«Flamengo? Nem no Benfica vi uma emoção assim»
- Comecemos pela atualidade: está preocupado com mais uma lesão do Pedro e a ausência dele na final da Taça dos Libertadores?
- Preocupa-me perder jogadores numa fase tão decisiva da época. Ainda por cima um jogador como o Pedro, que é um goleador, é óbvio que preocupa, mas não vamos baixar os braços nem chorar sobre leite derramado. E temos confiança plena no treinador para encontrar soluções para suprir quaisquer ausências.
- Em resumo, ainda antes do fim do Brasileirão e da Libertadores, como avalia a experiência no Flamengo?
- Num ano em que mudou a gestão, mudaram também alguns paradigmas e há sempre alguma resistência a algumas coisas que trouxemos para dentro do clube. Estamos a construir um novo ciclo e chegar a esta fase e estarmos à frente no Brasileirão e na final da Libertadores, tenho de considerar positivo e motivo de orgulho. Isto sabendo que, no final, o resultado é o que conta e a opinião pública depende muito disso. Mas a minha avaliação é que foi um ano positivo em todos os aspetos.
- O que mais o surpreendeu no futebol brasileiro pela positiva?
- Em Portugal nós seguimos muito o futebol brasileiro e eu, também pela atividade que tenho desenvolvido, já seguia muito o mercado brasileiro, pelo que não era um campeonato desconhecido para mim. Mas surpreendeu-me a qualidade de jogo e a densidade competitiva que existe aqui, que é uma coisa surreal. Além disso, o aspeto tático é mais evoluído do que aquilo que as pessoas na Europa pensam.
- E pela negativa?
- O futebol no Brasil é muito emocional e isso choca muito com a gestão dos clubes, que tem de ser racional. Na Europa já se percebeu que essa gestão tem de ser racional, aqui ainda é muito emotiva, muito feita de fora para dentro, e isso foi não apenas aquilo que me surpreendeu mais, como também uma das maiores dificuldades, sobretudo ao tentar manter a racionalidade em momentos de grande emoção, seja pela positiva ou pela negativa.
- O Flamengo é o maior clube em que já trabalhou?
- Todos os clubes têm a sua grandeza, seja a nível local, regional, nacional ou até mundial. Eu tive a sorte de ter trabalhado sempre em clubes que têm a sua grandeza. Se olharmos para os 45 milhões de adeptos, a mobilização de praticamente um país, e os vários órgãos de comunicação social que falam diariamente sobre si, então o Flamengo é claramente o maior clube onde estive. Por outro lado, a emoção e a forma como as pessoas vivem o Flamengo, quase como uma religião, isso nunca tinha visto em lado nenhum. Uma emotividade e um culto que nunca tinha visto, nem no Benfica, que também é um clube gigante.
- Falemos de mercado: a contratação de Juninho vem sendo alvo de algumas críticas. Considera, passado este tempo, que foi uma boa opção?
- O Juninho foi a opção de mercado possível na altura que foi, foi um jogador que, cada vez que foi chamado a participar, teve atuações positivas e golos decisivos, na Libertadores, no Carioca e no Brasileirão. É óbvio que as pessoas esperam sempre que qualquer jogador contratado seja titularíssimo e que marque 50 golos, mas nós sabíamos para o que é que ele vinha e ele está a cumprir os objetivos, estamos satisfeitos com a contratação.
- É verdade, como disseram os jornais, que ficou desgastado por, afinal, não contratar o irlandês Mikey Johnston, vetado pela direção?
- O Mikey era um jogador indicado pelo nosso scouting e que eu e o treinador aprovamos e que tinha as características que nós precisávamos. Agora, ficar desgastado não me pareceu, até porque o presidente sempre me apoiou. Se fiquei chateado? Fiquei, mas eu também percebo as hierarquias, percebo a dinâmica do clube, eu não sou nem dono nem presidente e há alguém que está acima de mim e tem todo o direito de vetar qualquer decisão. Ele achou por bem fazê-lo, não concordei na altura mas aceitei e seguimos em frente.
- O De La Cruz é negociável?
- Todos os jogadores são negociáveis, desde que seja pelo preço que nós achamos correto. Neste momento não pensamos em negociar o De La Cruz.
- Erramos por muito se dissermos que o Flamengo procura para 2026, como prioridades, um guarda-redes para concorrer com o Rossi, mais um 9 e um central canhoto?
- Adotei uma estratégia no segundo mercado de transferências, que foi fazer as coisas pela calada, em segredo, porque com a exposição que o Flamengo tem, saírem muitas notícias sobre o que procuramos prejudica claramente o negócio. E como vocês puderam ver, na última janela de mercado europeu, fomos fortes e fizemo-lo em absoluto sigilo. Vamos fazer igual na próxima.
- Há interesse em alguém do futebol português? Ou em algum português fora de Portugal?
- Os jogadores portugueses são neste momento jogadores de grande nível e de grande mercado, e como é óbvio são sempre jogadores interessantes. Temos nas nossas ideias alguns jogadores portugueses mas se eles querem vir, se nós temos capacidade para os ir buscar ou se são a necessidade que temos nesta altura, isso não posso divulgar.
- A tendência dos gigantes brasileiros é continuar a vender cada vez mais talentos ou podem passar a ser até mais compradores?
- O Brasil sempre foi e sempre será um exportador de talentos. O Flamengo é um caso um pouco à parte porque nós temos alguma capacidade financeira, como se viu na última janela de mercado, onde fomos buscar vários jogadores à Europa. Acho que isso abre também portas a que possamos atacar outros mercados que não são tão normais para os clubes brasileiros, mas é claro que a exportação e a venda de jovens jogadores faz sempre parte da vida de um clube brasileiro. No último mercado, o Flamengo vendeu cerca de 70 milhões de euros em jogadores, e gastou cerca de 50, por isso há um balanço bastante positivo.