Domingo realiza-se a 109.ª edição das 500 milhas de Indianápolis. IMAGO

As superstições e tradições da corrida mais louca do Mundo: as 500 milhas de Indianápolis

São praticamente 800 quilómetros a mais de 350 km/h disputados por 33 pilotos que sonham com um dos vértices da 'Tríplice Crown', a vitória em três corridas míticas que, até hoje, só um piloto conseguiu. Há quem faça tudo para vencer, desde ordenhar vaca, a pactos com a mitologia asteca... Corre-se este domingo

Há quem jure que é o maior espetáculo do Mundo de automobilismo, que normalmente conta com 350 mil espetadores, que enchem o Indianapolis Motor Speedway. Este ano, as 500 milhas de Indianápolis são a sexta corrida da IndyCar Series, mas a mística da corrida que vai na 109.º edição ultrapassa tudo isso.

Na qualificação do último fim de semana, Robert Shwartzman conquistou a pole position para a equipa Prema Racing, tornando-se o primeiro rookie desde 1983 a fazê-lo, enquanto o vencedor da temporada passada, Josef Newgarden, conseguiu apenas a 32.ª posição na grelha depois das penalizações que o tiraram do 11.º lugar.

Josef Newgarden dificilmente repetirá esta imagem da vitória

Newgarden chegou com o sonho de se tornar o primeiro piloto a vencer as 500 Milhas de Indianápolis três anos consecutivos, mas a tarefa tornou-se quase impossível depois de cair para o 32.º lugar. Já o antigo piloto de F1, Takuma Sato, mostrou o que vale a experiência e, aos 48 anos, garantiu o segundo lugar para a partida, à frente do mexicano Pato O'Ward, que esteve muito perto de vencer a corrida em 2022 e 2024.

O primeiro vencedor rodou a 119,785 kms/h
São 33 os pilotos que esperam pela bandeira verde para tentar completar e vencer 200 voltas, cada uma com 2,5 milhas, aproximadamente 4 quilómetros, que devem ser cumpridos a cerca de 350 km/h.O circuito oval retangular permanece praticamente inalterado desde a sua inauguração em 1909, composto por duas retas de cerca de 1 km (0,625 milhas) ligadas por um quarteto de curvas de 400 m (0,25 milhas). A corrida realizou-se pela primeira vez em 1911 e o vencedor foi Ray Harroun, na altura com uma velocidade média de 119,785 km/h!

No ano passado, Pato O'Ward comoveu o mundo automobilístico ao perder a corrida depois de ser ultrapassado na última curva. Este ano arranjou uma ajuda superior e não teve vergonha de mostrar o seu lado mais místico.

Capacete de Pato para este ano

O’Ward vai apresentar-se com um capacete adornado com símbolos da mitologia asteca em nome do «sacrifício». O mexicano vai usar o desenho de Cipactli no capacete e promete utilizar olhos da criatura mitológica para o resto da sua carreira caso consiga vencer a Indy 500.

A Cipactli era um monstro marinho parte crocodilo e parte peixe. Sempre faminta, tinha uma boca em cada várias partes do seu corpo. «Estes olhos são minha parte favorita. Este monstro é asteca, do México, queria fazer algo das minhas origens, de onde vim. O significado desta criatura é porque tem 18 bocas diferentes, engolia o que via pela frente, mas foi sacrificada para a criação do céu e do inferno», revelou o piloto que, no ano passado, foi segundo classificado.

A emoção do mexicano com a derrota comoveu a comunidade do automobilismo. «Às vezes, é preciso sacrificar coisas para chegar à excelência, e é isso que estou a fazer. Carrego esta imagem com orgulho e prometi que se vencer, vou usar estes olhos no cimo do capacete para o resto da minha carreira», completou.

Uma das imagens de marca das 500 milhas de Indianápolis são os vencedores a beberem uma garrafa de leite em vez do tradicional champanhe. Reza a história que Louis Meyer, campeão em 1936, pediu um copo de leitelho — líquido que sobra da produção de manteiga — para se hidratar. Anos mais tarde, a tradição voltou com o patrocínio da Associação da Indústria Americana de Leite que decidiu premiar o vencedor com 400 dólares, cerca de 350 euros, desde que bebesse o leite no pódio.

Robert Schwarztman venceu no ano passado

Hoje em dia até podem escolher o tipo de leite que querem e a tradição não foi ignorada por quase ninguém. Exceto Emerson Fittipaldi.

O 'caso' Emerson Fittipaldi
Em 1993, o brasileiro Emerson Fittipaldi resolveu ignorar a tradição e envolveu-se numa polémica. Ele era produtor de sumo de laranja e, sempre que vencia uma prova na IndyCar, bebia uma garrafa de sumo. Decidiu fazer o mesmo, claro, quando venceu as 500 milhas de Indianápolis. Fittipaldi foi massacrado pelos media americanos e pelo público, que repudiou a ação do piloto. Por causa disso, o brasileiro não recebeu o prémio em dinheiro da Associação da Indústria Americana de Leite.

Tendo em conta esta tradição e a superstição do rival, Robert Schwarztman arrancou forte gargalhadas na conferência de impresa. «Para ganhar tem de comprar uma vaca e ordenha-la!»

O piloto russo-israelita mostrou-se a ordenhar a vaca nas suas redes sociais e explicou que o levaram a fazê-lo como atividade de promoção mas que lhe disseram que há uma tradição que diz que quem ordenha a vaca ganha a corrida. «Talvez o que precises é de sorte para ganhar a Indy 500, porque a mulher que é dona da vaca disse-me  que quem nunca ordenhou a vaca não ganha, que sofrem abandonos e têm muito azar. Quem ordenha a vaca, vence: Alexander Rossi (2021) fê-lo e ganhou», disse o rival a Pato.

«Vou comprar uma vaca e ordenhá-la esta noite», atirou o mexicano perante a risada dos outros pilotos.

Este domingo se verá se é verdade, mas pelo sim pelo não há quem diga que o fez.

Só um piloto conseguiu conquistar a Tríplice Coroa do automobilismo
Composta por aqueles que são considerados os três maiores desafios do automobilismo, a Tríplice Coroa é uma conquista não oficial que apenas um piloto na história conseguiu alcançar. O antigo campeão mundial de F1, Graham Hill, foi o único piloto na história que conseguiu vencer as 500 Milhas de Indianápolis, as 24 Horas de Le Mans e o Grande Prémio de Mónaco de F1.

Dentro de pista haverá muito mais a ter em conta, até porque em jogo está uma parte do Santo Graal de qualquer piloto: ‘Tríplice Coroa'. Nada mais nada menos do que conseguir vencer as três provas mais míticas e difíceis: 500 Milhas de Indianápolis, as 24 Horas de Le Mans e o Grande Prémio de Mónaco de F1. Até hoje, só Graham Hill conseguiu fazê-lo.