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Dar carinho aos refugiados através do futebol

Estádio Municipal do Bravo recebeu um evento especial, um jogo entre refugiados e parceiros, onde o resultado foi o menos importante. Muitas nacionalidades juntas, num desporto universal. O futebol foi utilizado, mais uma vez, para arrancar sorrisos.

Albano Narciso Pereira foi um dos Cinco Violinos do Sporting, ao lado de Jesus Correia, Vasques, Peyroteo e Travassos. E foi no Estádio Municipal do Bravo, no Seixal, na rua com o nome do avançado leonino das décadas de 40 e 50 do século passado, que se realizou este fim de semana um evento que marcará para sempre a vida de muita gente: refugiados acolhidos em Portugal, jovens futebolistas do Seixal e também quem assistiu ao jogo ‘refugiados vs. Parceiros’. O Crossport foi um dos parceiros deste evento solidário, tal como o Seixal FC e a Cruz Vermelha.

Objetivo: arrancar sorrisos

Hugo Rodrigues é presidente do Seixal desde 2020 e explicou a A BOLA como começou este projeto: «Este convite surgiu porque o Seixal, no seu todo, é um projeto social e demarcarmo-nos dos projetos restantes da nossa zona. Temos um projeto que se chama Bola Mágica e que já começa a ser reconhecido nacionalmente. Trabalhamos na inclusão, neste caso de refugiados. Como já temos este trabalho de três anos, surgiu o contato do ICSS (International Center for Sport Security) para integrar este projeto europeu, o Crossports, tendo em conta o trabalho realizado por nós. É para isto que a família seixalense trabalha diariamente, para prestar o equilíbrio que todos os clubes devem prestar».

 No pós-evento, com muita alegria e golos à mistura, o presidente do Seixal mostrou-se muito satisfeito com o resultado: «Quando conseguem arrancar sorrisos, quando os pões no rosto, é lógico que ficamos satisfeitos. Este evento poderá ser o pontapé de saída para um evento maior que vamos fazer a nível nacional ou até mesmo a nível internacional». Apesar de muito satisfeito com o evento, Hugo Rodrigues aproveitou para alertar: «Na parte burocrática, para inscrever os refugiados é sempre muito complicado; Penso que com este tipo de trabalho, que tem destaque na imprensa, podemos ultrapassar alguns degraus. O CrossSports serve também para ultrapassar barreiras e cruzar fronteiras». 

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Relativamente ao futuro, o presidente do Seixal mostrou-se muito confiante: «O projeto já existia e funciona em Itália pela SS Lazio, em Espanha pelo Sevilha e agora em Portugal com o Seixal. Há ideias muito simpáticas, vamos criar bases para realizarmos um evento ainda maior, um torneio de jovens refugiados.».

A força do desporto 

Paolo Casilli está em Portugal há mais de uma década e é o coordenador do evento. «É um projeto-piloto financiado pela União Europeia e visa criar oportunidade de inclusão e acolhimento de refugiados nas comunidades. Portugal, Itália (Lácio), Espanha (Sevilha) e Grécia (Trégua Olímpica) participam nele, através do desporto. Representa uma organização global não governamental, que tem como visão a promoção do esporte. Criamos grupos de trabalho, parceiros e tentamos juntar o esporte e as ONG's que trabalham na inclusão de refugiados. Este evento no Seixal mostrou bem a força do desporto», começou por explicar.

 «Há dois dias assinámos um protocolo com a Universidade do Porto para criar um pacote educacional, que visa treinar duas figuras; um líder comunitário para a inclusão social do esporte, mas também uma figura, a que chamamos ativista, que pode utilizar essas novas ferramentas para promover a inclusão. Este é o nosso próximo passo e é muito importante. O objetivo é a inclusão, para não excluir os imigrantes e que a partir do esporte possa encontrar uma grande oportunidade de conhecer novas pessoas e criar amizades; é um aspecto fundamental», concluiu.

Linguagem universal

Paulo Mota pertence à Cruz Vermelha Portuguesa e mostrou-se muito feliz com a realização deste evento. «As espectativas foram superadas. Quando a Cruz Vermelha se junta a este evento, um dos nossos focos é o trabalho com jovens refugiados. O futebol é uma ferramenta de inclusão e os parceiros também. O futebol é uma linguagem universal, tal como a gastronomia, a arte ou a música; todos têm uma linguagem universal. O futebol é uma desculpa, pois toda a gente gosta de futebol. Já participamos em eventos deste passado e queremos repetir no futuro», explicou.

