Festa da equipa do Al-Ahli depois da vitória nas grandes penalidades sobre o Al-Nassr Foto: IMAGO
Al Ahli (Arábia Saudita, AFC) - Foto: IMAGO

Galeno apaga o sonho de Ronaldo (crónica)

Capitão da Seleção Nacional marca golo 100 pelo Al-Nassr, mas Supertaça foge nas grandes penalidades

O futebol tem destas ironias cruéis. Uma equipa superior, que cria mais, que mostra mais fome de vitória, pode sair de mãos a abanar. Foi o que aconteceu ao Al-Nassr, orientado por Jorge Jesus, que viu a Supertaça da Arábia Saudita escapar-lhe entre os dedos, num fervoroso duelo frente ao Al-Ahli que terminou empatado a duas bolas e decidido nas grandes penalidades. Cristiano Ronaldo marcou, atingiu a marca redonda de 100 golos com a camisola do clube, João Félix também não tremeu da marca dos onze metros, mas a glória foi para os homens de Matthias Jaissle.

Um início de afirmação

O jogo tinha um sabor muito especial para Cristiano Ronaldo. Aos 40 anos, o capitão da Seleção Nacional soma números impressionantes no futebol saudita, mas os títulos têm escapado. Apenas uma Taça das Associações Árabes enfeita a vitrina do craque português ao serviço do Al-Nassr, e esta final era encarada como a oportunidade ideal para quebrar o enguiço. Jorge Jesus, tricampeão da Supertaça no passado, montou uma equipa ofensiva, com Ronaldo na frente, Félix nas suas costas, Coman à direita e Wesley, jovem brasileiro de 20 anos, a render Mané, ausente por castigo.

Desde cedo, o Al-Nassr foi dono do jogo. Os primeiros 20 minutos foram um autêntico cerco à baliza de Édouard Mendy, guardião do Al-Ahli. Todos os homens da frente tiveram o seu momento e Ronaldo até tentou um pontapé de bicicleta, mas a bola saiu à figura do guarda-redes senegaçês. O Al-Ahli, por seu turno, procurava explorar as costas da defesa, com Galeno em particular destaque na velocidade e nas transições rápidas.

A marca do capitão

Aos 38 minutos, a justiça parecia finalmente sorrir ao Al-Nassr. Mão na bola de Majrashi dentro da área e penálti assinalado. Na marca dos 11 metros, Cristiano Ronaldo foi irrepreensível. Bola para um lado, Mendy para o outro, 1-0 no marcador. Golo histórico, o 100.º de Ronaldo ao serviço do clube, em apenas 113 jogos. É impressionante a quantidade de golos que o capitão da Seleção portuguesa soma aos 40 anos.

Mas o futebol raramente se faz de linhas retas. Já no quinto minuto de compensação, Enzo Millot, com um bom lance indiviudal, abriu caminho para Franck Kessié, que atirou colocado de fora da área. A bola ainda desviou em Simakan, mas sem hipóteses para o brasileiro Bento. Estava feito o 1-1 ao intervalo, com um golaço do costa-marfinense. Um empate injusto para o domínio do Al-Nassr.

Emoções até ao fim

A segunda parte trouxe menos clarividência e mais faltas. O jogo partiu-se, a luta cresceu e as oportunidades estiveram em falta. Mas aos 70 minutos, o coração dos adeptos do Al-Nassr gelou. Al Buraikan, sozinho, atirou ao poste, perdendo o que podia ter sido o 2-1 para o Al-Ahli.

O castigo para os visitantes surgiu do outro lado. Aos 82 minutos, Marcelo Brozovic aproveitou uma falha defensiva e atirou colocado, sem hipótese para Mendy. Era o 2-1, e parecia a sentença. Mas o futebol, mais uma vez, guardava uma mudança inesperada no rumo do encontro. Aos 88, após canto, Roger Ibañez aproveitou a passividade da defesa e a má saída de Bento para restabelecer a igualdade. 2-2 e prolongamento negado, pois haveria apenas penáltis.

No desempate na lotaria das grandes penalidades, quase todos marcaram menos um. Ronaldo e Félix marcaram os seus penáltis, como que a exorcizar o fantasma do Europeu, onde o avançado português de 25 anos falhara frente à França. No último penálti do Al-Nassr, Mendy defendeu uma a cobrança muito mal batida por parte de Khaibari, que falhou para o Al-Nassr e, com frieza, um conhecido de todos os portugueses, Galeno, fechou as contas. 5-3 nas grandes penalidades.

O peso da derrota

Assim, Cristiano Ronaldo ficou a um passo de erguer um grande título com o Al-Nassr. A equipa que mais atacou e mais procurou a vitória saiu derrotada. Jorge Jesus, apesar do trabalho visível na organização defensiva e no espírito coletivo, viu escapar um troféu que parecia ao alcance. O Al-Ahli, liderado por Mahrez, Toney, Kessié e um inspiradíssimo Galeno, conquistou a primeira taça da época.

Para o Al-Nassr, fica o amargo. Mas também a certeza de que, com esta fome de Ronaldo, com a qualidade de Félix, Coman e Brozovic, e com a mão experiente de Jorge Jesus, haverá ainda muito campeonato para escrever. A qualidade defensiva da equipa e a forma como todos os jogadores contribuem no processo defensivo é um bom presságio para o resto de época do conjunto de Riade.

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