Cláudio Braga: o 'famoso desconhecido' que quer fazer história no futebol escocês

Cláudio Braga é um dos famosos mais desconhecidos do futebol português. O ponta-de-lança, natural de Mafamude, tem feito bater forte os corações dos adeptos do líder inesperado do campeonato escocês: o Hearts, que não é campeão desde 1960. Se hoje ganhar ao Celtic, pode ficar com oito pontos de avanço sobre os católicos.

O craque, nascido em 1999, deu os primeiros pontapés na bola no Águias de Gaia. Passou depois pelas formações do Candal, Boavista, Paços de Ferreira e Rio Ave, mas, em entrevista a A BOLA, reconheceu que nunca foi uma grande promessa em nenhum.

A primeira experiência nos séniores foi na equipa B dos vilacondenses, nas distritais da AF Porto. No ano seguinte, saiu para o Valadares Gaia. Foi para o Fátima a meio dessa época (2019/20), onde as «coisas estavam muito a correr bem… até vir o covid». Seguiu no ano seguinte para o Ideal; e, no posterior, para o Vila Meã. Tudo equipas do Campeonato de Portugal.

Cláudio Braga foi deixando boa impressão onde passou. No entanto, as propostas de clubes de escalões superiores não chegavam. Eis que surgiu a oportunidade de ir para um clube da terceira divisão Noruega: «o meu empresário veio falar comigo, a dizer que tinha uma oportunidade, que podia parecer má, mas que podia ser boa no futuro. Disse-lhe logo 'és maluco'. Nem valia a pena falar mais comigo sobre isso, porque não fazia sentido sair de Portugal para ir para a terceira liga da Noruega.»

Só que, afinal, fazia sentido… e Cláudio Braga não sabia o quanto: «convenceram-me dizendo que o pior que me podia acontecer era eu chegar lá, não gostar e voltar para outra equipa do Campeonato de Portugal».

Na primeira época, o avançado ajudou o clube a subir para a segunda divisão. Na segunda época, foi o melhor marcador da equipa e foi dos melhore do campeonato. Então pensou: «pronto então agora que estou no 11 do ano da segunda liga, vou para uma primeira liga. Mas a única proposta real que apareceu foi o Aelesund, que tinha acabado de descer da primeira e queria investir tudo para subir.»

Cláudio Braga voltou a fazer má cara à nova aventura: «no início não queria ir, porque eu só queria a primeira liga. Mas o salário que ofereceram foi bom e as condições de um projeto futuro também acabaram por me convencer.»

Recentemente, o empresário inglês Tony Bloom, que detém o Brighton e o Union St. Gilloise, investiu no Hearts, com o objetivo de acabar com o domínio das equipas de Glasgow (Celtic e Rangers), na Escócia. Cláudio Braga foi recrutado graças a um programa de inteligência artificial para scouting, desenvolvido para as equipas de Tony Bloom.

O interesse inicial deu-se em dezembro de 2024: «Quando a época na Noruega acabou, já sabia do interesse do Hearts. Eu pensava que ia ser logo em janeiro, mas adiaram para começar a época com eles, desde o início». Aí, Cláudio Braga admitiu que voltou a sentir o cheiro da frustração: «quando tu pensas que um clube está com muito interesse, mas acaba por não te contratar em janeiro, duvidas se te vão mesmo contratar em junho.»

Mas aconteceu. «E aconteceu da melhor maneira possível, na melhor altura possível. Uma pessoa olha para trás e vê que afinal sofreu com coisas que afinal não valia a pena ter sofrido. Acabou por ser a melhor altura. Está a ser incrível.» Cláudio Braga é atualmente o melhor marcador do campeonato escocês.

De facto, esta época dá para sonhar. Uma equipa que inicialmente teria como objetivo ficar no top-5, pode agora aspirar agora a um feito que não acontece há 41 anos. Em 1984/85 sir Alex Ferguson fez do Aberdeen o campeão escocês e, desde então, o título foi sempre parar a Glasgow: 18 vezes para o Rangers e 22 vezes para o Celtic.

«Seria um feito histórico, não só para o Hearts, mas para o futebol escocês, que é dominado por Celtic e Rangers. Vejo muitas pessoas de outros clubes a dizer que gostavam que o Hearts fosse campeão, para acabar esta tal hegemonia que existe nos clubes de Glasgow», admitiu Cláudio Braga.

Claúdio Braga descreve-se como um jogador intenso: «há muitos jogadores que se calhar não preferiam que esse fosse o maior elogio, mas eu gosto quando as pessoas dizem que o meu work rate é bom. Dá-me muita alegria, porque foi uma das coisas que o meu pai, que sempre me acompanhou no futebol, me ensinou. Pode faltar muita coisa. Vai haver jogos que vão correr mal, mas, enquanto estiver lá à vontade e eu der tudo a 100%, a probabilidade de correr melhor é muito maior (…) muita gente diz que sou parecido com o Agüero, por ser um jogador não muito alto, intenso, a procurar bolas nas costas e com faro de golo», comparou.

O 'Agüero de Mafamude' tem o sonho de chegar à seleção e jogar com o ídolo CR7. Sabe que é difícil, mas acredita: «sinto que ainda estou muito longe, mas também sinto que estou muito mais próximo do que o que estava. Os últimos anos fazem-me acreditar que pode acontecer qualquer coisa de um momento para o outro (…) Da mesma maneira que aconteceu até agora e fui surpreendido, porque não surpreender-me mais um bocado? Acredito mesmo que o futebol muda do dia para a noite», afirmou o craque que faz 26 anos na terça-feira.