A Premier League está mais direta: as quatro tendências táticas desta época
A nova época da Premier League mal começou, mas já há sinais de alguma transformação tática. Em apenas três jornadas, observam-se tendências que aproximam o futebol inglês de um estilo mais direto, quase old school, como descreve a análise da Opta para os organizadores do campeonato. Longe de ser um regresso puro aos anos 90, trata-se de uma reinvenção pragmática de velhas armas.
O regresso dos lançamentos laterais longos
Onze das 20 equipas do primeiro escalão britânico colocaram, logo na primeira jornada, em lançamentos laterais longos (a pelo menos 20 metros de distância), diretamente a bola na área adversária – um aumento drástico, quando comparadas com as quatro do ano anterior. A média atual é de 3,03 lançamentos longos por jogo, o dobro do registo mais alto da última década. Esta estratégia já deu origem a três golos neste arranque, quando na época passada foi preciso esperar 27 jogos para ver um remate certeiro. A estatística é clara: os lançamentos laterais tornaram-se uma fonte séria de Expected Goals (0,09 xG por jogo, o valor mais elevado desde que há registo). Os treinadores estão a dedicar mais tempo a transformar o gesto técnico num verdadeiro plano ofensivo.
𝐁𝐚𝐜𝐤 𝐭𝐨 𝐭𝐡𝐞 𝟗𝟎𝐬?
— Opta Analyst (@OptaAnalyst) September 10, 2025
💪 Long throws
🦵 Long balls
😮 Outfielders booting long goal-kicks
↖️ Kick-offs going straight out of play
The new Premier League season has thrown up some novel tactics, and some that were quite popular a few decades ago... pic.twitter.com/Zm55DhyeB8
Guarda-redes também mais diretos
Durante anos, a Premier League caminhou para a valorização do guarda-redes construtor, capaz de iniciar jogadas curtas sob pressão. A venda de Ederson e a chegada de Gianluigi Donnarumma ao Manchester City simbolizam nova mudança de ciclo. Os números reforçam a tendência: 51,9% dos passes de guarda-redes foram longos (a mais de 32 metros), o valor mais alto em dez anos. Também os pontapés de baliza a atravessar meio-campo, depois de caírem de forma contínua desde 2016/17, dispararam neste arranque de época. O motivo? O risco acrescido de perder a bola em zonas recuadas contra equipas com capacidade de pressão sufocante.
Defesas a bater pontapés de baliza
Outra novidade tem sido ver centrais a assumir o papel de guarda-redes em lances de recomeço. Marcos Senesi (Bournemouth), Micky van de Ven (Tottenham) e até Virgil van Dijk (Liverpool) já foram vistos a bater pontapés de baliza diretamente para o meio-campo adversário. A frequência é inédita: 0,27 vezes por jogo, seis vezes mais do que o recorde anterior. A ideia é simples: surpreender adversários preparados para uma saída curta, ganhando segundos preciosos na transição.
Pontapés de saída deliberadamente para fora
A tendência mais curiosa surge logo no apito inicial. Inspirados pelo PSG de Luis Enrique, que usou esta estratégia na final da última Liga dos Campeões, três equipas inglesas já colocaram o pontapé de saída diretamente para fora, cedendo um lançamento lateral junto à área rival. Entre 2016 e 2024, isso acontecera apenas quatro vezes; agora já foram três em 30 jogos. É uma forma de pressionar alto desde o primeiro segundo, trocando posse por território.
Estas quatro tendências confirmam que o futebol da Premier League não é apenas espetáculo, mas também laboratório. A aposta em soluções mais diretas mostra que os ciclos táticos se repetem – e que, no meio da sofisticação analítica, há sempre espaço para voltar a estratégias simples mas eficazes.