Van de Beek lesionou-se gravemente esta semana e deve perder o resto da época: a imagem que retrata o estado atual do último classificado de La Liga - Foto: Andres Lopez Sheridan/IMAGO

Girona, o drama de quem viveu um sonho chamado Champions

Cidade que foi palco da famosa série 'A Guerra dos Tronos' enfrenta a queda abrupta de uma equipa que surpreendeu Espanha e a Europa. Michel, o treinador que de herói passou a mau da fita, não desiste

Girona está considerada uma das cidades mais bonitas de Espanha e até da Europa. Uma joia arquitetónica da que desfrutam os seus cerca de cem mil habitantes e os cada vez mais numerosos turistas que a visitam, muitos deles inspirados pelas cenas de A Guerra dos Tronos ai gravadas ou à procura de uma experiência gastronómica única oferecida por um dos mais famosos e caros restaurantes do Velho Continente. A cidade catalã também se sente orgulhosa do seu clube de futebol, o Girona FC, e agradecida por, graças a ele, ser agora, no mundo, muito mais conhecida.

O Girona passou a maior parte dos seus quase cem anos de vida nas categorias inferiores do futebol espanhol, subiu em 2017 pela primeira vez à divisão principal, uma presença fugaz que a levou a cair de novo no segundo escalão de onde foi resgatado pelo técnico madrileno Michel Sánchez que, na temporada 2022/23 o colocou, de novo, no campeonato dos grandes onde terminou num honroso 10º. lugar.

O ano seguinte foi o da glória: de forma surpreendente a equipa instalou-se, desde o princípio, nos lugares cimeiros da liga lutando, lado a lado, com os grandes favoritos Real Madrid e Barcelona, liderou sete vezes a classificação, acabou por ficar em terceiro, mas a seis jornadas do fim já tinha assegurada a participação na Liga dos Campeões, algo incrível para um clube modesto da sua dimensão.

Participar na principal competição europeia dá prestígio, mas, desportivamente, é um sonho que por vezes tem um preço demasiado elevado. Embora apoiado pelo grupo City, que é um dos seus principais acionistas, o Girona, na fase de liga, só conseguiu uma vitória, a primeira e única na sua história a nível europeu, impondo-se ao Slovan Brastilava. O resto foram sete derrotas e um modesto 33.º lugar que pôs fim à sua passagem pela Champions.

Por outro lado, estar na Europa também teve consequências negativas a nível doméstico. A equipa catalã foi prematuramente eliminada da Taça do Rei e, no campeonato, em vez de lutar pelo título teve de o fazer para evitar a descida, com onze jornadas seguidas sem ganhar, garantindo a permanência apenas a duas rondas do fim.

Nesta temporada as coisas não vão melhor. Disputadas seis jornadas da liga espanhola, ocupa o último lugar, fruto de apenas dois pontos conquistados em 18 possíveis, o último foi obtido a meio da semana em Bilbao. Apesar da delicada situação e dos protestos dos adeptos, o clube mantém a sua confiança no treinador Michel Sánchez que tem claro o diagnóstico do que está a passar: «Somos a pior equipa da liga e eu o pior treinador, não há conexão entre os jogadores, alguns pensam que ainda estamos na Champions e isso é mentira, temos que acabar com os egos que ainda existem para que a equipa possa funcionar.»

Não são muitos os que viveram a época dourada e que continuam no clube. Já não estão elementos destacados como Miguel Gutiérrez (transferido para o Nápoles) ou Savinho, transferido para o Manchester City. Continua Abel Ruiz, ex-jogador do SC Braga, e chegaram caras novas como o francês Lemar ou o belga Axel Witsel, antigo jogador do Benfica. Um ano depois de iniciar a sua aventura europeia, o Girona vive um verdadeiro drama agravado com a grave lesão do neerlandês Van de Beek que talvez tenha dito adeus à temporada, uma situação complicada da qual só sairá com paciência, humildade e, a menos que haja alguma mudança estrutural, uma contínua confiança em Michel, o técnico que melhor conhece a equipa e que em melhores condições está de poder salvá-la.