O sonho das meninas

O futebol feminino está em crescendo no nosso país e os mais jovens já sonham em ser profissionais, algo que há uns anos seria impossível. A Seleção marcou presença no último Mundial e, muito recentemente, venceu a Noruega, que é a 12ª do ranking da FIFA. 

Ana Alves é defesa-central e tem 17 anos. Trocou a dança pelo futebol e adora Kika Nazareth: «Gostei muito de participar neste evento. Foi bastante bom e deu para conhecer outras pessoas, pois não houve qualquer pressão e divertimo-nos muito. Foi muito engraçado e bom também para praticar o inglês. Eu fazia dança, mas, devido à pandemia, quis procurar um desporto ao ar livre e o futebol foi aquele que me pareceu mais interessante. Comecei a jogar, ganhei um carinho especial pelo futebol e agora já não consigo parar. Gosto muito das jogadoras do Benfica, principalmente da Kika, mas também gosto da Carole, porque é onde eu jogo também. E Andreia Norton também é uma ótima jogadora», explicou.

Matilde Basílio é avançada e média ofensiva e tem 15 anos. «Foi um enorme orgulho e sinto-me feliz por representar o Seixal feminino e sempre evoluir como jogadora e pessoa. Jogo há quatro anos e estou há dois no Seixal. A minha referência é Kika, tem enorme potencial», adiantou. 

Filipa Horta tem 14 anos e joga um pouco por todo o campo. «Foi bom, gostei muito de participar e de jogar pelo Seixal. Jogo há sete anos. Identifique-me com a Kika e com a Jéssica Silva. O meu maior sonho é ser jogadora profissional», atirou.

Aliviar o desespero e o sofrimento dos refugiados 

O projeto CrossSport (Crossing the Boundaries through Sport) é, como está documentado no site oficial, «uma parceria transeuropeia que promove a inclusão e a integração de jovens refugiados através do desporto, estabelecendo mecanismos colaborativos entre diversas plataformas, com o objetivo de capacitar as organizações desportivas e conectá-las com organizações de desenvolvimento social focadas na integração». 

O projeto tem origem nos desafios que os fluxos migratórios atuais colocam em quatro países selecionados: Grécia, Itália, Portugal e Espanha. O lançamento oficial do CrossSport ocorreu durante a Semana Europeia do Desporto, a 30 de setembro, em Lisboa. No que diz respeito à iniciativa de proteção dos jovens através do desporto, os esforços neste domínio são realizados através da Save the Dream, que «implementa e promove projetos para capacitar os jovens através do acesso seguro ao desporto e aos seus valores educativos e sociais». Para conseguir um envolvimento direto dos refugiados e das comunidades de acolhimento, está prevista a criação de uma rede colaborativa em Portugal, Espanha, Itália e Grécia entre dois tipos diferentes de organizações especializadas. 

As relacionadas com o desporto e as organizações sociais envolvidas na inclusão e integração de refugiados. Por meio de iniciativas esportivas e culturais, a Fundação promove estilos de vida saudáveis ​​centrados na atividade física, na sustentabilidade ambiental, na saúde e na nutrição, na inclusão social e na integração contra todas as formas de discriminação e marginalização; e bem-estar comunitário com a divulgação de atividades culturais de interesse social e com fins educativos.

 «Quando apresentámos o nosso projeto à União Europeia, o mundo e a Europa em particular eram muito diferentes. Estávamos nos concentrando principalmente nos fluxos de refugiados do Médio Oriente e do Norte de África em direção à Europa. Os atuais 7,5 milhões de refugiados da Ucrânia, a maioria mulheres e crianças, ainda vivem em suas casas e em segurança. Porém, o poder do desporto permanece igual e, em conjunto com os nossos parceiros, as fundações de Sevilha e da Lácio, bem como a União Europeia e o IOTC (International Olympic Truce Committe), estamos determinados a fazer dele o melhor uso possível para aliviar o desespero e o sofrimento a que os refugiados estão expostos. É isso que o projeto CrossSport pretende alcançar», sublinhou Massimiliano Montanari, CEO da ICSS (organização global,