Falta à Seleção pensar como um grande

Fernando Santos sabe de futebol mas tem de se adaptar à modernidade do mundo que exige espetáculo, para lá do resultado conveniente

HÁ uma elogiável vocação de modernidade na Federação Portuguesa de Futebol, que vai muito para além dos resultados desportivos e financeiros obtidos pela Seleção Nacional. Por isso se tem tido em devida conta a marca Seleção. Uma marca que tem apresentado um valor crescente e que se coloca no mercado internacional como sendo uma das melhores do mundo. Daí que não seja obviamente indiferente empatar zero a zero ou ganhar por cinco a zero. Das duas uma: ou ainda ninguém explicou a Fernando Santos que, a partir de certo nível, a exigência é maior do que a do resultado e a da simples qualificação para fases finais, ou Fernando Santos ainda não se habituou à modernidade do futebol e do mundo. 
O mesmo mundo que se extasia com os sucessivos recordes de Cristiano Ronaldo, que tanto inclui o avassalador número de golos, como o número de internacionalizações, como, não menos importante, os 500 milhões de seguidores nas suas redes sociais.
O mundo está a mudar e, com ele, o futebol. Temos a felicidade de ter uma equipa que pode garantir resultados que nos levam aos maiores palcos, mas não podemos deixar de ter como fundamental objetivo fazer grandes espetáculos nesses palcos e tornar o gosto de ver esta equipa jogar futebol verdadeiramente universal.
Percebe-se, assim, sem qualquer dificuldade, que Fernando Santos está errado. Não quero entrar nas questões táticas, que disso saberá ele muito mais do que eu, mas na lógica pequenina de que para passar basta o suficiente menos e, assim, tanto vale um zero a zero como ganhar por cinco. É errado e é perigoso que o selecionador nacional assim pense, a não ser que o seu discurso não seja coerente com a sua anunciada e publicada convicção de que esta equipa pode sempre ganhar tudo e ganhar a qualquer um.
Para ser verdade, é necessário que a equipa não fique tão longe da soma das suas parcelas. Cada jogador vai valendo menos na Seleção, cada jogador vai ficando mais longe do que os seus ídolos ambicionam ver. Há, pois, que encontrar explicações objetivas e credíveis.
Muitos analistas acham que a equipa está demasiado condicionada a uma filosofia resultadista que leva a uma prática recorrente de que a equipa atinge os seus objetivos com a mentalidade de jogar cada jogo à dimensão exata das suas imediatas necessidades. É menor, para uma Seleção tão valiosa, e é perigoso, porque nem sempre as contas ficam certas.
É verdade que, com esta mesma mentalidade de equipa pequena-média do futebol mundial e por isso tão longe da lógica dominadora de uma Alemanha, uma Espanha ou uma França, Portugal alcançou títulos nunca antes alcançados. Mas até por isso é preciso entender que esses títulos têm de ser defendidos não apenas com a simples garantia de acesso aos melhores palcos, mas com o objetivo de sabermos usar esses palcos para mostrar a virtuosa qualidade   do nosso futebol e a particular magia dos seus jogadores. E hoje, acreditem, dar ou não dar um espetáculo de qualidade universal faz toda a diferença, em tempos em que a oferta é muita e diversa.
Definitivamente, alguém tem de explicar a Fernando Santos, a quem todos os portugueses estão agradecidos por tudo o que alcançou pela Seleção, que não deve transmitir aos jogadores a ideia de que é sempre preciso fazer cálculos matemáticos e psicológicos em cada jogo para se conseguir chegar daqui até ali. Ou porque basta empatar, ou porque o jogador com cartão amarelo está em risco, ou porque o rapaz, apesar de virtuoso, deve descansar. É preciso continuar a saber de futebol, sem perder o contacto com o mundo.
 


Fernando Santos, selecionador nacional 


BRUNO E A TRAGÉDIA CÉNICA 

Bruno de Carvalho reapareceu das cinzas do tempo e do seu insuportável esquecimento. Usou, por isso, as redes sociais, atirando pela janela a sua mobília sportinguista. Achou que essa seria a única maneira de ainda alguém olhar para ele e dizer: olha, o Bruno de Carvalho está vivo. Estava. No entanto, a tragédia cénica que trouxe à cena desabou estrondosamente sobre a sua própria cabeça. Até mesmo os minoritários, que admitiam ter sido injusta a sua expulsão de sócio, se sentem traídos. Além de esquecido, ficará só.  


UM MINISTRO DESCONFIADO 

Havia indícios de corrupção, tráfico de diamantes, de ouro e de droga que implicavam as forças armadas portuguesas em missão das Nações Unidas na República Centro Africana. O ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, recebeu a notícia, deu conta à ONU e fechou-a no cofre, à espera do resultado das investigações. O Presidente da República, comandante supremo das forças armadas, jura que não sabia de nada. O primeiro-ministro, seu chefe no Governo, jura que também não. É difícil alguém ter mais desconfiança nas instituições do Estado português.