Eliminação na Taça trouxe muitas críticas ao português
Eliminação na Taça trouxe muitas críticas ao português

Esquece lá o passado, Abel

A tolerância para com o melhor treinador da história do Palmeiras terminou no momento em que lhe deram um dos melhores planteis do Brasil. Agora, a bola está do seu lado e tem de sair a jogar

Há algo que ninguém pode tirar a Abel Ferreira. Está na história do Palmeiras, ao quebrar à primeira a maldição de Jorge Jesus sobre portugueses e a Libertadores e acumular múltiplos troféus a partir daí. E não foi só uma página de um livro gigante, aponta-se-lhe, há muito e com mérito, o estatuto de melhor de sempre do clube paulista.

Manteve depois a competitividade quando não havia possibilidade de investimento e jogadores importantes saíam. Garantiu sempre andar na luta pelos principais troféus e, ao mesmo tempo, que o seu nome permanecesse intocável, com o tal contrato só à espera de ser assinado, ainda que com uma ou outra ameaça pelo meio em voltar a casa. Aqui entre nós, que ninguém nos ouve, a cerca de 8000 quilómetros de Portugal, assegurou que as portas de Benfica, Sporting e FC Porto permaneçam abertas para um futuro próximo. Faça isso pouco ou muito sentido, mediante o contexto atual ou até pelas diferenças que normalmente existem entre o seu modelo de jogo e aquele que se espera ver das bancadas dos principais estádios do país.

Hoje, no entanto, crescem sinais de insatisfação dos adeptos, com a presidente Leila Pereira a ter de garantir que a aposta em Abel é inequívoca, mesmo pressionada por sempre abomináveis atos de violência. O cenário mudou. O técnico, numa conferência de imprensa no final de julho, lembrava, de forma quase premonitória: «Estou aqui porque ganhei. Se não ganhar, posso ir embora.» É que Abel, de facto, já não ganha há algum tempo e, agora, é mais ou menos consensual que tem o melhor plantel de todo o Brasileirão, a par talvez do Flamengo. Ainda que sempre competitivo, o seu Palmeiras denota as mesmas dificuldades do que quando lutava contra as adversidades: falta de criatividade no ataque, pouca presença na área e poucos golos marcados. Para os adeptos, excessos à parte, começa a não ser suficiente.

O passado já pouco importa e Abel Ferreira sabe isso melhor do que ninguém. É a vida de um treinador. E ao elevar o Palmeiras bem até ao topo ficou também ele próprio vítima do seu sucesso. Não deve haver adepto que não exija títulos para este ano e o sinal que lhes chegou da eliminação na Taça do Brasil não foi nada positivo.

A Abel não restará mais do que tentar sair um pouco fora da caixa e melhorar o nível do seu jogo. Já disse que não joga bonito, mas sim para ganhar. Porém, até isso tem provar em campo.