Roberto Martínez, selecionador nacional
Roberto Martínez, selecionador nacional - Foto: IMAGO

Críticas «injustas», evolução e líderes além-CR7: tudo o que disse Roberto Martínez

As palavras do selecionador de Portugal após o apuramento da Seleção para o Mundial-2026, com uma goleada à Arménia (9-1)

—Foi uma resposta cabal após a derrota na Irlanda. O que é preciso para manter esta fome até e durante o Mundial?

—A atitude e foco dos jogadores foi total. Durante o intervalo com a Hungria [em outubro] estávamos apurados. Foi muito difícil gerir o aspeto psicológico da equipa. O aspeto de poder gerir a sensação de não poder perder. O nosso desempenho com a Irlanda mostrou falta de assertividade, alguma dúvida. Hoje, a resposta foi focar e sermos melhores do que a Arménia. E ganhar. Ganhámos 10 jogos seguidos no caminho para o Euro-2024 e a equipa não estava preparada como está agora. Os desafios ajudam a crescer, não há muito tempo com as seleções. A reação e o que sentimos depois acrescentou muito àquilo que este balneário pode fazer. Não há problema de falta de fome e de golos, há o problema de poder gerir o aspeto psicológico que acontece.

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 —Que balanço faz deste fase de apuramento?

—Temos o aspeto de ter o apuramento no saco. Precisamos de saber porque é que não conseguimos vencer a Hungria e a Irlanda. É isso que é importante. Frente à Hungria, deixámos de jogar nos últimos 20 minutos, deixámos que a Hungria empatasse. Não foi falta de atitude ou falta de aspeto tático, foi o quere já ir ao Mundial. Na Irlanda acontece o mesmo. Tive a minha primeira derrota em 43 jogos de fases de apuramento Mundiais e uma derrota que não posso explicar pela parte técnica ou física. Posso explicar com vontade de ganhar o jogo e não saber como. É esse aspeto que ajuda a preparar a equipa para o Mundial. Quando nos apurámos para o Euro-2024, a equipa não tinha a resiliência necessária para ganhar títulos. Na Liga das Nações já foi diferente. Reagimos quando Alemanha marcou em casa, quando a Espanha marcou, e ganhámos o torneio. É onde estamos agora. Temos de preparar bem o Mundial. A expectativa é dar tudo e usar os valores do povo português no relvado. A Seleção faz isso com talento. Vamos tentar ganhar o Mundial. Nunca foi feito e não é fácil. Temos de estar juntos. Quero agradecer todo o carinho que recebemos no hotel do Porto durante o dia seguinte à derrota na Irlanda. Foi difícil e o carinho ajudou. As críticas que sofremos não são corretas, factos que não são factos, opiniões mal intencionadas e isso não ajuda a Seleção. Não merecemos a forma como fomos criticados após a Irlanda. Terminámos em primeiro, apurámo-nos sem calculadora. Agora, as críticas ficam no seu lugar.

 —De que forma olhou para a exibição do João Neves e para a estreia do Carlos Forbs?

—O golo de livre do João Neves tem piada, porque depois do treino de ontem foi o Bruno Fernandes que obrigou o João a bater as faltas. Esse golo mostra o ambiente que temos no balneário e na Seleção. Gostei muito da atitude do Carlos [Forbs], um jogador diferente, muito vertical, rápido, que consegue jogar nas duas alas. Para o nosso jogo, isso é muito importante. Quando o Pedro Neto começou a chegar à Seleção, tinha um papel muito importante. Agora, temos um jogador que pode fazer o mesmo. Não é fácil encontrar. Gostei muito da personalidade. É uma amostra do talento que temos na Seleção.

—Perante a ausência de Cristiano, como é que este jogo prova que outros jogadores podem ter mais tempo?

—Quando falamos de jogadores a nível individual, não falamos só sobre o Ronaldo. Temos um grupo com 25 jogadores de campo e todos trazem qualquer coisa diferente. Todos podem ser importantes. O Cristiano é sempre uma opinião pública. Quando o Cristiano marca golos, a pergunta é o que fazer quando não o tivermos. Quando não joga e ganhamos, pergunta-se: 'Quem precisa do Ronaldo?' Uma coisa é debate popular, outra é a competitividade que temos. Era importante ter liderança, hoje. A entrada do Bruno foi muito importante, o papel do Rúben Dias e do Bernardo também. Temos liderança que não é um só jogador. Há um grupo num momento muito bom. Marcámos nove golos, mas tivemos mais oportunidades. O melhor lateral-esquerdo do Mundo [Nuno Mendes] não jogou, o Pedro Neto jogou sempre desde o apuramento na Liga das Nações e não esteve… Temos uma equipa com muitas opções. É importante que consiga ganhar quando há jogadores que não estão connosco.

 —Como olha para a condecoração feita pelo Presidente da República?

—Quero agradecer ao nosso Presidente da República e ao primeiro-ministro. Foi um evento cheio de emoção, de orgulho por estar com a Seleção. Sinto-me mais preparado para tentar ganhar o Mundial.

 —Rúben Neves entrou para central e António Silva não teve minutos. Porquê?

—Utilizamos jogadores em posições diferentes. Era importante o Rúben jogar, é muito importante para nós. Os jogadores são muito polivalentes no nosso sistema. Já não há um ou dois jogadores por posição. Era mais para procurar outros padrões. O Dalot não entrou, o Trincão não entrou, o Palhinha também não. E mereciam. O selecionador e a equipa técnica tentam procurar padrões nos jogos que temos. Tentámos procurar o padrão com João Neves e Bruno como médios e o Rúben mais atrás.

—Como gerir a expectativa de adeptos que pedem mais um golo depois de serem marcados nove?

—Os adeptos pedirem mais um golo não é um problema… Quero agradecer a magia da Seleção no Dragão, é uma força incrível. Foi o terceiro apuramento que desfrutei aqui. Ajuda muito a ganhar jogos. Não é um problema. A equipa está a crescer, somos flexíveis taticamente, um processo que trabalhamos desde o primeiro dia. Temos de preparar bem o Mundial. É o meu terceiro Mundial, temos de prepará-lo em março e não nos dias antes do primeiro jogo.