Chegada ao estádio no Canadá parecia desfile de moda: «Apanharam-me de surpresa»
Destino Aventura é a rubrica em que A BOLA dá a conhecer os jogadores espalhados pelos cantos mais remotos do mundo. Pedro Machado, defesa-central do Al Tadhamon (Koweit), recorda a passagem pelo Canadá, onde vestiu a camisola do Pacific FC.
— Como é que descreves a experiência no Canadá e o futebol de um país que não tem muita visibilidade em Portugal?
— É assim, o futebol do Canadá foi uma agradável surpresa, porque é um futebol que a gente não acompanha tanto, mas existe qualidade. É um campeonato difícil, muito físico, em que o jogo, pronto, na parte tática se calhar não é tão forte como em Portugal, mas é muito intenso, com e sem bola. Tudo é uma disputa a 200%, o jogo é rápido, às vezes um pouco partido, mas existe muita qualidade. Surpreendeu-me, porque não estava à espera do nível que ia encontrar. Encontrei um nível bom, desafiante, e que eu acredito que agora, por se jogar lá o Campeonato do Mundo, vai ter um pouco mais de visibilidade. Vai permitir também que as pessoas olhem se calhar um pouco mais para aquele campeonato do Canadá, para o campeonato dos Estados Unidos, e perceberem que ali tem qualidade. As pessoas vão ao estádio, existe também uma atmosfera muito boa à volta do jogo, tentam sempre também um futebol muito positivo, de posse, de jogar, também um pouco de espetáculo, mas surpreendeu-me muito pela positiva.
— Quais as diferenças no dia a a dia entre o Canadá e Portugal, quer em termos de futebol quer de vida?
— É diferente. É muito mais relaxado, no sentido em que, fora daquele contexto do clube, a gente tem a nossa vida normal, aproveitar com a família, temos praticamente liberdade total para fazer aquilo que nós queremos, não existe assim nenhuma obrigação. Claro que, na minha opinião, temos que manter sempre o profissionalismo, há muito trabalho invisível que um jogador de futebol profissional faz fora do campo e do treino. Mas existe muita liberdade para desfrutar com a família, para criar alguns eventos para participarmos juntamente com a comunidade, o que é muito positivo. A questão das multas, nós em Portugal temos muito aquela questão da caixinha e as multas são todas escritas, um atraso pagas X, chutar uma bola pagas Y, e lá não. Levas um cartão ou chegas atrasado e rodas na roleta e podes pagar muito como até podes não pagar nada. Até pode calhar a batata quente para outro colega, porque tinham essa opção de trocar. Se calhasse ali o trocar, quem tinha rodado poderia passar a multa para outro colega e aquilo era um bocado uma galhofa no balneário. Havia sempre alguém que ficava um pouco na azia, é normal, mas também servia de entretenimento. Depois também tem essa vertente, que inclui muito esse espírito de acolher toda a gente. Existia essa questão dos analistas, muitas vezes até o próprio roupeiro, faziam ali connosco as duas voltas ao campo, aquela parte inicial mais do aquecimento no treino. Era algo que também permitia, na minha opinião, que a gente criasse mais interação com eles, deixasse-os mais à vontade ali naquilo que era o nosso ambiente, coisa que em Portugal não é tão normal. Não é uma crítica, como é óbvio, é uma questão diferente de ver o futebol, mas eles lá têm essa abertura e serve muitas vezes para quebrar o gelo entre companheiros e entre a equipa e o staff.
— Como eram os dias de jogo, havia uma espécie de desfile de moda?
— Nós em Portugal e nos países onde eu tinha estado antes, temos sempre aquela questão de ir com o fato-treino do clube, ou com a roupa que nos é designada. Lá quando o jogo é em casa, não. Levamos a roupa que quisermos, fazemos o nosso estilo, muitos colegas combinavam. Chegavam ao balneário, faziam um tema e vinham três ou quatro vestidos de determinada forma para aquilo. Pronto, é engraçado, eu não estava à espera, no primeiro dia apanharam-me um pouco de surpresa, porque eu fui normal, com o fato-treino do clube e tudo mais, e depois vi-os todos a irem dessa forma e percebi que realmente davam muito ênfase àquilo e paravam-nos mesmo para nos tirarem fotos, fazer um vídeo. Faz parte do desporto lá, essa questão de como é que os jogadores chegam ao jogo e muitas vezes também é para criar ali alguma ligação entre os jogadores e a massa adepta.
— Havia competitividade entre os jogadores nesses desfiles de moda?
— Não existe essa competitividade, pelo menos não senti. Senti sim cada um a querer exprimir-se naquilo que é o seu estilo, naquilo que gosta exprimir e para vêem isso como uma maneira de passar uma mensagem aos adeptos, daquilo que é o estilo deles. Acredito que possivelmente num nível mais alto como se calhar nos Estados Unidos, uma MLS ou assim, até aproveitem para ter alguns patrocínios, mas ali eram um pouco... alguns na brincadeira, outros só para se expressarem através da roupa que vestiam.