Clubes grandes a treinar à frente de todos antes de um dérbi? Na Austrália, sim
Apesar de ser um clube grande na Austrália, o Melbourne Victory, à semelhança de muitos outros emblemas, não tem centro de estágio e treina ao lado do estádio, num sítio onde todos podem passar e ver as sessões de trabalho. O capitão, Roderick Miranda, explicou a A BOLA como foi a mudança em relação à forma como se trabalha, por exemplo, em Portugal e contou a vez em que, antes de um dérbi, o seu treinador perseguiu um adversário... com uma bola.
— Conte-me uma história fora do comum que tenha vivido aí na Austrália.
— O sítio onde nós treinamos é fora do estádio e é um sítio público, ou seja, as pessoas podem ver. Há comboios a passar, há carros a passar, há pessoas a passar. Qualquer um pode estar ali e ver o nosso treino completo. O que acontece nos dias antes dos jogos, principalmente antes de dérbis, é que alguém da equipa adversária está ali, dá uma voltinha, a passear, com o telefone, a ouvir. E já aconteceu termos, com diferentes treinadores, diferentes reações. Uma das mais engraçadas foi na época passada. No início, quando tínhamos cá o Patrick Kisnorbo. Desde altura em que jogava que ficou com marcas no joelho, então anda um pouco a mancar. Ele tinha estado no Melbourne City, ele viu alguém do Melbourne City — ou assumiu que era alguém do Melbourne City… — que são os nossos rivais. Ele parou o treino, saiu disparado do treino, a coxear com uma bola na mão, a tentar chutar a bola contra a pessoa, mas mandou a bola para o meio da estrada. Nós ficámos parados, toda a gente ficou incrédula, a olhar para o que se estava a passar. Saiu, ficou cinco minutos a refilar com a pessoa, voltou passado um bocadinho, a rir e disse: «Agora podemos continuar», e toda a gente ali, sem saber o que tinha acontecido…
— Todos os treinos são assim, abertos?
— Sim, no nosso clube temos essa questão. Quando estamos no estádio, já não, mas quando é cá fora, sim, é aberto. Alguns clubes têm o seu centro de estágio, já têm o seu próprio campo fechado, já ninguém pode entrar, mas muita gente acaba por ter espaços mais abertos, mais públicos, e pronto, e qualquer pessoa que passa por ali pode ver.
— O Roderick também já jogou, em Portugal, no Benfica, no Rio Ave e no Famalicão, ou em Inglaterra, no Wolverhampton. É uma realidade muito diferente? Como é que são os trabalhos de preparação, tendo em conta que esse trabalho pode estar a ser observado?
— É questão de hábito. Desde muito cedo que fui habituado a trabalhar com tudo fechado, sem ninguém a ver, e rapidamente aqui tive de me a habituar ao facto de ter pessoas ao lado. Às vezes estamos no treino e há fãs que passam e ficam a relatar o treino, a dizer coisas como «bom passe, bom remate, bom bloqueio, boa defesa». É quase como se fosse um jogo, quando as pessoas estão ao nosso lado nas bancadas a falar, o treino é um bocadinho igual. É tentar bloquear esse barulho exterior, tentar bloquear que estamos a ser observados, e tentar concentrar no treino.