Rodrigo Mora fez o passe, Samu fez o 1-0 (Foto: Rogério Ferreira/KAPTA+)
Rodrigo Mora fez o passe, Samu fez o 1-0 (Foto: Rogério Ferreira/KAPTA+)

O que era limpo e translúcido terminou na margem mínima (crónica)

O Malmo era tenrinho e, pouco a pouco, com calma a serenidade, o FC Porto foi trucidando os suecos. Podia ter havido maior diferença e o autogolo de Francisco Moura, aos 90+4, dá a errada sensação de equilíbrio

O jogo era uma espécie de pescada: antes de ser já o era. Antes do triunfo do FC Porto se consumar, já se sabia que ia acontecer. Por diversas razões. A começar, desde logo, pela diferença de qualidade entre os jogadores. Passando depois pelo ritmo de ambas as equipas, pois o Malmo, nos últimos dois meses, excluindo a Liga Europa, não joga desde o início de novembro. Por fim, o próprio percurso dos suecos na Liga Europa: 5 jogos, um empate, quatro derrotas, 2-10 em golos. Adversário mais tenrinho, sinceramente, só se fosse o Maccabi Telavive ou o Nice. E só um autogolo bem ingrato de Francisco Moura transformou um triunfo limpinho e translúcido numa vitória pela margem mínima.

Dessa fragilidade não tinha culpa o FC Porto. Se era muito mais forte, depressa a superioridade viria ao de cima. E veio. Antes, porém, houve dois calafrios junto de Diogo Costa. Skogmar obriga o guarda-redes a defesa apertada (9’) e Kiwior saiu mal com a bola, perdeu-a para Busuladzic, obrigando o número 99 a nova defesa complicada (12’). Supôs-se que, afinal, a teoria da debilidade nórdica pudesse estar errada. Não estava. Era apenas fogo-fátuo.

Logo a seguir, o vento mudou e o Malmo não voltou. Rodrigo Mora começou a ter mais bola e, quando o menino, adulto há pouco mais de meio ano, tem bola à disposição, a coisa complica-se para quem está do outro lado. Pouco antes da metade da primeira parte, o número 86 pegou na bola, dançou com ela, progrediu com ela, namorou com ela e, quando lhe apeteceu, colocou-a na esquerda, bem à mercê do pé direito de Borja Sainz. O remate do espanhol saiu forte, mas apenas relativamente colocado, pois Olsen esticou os seus quase 200 centímetros e desviou pela linha de fundo. Era o primeiro grande sinal de perigo.

O segundo veio logo a seguir. Pepê abre, de forma soberba, para a corrida de Samu, o espanhol tenta picar a bola sobre Olsen, mas este volta a esticar-se e volta a evitar o golo azul e branco. Em cima da hora de jogo, por fim, o golo. Mora recebe a bola sobre a esquerda, quase junto à linha de fundo, volta a dançar e a namorar com ela e, de novo, quando lhe apeteceu, cedeu-a a Samu. A cabeça do avançado portista, bem lá no alto, fez o resto. E o resto era colocá-la no fundo das redes do Malmö.

O FC Porto chegava à vantagem. Mas teve, logo de rajada, novo susto, quando Pablo Rosário fez atrasado arriscado para Diogo Costa e este sentiu inesperadas dificuldades para controlar a bola com os pés, com Haksabanovic perto de empatar. Três minutos depois, bola em Pepê, cruzamento do brasileiro, ligeiro desvio de um adversário, bola na esquerda em Borja Sainz e a cabeça do espanhol mete-a em Samu. O 9 roda sobre si próprio e dispara para o 2-0.

Estávamos no minuto 36 e até ao intervalo, excluindo cabeceamento de Froholdt a sair ao lado após cruzamento de Mora, nada mais de interessante.

A vencer por dois golos de diferença frente a adversário sem capacidade para criar perigo junto de Diogo Costa, a não ser por erros portistas, Francesco Farioli não esperou muito para mexer no onze e, aos 57’, trocou Samu e Mora, importantíssimos na vantagem dos dragões, por Denis Gul e Eustáquio. A ideia, presumia-se, era dar descanso a Samu, mas não à defesa sueca (entrada de Gul); dar descanso a Mora, mas fortalecer fisicamente o meio-campo portista (entrada de Eustáquio).

Em cima dos 70 minutos, mais trocas de Farioli. Agora em todo o lado direito: Martim Fernandes por Alberto Costa e Pepê por William Gomes. A seguir, até aos 80’, quase um vácuo no jogo. Nada de interessante, nada de empolgante. Só aos 83’, houve emoção. Cabeça de Froholdt para defesa de Robin Olsen e, no seguimento da jogada, William mete em Gul e este desvia forte e colocado. Porém, Olsen volta a impressionar com desvio por instinto. Alarcon ainda remata forte com o guarda-redes a impor-se e, instantes depois, novo tiro do espanhol, agora para fora. Por fim, aos 90+4’, jogada para os apanhados: Alberto desvia de cabeça para a zona onde estava o norueguês Botheim, a bola vai ao poste esquerdo, volta para dentro onde encontra o corpo de Francisco Moura. Ingrato autogolo a transformar o tal triunfo limpinho e translúcido na tal vitória pela margem mínima.