ficar, chamou quem tinha que chamar, contratou pouco, mas cirurgicamente bem! E se não tinha jogadores de classe, construiu um colectivo de classe do qual brotaram jogadores de muita classe!
Foi assim que dez milhões se tornaram mais baratos que um milhão. E foi assim que a humildade venceu a arrogância!
Rúben Amorim tornou-se um factor de união e não como outros um fator de divisão!
Rúben Amorim foi perseguido pela ANTF, incomodada por alguém que recusa o corporativismo. Procuraram incomodar Rúben, mas este não se incomodou, porque ele não anda no futebol para se acomodar, mas para se sentir cómodo e ser incómodo para quem está acomodado.
As conferências de imprensa de Ruben também incomodam muita gente, porque não deixa ninguém sem resposta, e perante perguntas de bla, bla, bla...responde com aquele sorriso inteligente e descontraído, e não com um glu, glu, glu de semblante carregado, como um peru em véspera do dia de Natal. Rúben fala para pessoas normais com normalidade, não com aquela linguagem de quem se julga que as suas ideias não podem ser discutidas por simples mortais.
Rúben Amorim mostra estar de bem com a vida, ao contrário de outros que parecem sempre zangados, como se tivessem de ser venerados como deuses.
Incomodados devem estar os benfiquistas porque não acreditaram em Rúben Amorim e deixaram-no escapar para o Sporting de Braga e depois para o Sporting Clube de Portugal!
Incomodado está o sistema por natureza acomodado. Há uma questão que realmente incomoda, mas não o Sporting!
O incómodo tem um nome: Rúben Amorim. E se o Rúben Amorim incomoda muita gente, ser treinador do Sporting incomoda muito mais!