Há uma semana, neste mesmo espaço, escrevi o seguinte, a propósito da derrota do Benfica no Jamor, frente ao Belenenses: «Reduzir os problemas evidenciados pelo Benfica à falta de eficácia, como fez Rui Vitória, não é mais do que uma tentativa de tapar o sol com a peneira.» Na Luz, na última sexta-feira, ficaram à vista de todos as deficiências profundas desta equipa encarnada, plasmadas na forma penosa como se arrastou durante os 60 minutos de que dispôs para ensaiar a reviravolta no resultado. A desorganização do conjunto de Rui Vitória, sem coesão entre setores, previsível e votado à vulgaridade, permitiu a um Moreirense cheio de confiança passear na Luz como se fosse um grande da Europa. Há muitos anos que o Terceiro Anel não se manifestava de forma tão veemente contra o desempenho de uma equipa do Benfica, e por tabela contra o responsável técnico, Rui Vitória. E embora nenhuma decisão diretiva deva ser tomada com base em pressões exteriores, este dado é mais um a juntar a todos os que vão fundamentar uma decisão quanto ao futuro próximo do futebol encarnado. É verdade que o Benfica começou a época mais cedo que os outros e teve de jogar quatro finais, ainda a procissão estava a sair do adro. Se calhar é por isso que alguns jogadores - André Almeida, Jardel, Fejsa, Pizzi, Salvio - estão em má forma. Mas para além das individualidades, torna-se evidente a falência da ideia de jogo de Rui Vitória, sem a dimensão e a modernidade que o Benfica reclama. Com uma defesa que não sobe no terreno, um meio-campo que  dificilmente sai da pressão de qualquer adversário e um ataque sem presença na área e que permite que o adversário se organize sem oposição logo a partir do guarda-redes, o Benfica mais parece uma equipa de nível médio da década de noventa do século passado, a anos-luz daquilo que são os mínimos exigíveis a quem anda na Liga dos Campeões. Dito tudo isto, que pode fazer Rui Vitória para inverter a queda rumo ao abismo? Na linha do que escrevi há uma semana, se o treinador do Benfica não interiorizar que a sua equipa está muito doente, nunca fará o diagnóstico certo que leve à cura. E essa passa por um golpe de asa que está por demonstrar que esteja ao alcance de Vitória. Entretanto, Luís Filipe Vieira deverá manter-se atento à evolução da crise. Muito atento, até. A começar pelo que pode acontecer frente ao Ajax...