Equipa dos Camarões (IMAGO / SOPA Images)
Equipa dos Camarões (IMAGO / SOPA Images)

Caos nos Camarões: dois selecionadores... e duas convocatórias para a CAN

Seleção africana vive um cenário insólito, provocado por uma guerra aberta entre Samuel Eto’o e Marc Brys, que deixa o país sem saber quem, afinal, irá representar a nação na competição

A poucos dias do arranque da CAN, os Camarões vivem uma das crises mais insólitas e caóticas da sua história recente. Em pleno período de preparação para a prova, a seleção encontra-se dividida entre duas convocatórias, dois selecionadores e uma guerra aberta entre o presidente da federação, Samuel Eto’o, e o selecionador Marc Brys — uma crise tal que deixa jogadores, adeptos e dirigentes sem saber... quem representará o país no torneio.

O conflito explodiu publicamente quando Eto’o, que cumpre o seu quarto ano como presidente da Federação Camaronesa de Futebol (FECAFOOT), tentou despedir Brys. O belga, no entanto, recusou aceitar a decisão, alegando que mantém contrato válido com o Ministério do Desporto até setembro de 2026 e que só aquele organismo o pode exonerar. Resultado: um impasse institucional.

Perante a resistência de Brys, a FECAFOOT avançou com uma primeira convocatória oficial, na qual nomeou David Pagou como selecionador interino. A lista de 28 jogadores gerou polémica imediata ao excluir nomes de peso como André Onana, Eric Choupo-Moting e o ex-FC Porto Vincent Aboubakar. Nesse ponto, a controvérsia ganhou contornos ainda mais pessoais: de acordo com fontes citadas pelo The Sun, Eto’o terá pressionado para que Aboubakar ficasse de fora por recear que este superasse o seu recorde de melhores marcadores da história dos Camarões...

A história, porém, ganhou um novo capítulo caricato quando o próprio Brys, ignorando por completo as decisões da federação, divulgou uma segunda convocatória — reinstalando todos os jogadores que tinham sido afastados. Assim, num só dia, os Camarões passaram a ter dois selecionadores e duas listas diferentes para a CAN.

Pagou foi entretanto registado pela FIFA como selecionador e até realizou uma conferência de imprensa oficial para explicar as escolhas e os objetivos do país no torneio. Em paralelo, o staff técnico também foi duplicado, com a federação a nomear uma nova equipa para trabalhar com Pagou enquanto Brys afirma continuar no cargo com o apoio do Ministério do Desporto.

Esta guerra não é nova. Desde que chegou ao cargo, Brys tem tido atritos constantes com Eto’o — o belga chegou a ameaçar demitir-se quando a federação excluiu o seu adjunto da ficha de jogo, num gesto visto como tentativa de minar a sua autoridade. Do outro lado, Eto’o tem vivido meses conturbados, tendo sido alvo de uma suspensão de seis meses por parte da FIFA em 2024 por violações do código disciplinar.

Agora, à beira do início da CAN, os Camarões encontram-se num cenário absurdo: duas convocatórias, dois selecionadores e nenhuma indicação oficial sobre quem, afinal, liderará os leões indomáveis a partir de 24 de dezembro... ou sequer que grupo de jogadores viajará para Marrocos. De resto, a única certeza é que os Camarões chegam à competição num total estado de caos.