Falhar Jota Silva foi um… milagre
O Sporting é o grande derrotado deste início de época. A usarem os galões de bicampeão e ainda com o prémio-extra da dobradinha, os leões têm, obviamente, grandes expectativas, mas sofreram um duro golpe nos últimos dias. Melhor: dois. Não chegava a derrota caseira no clássico, a primeira na Liga na era Rui Borges, ainda se juntou um final de mercado difícil de qualificar.
A lacuna no ataque está há muito identificada. Tanto que esta era já uma das prioridades de… Ruben Amorim. Há ano e meio — imagine-se! — que os leões procuram um extremo destro, que jogue pelo flanco esquerdo. A tão em voga estratégia do pé trocado. Com Geny Catamo, Quenda e Trincão, todos esquerdinos, para atuar no corredor oposto, as opções para a direita resumem-se, basicamente, a Pedro Gonçalves. O que é manifestamente pouco e muito… arriscado. Basta recordar a temporada transata e a lesão prolongada de Pote.
Biel foi um tiro ao lado e já foi, entretanto, recambiado. Alisson Santos, a aposta seguinte, também ainda não mostrou arcaboiço para disputar o lugar.
Rui Borges bem tem tentado disfarçar o problema. Quenda foi a alternativa em 2024/2025 e neste arranque o treinador resolveu improvisar, nomeadamente, nos dois grandes duelos, com Benfica e FC Porto. Em desvantagem no marcador em ambos os jogos, as duas últimas cartadas foram… Ricardo Esgaio (Supertaça) e Alisson Santos (clássico). Sintomático.
Os leões deixaram arrastar a situação e tudo foi adiado para o último dia. Já pressionados pela hora de fecho do mercado e com mais de uma situação por resolver — a saída de Harder transformou-se também numa novela —, o que transpareceu foi uma grande hesitação, para não lhe chamar outra coisa, já que a situação financeira está no verde, o que facilita sempre qualquer negociação.
Yeremay, que era a prioridade, manteve-se no Corunha, com os leões a sonharem demasiado tempo com o sim, quando da Galiza só ouviam o não e o brasileiro Kevin, pelo qual a Administração esteve disposta a cometer uma autêntica loucura, acabou por assinar o que tinha apalavrado com o Fulham.
Jota Silva, que era, como já referi neste espaço, uma boa opção — o avançado é muito competitivo e versátil, o que lhe permite desempenhar qualquer posição no ataque — ficou então isolado, mas falhou por um minuto e considero que a incompetência do Sporting foi salva por um autêntico… milagre.
Bem podem os leões argumentar com a excentricidade do proprietário do Nottingham Forest, o multimilionário grego Evangelos Marinakis, clube ao qual o internacional português está vinculado, mas é difícil compreender como uma negociação de dois meses falhou por um minuto. E uma negociação relativamente simples, na minha ótica.
Jota Silva trocou o V. Guimarães por Inglaterra a troco de sete milhões de euros fixos, mais cinco em variáveis. Um ano depois e após não se afirmar na equipa — titular em apenas nove dos 38 jogos em que foi utilizado — não poderia ter-se valorizado, pelo que sempre pensei que se reencontraria com Rui Borges, até porque esse era o desejo do avançado.
Contudo, só pelo atraso de um minuto no envio da documentação para a Liga não regressou a Portugal avaliado em 20 milhões de euros! Sim, leu bem, 20 milhões: taxa de empréstimo de 4,5 milhões e opção de compra de 15,5 milhões! Um valor superinflacionado, até por se tratar de um provável suplente.
Contas feitas, Rui Borges vai ter de esperar até janeiro pelo tão esperado reforço e rezar para que a Administração o contrate. Até lá, terá de continuar a improvisar, seja com Nuno Santos, próximo de recuperar da lesão a 100 por cento, seja com a subida de Maxi Araújo de lateral para extremo, mas em ambos os casos estamos a falar de mais dois esquerdinos, seja com a promoção de Flávio Gonçalves, extremo destro de 18 anos, que é, de momento, o maior talento da Academia. Não ficarei surpreendido se em breve for lançado. Há males que podem vir por bem. Também neste caso.
Há, contudo, marcas que ficam e estas o Sporting vai ter dificuldades em apagá-las. Dentro de campo ver-se-á como reage nos próximos jogos e fora dele Frederico Varandas começou ontem a tentar minimizá-las, optando por valorizar quem continuou. Percebo a estratégia, mas o certo é que até a comunicação do clube não foi nada feliz neste defeso.