Destino Aventura é a rubrica em que A BOLA dá a conhecer os jogadores espalhados pelos cantos mais remotos do mundo

O calor «insuportável» e o choque cultural no Koweit: «Surpreendeu-me pela positiva»

Pedro Machado fala sobre a experiência no Al Tadhamon

Destino Aventura é a rubrica em que A BOLA dá a conhecer os jogadores espalhados pelos cantos mais remotos do mundo. Pedro Machado, defesa-central do Al Tadhamon falou sobre a adaptação ao futebol do Koweit e os seus objetivos coletivos e pessoais. O regresso a Portugal não é prioridade nesta fase, mas não é de descartar.

— Como é que está a correr a experiência no Koweit ao serviço do Al Tadhamon? Como está a ser a adaptação?

Está a ser bom, é um país que me surpreendeu muito pela positiva, pelas condições de vida que encontrei aqui. As temperaturas são muito quentes, agora já baixaram um pouco, tipo o nosso verão em Portugal, que também dá para desfrutar mais com a família fora, porque antes estava um calor mesmo insuportável, 40 e muitos graus. Era impossível sairmos durante o dia, só mesmo à noite, mas tem sido bom, é uma realidade diferente. No início foi um pouco um choque cultural, mas nada que rapidamente perceber as rotinas. Adaptei-me bem.

— Como é que são os treinos?

No início era complicado, porque estava muito quente, apesar de treinarmos por volta das seis ou sete para não apanharmos aquela hora de calor, mas era muito abafado e isso era o que custava mais. De resto, como o treinador também é português, o mister Miguel Leal, em termos de métodos e tudo mais, é muito semelhante àquilo que nós estamos habituados a ver nas equipas profissionais em Portugal. Pronto, foi só essa condicionante, mas que à medida que os dias foram passando, também o corpo foi-se ambientando, não foi fácil, mas já foi mais tolerável.

— Quais são os teus objetivos coletivos esta época no Koweit?

Claramente a manutenção, nesta primeira fase, sonhar com a zona de campeão, lutar pelos seis primeiros, mas sem dúvida que o nosso objetivo principal é a manutenção. Estamos dentro desse objetivo, a equipa está a crescer de jogo para jogo, está a assimilar cada vez mais as ideias que o mister também nos incute e tem sido uma curva ascendente.

— E em relação aos teus objetivos pessoais?

Mostrar a minha qualidade, abrir mercado por aqui. Sinto que este mundo árabe está a crescer bastante nestes últimos tempos. Há cada vez treinadores e jogadores portugueses a vir para aqui. E é isso, abrir mercado, não só no Koweit, mas em todos os países aqui à volta. Ter boas performances para que, quem sabe, no futuro possam vir outros desafios, melhores até. É isso que desejamos sempre, sem nunca, claro, fechar a porta a Portugal.

— Passando agora para a fase inicial da tua carreira, em Portugal. Assinaste o teu primeiro contrato profissional aos 23 anos. Alguma vez pensaste em desistir do futebol?

Eu sempre tive muito presente na cabeça que queria ser jogador de futebol. Mas também não posso mentir que houve ali uma fase que sim, que comecei, não a desconfiar de mim próprio, mas a ver que as oportunidades não estavam a chegar. Acabei por ter a sorte, houve muito trabalho antes para que isso acontecesse, na altura em que aparece a Liga Revelação. Fui contactado pelo mister Silas e pela sua equipa técnica. Tinha conhecido o mister Silas no Sindicato dos Jogadores, ele conheceu-me aí como jogador e pessoa. Acreditou em mim e que eu tinha potencial para fazer parte daquele projeto [B SAD]. Foi quando voltei novamente a sentir que não era a altura de abrandar, mas de acelerar ainda mais e acreditar no processo. Mas não posso mentir que houve, claro que sim, fases na minha vida, inclusive em que cheguei a arranjar um trabalho em part-time, porque não estava a sentir que as oportunidades, que eu acreditava que merecia, estavam a aparecer.

— Algum sonho que ainda esteja por cumprir na tua carreira?

Voltar a ser campeão num país, ter um projeto desses, mas vivo muito o dia a dia, avalio muito os projetos que chegam até mim, de que forma é que podem fazer sentido, para aquilo que possa ser o meu futuro, aquilo que também possa ser a estabilidade para a minha família. Neste momento, tenho mais sonhos pessoais do que se calhar profissionais.

— E um regresso ao futebol português?

A minha prioridade, neste momento, é o estrangeiro. Gostava de crescer aqui neste mundo mais árabe. Claro que nunca fecho portas a nada e acho que nós, enquanto jogadores profissionais, nunca devemos fazer isso. Mas quero abrir estas portas, quero que este Mundo também me conheça e saiba daquilo que é a minha qualidade. As coisas têm-me corrido bem, espero que assim continuem, mas sem nunca fechar a porta, e nunca poderia dizer que não, a um projeto aliciante que me chegasse de Portugal ou de outra parte do Mundo.

— Que balanço fazes da tua carreira?

Está a ser boa até agora, foi feita de muita luta, muito sacrifício, se calhar uma ou outra decisão que eu pudesse tomar de forma diferente, mas não me arrependo de nada. Acho que nunca virei a cara à luta, demonstrei sempre aquilo que era a minha qualidade enquanto jogador, enquanto homem, e quem trabalhou comigo, tanto o staff, como os jogadores, sabem disso. Estou satisfeito, ainda tenho muita coisa para conquistar e muito para mostrar.