O que falta ao Sporting de Frederico Varandas
Sensivelmente daqui a três meses o Sporting vai para eleições. Ou uma hecatombe de todo inesperada cai sobre Alvalade, ou teremos Frederico Varandas até 2030 para um terceiro mandato como presidente do clube. Só faltava o anúncio duma recandidatura anunciada, que aconteceu na cerimónia de entrega dos Prémios Stromp, uma espécie de Óscares do universo leonino, já com vencedores pré-revelados, por isso palco adequado para o anúncio — já lá vai o tempo do outro senhor, que entre muitos outros feitos conseguiu criar clivagem com o Grupo Stromp, avançando para uma gala que ele mesmo acabou por designar como a p… da gala de que ele mesmo tinha sido o mentor…
Eram outros tempos, em que o Sporting ganhava nada e o ambiente de degradação era evidente, até terminar como todos sabemos com invasões, destituições e eleições. Era preciso ter muita coragem para querer pegar num Sporting assim. E dois sportinguistas tiveram-na: refiro-me a Frederico Varandas e João Benedito, os dois candidatos verdadeiramente com condições de ganhar as eleições de 2018. Ganhou Varandas.
Naqueles primeiros tempos também fui crítico. Mas também depois reconheci os méritos de quem conseguiu em três anos fazer do Sporting campeão e agora, em já quase oito, fazer dele três vezes campeão, quando em maio de 2018 se vaticinava uma década para recolocar o clube nos eixos — ou seja, dificilmente se recolocaria na linha, pois não deveria haver líder que se aguentasse num clube em ressaca permanente. O mérito de Varandas está aí mas não só: nas contas equilibradas, no investimento nas infraestruturas, na valorização de ativos, no projeto desportivo que tem um padrão e que é seguido sem desvios, com risco mas até aqui com resultados...
Vêm então mais quatro anos de mandato, o terceiro que será o último, para 12 anos daquela que ficará conhecida como a era Varandas, já uma das mais ricas da história do clube verde e branco. O jornalista Miguel Mendes explicou aqui em A BOLA, logo nos dias seguintes ao anúncio, as razões da recandidatura: ser tricampeão (para começar o terceiro mandato em grande); completar as renovações de Alvalade e do Centro Comercial Alvaláxia; vincar a valorização dos ativos e a consolidação das contas; manter linha de resultados líquidos positivos; reforçar o estatuto da equipa a nível nacional e europeu.
Para mim, são pilares certos, mas há dois aspetos que acredito serem desafios que nestes últimos anos de sucessos desportivos têm de ser melhorados e que ficam para este terceiro mandato.
Primeiro, o reforço do estatuto da equipa a nível europeu — em Portugal a grandeza do Sporting é intrínseca, agora traduzida com resultados, antes suportada por uma base social que nunca deixará cair o clube. Compreende-se que era imperioso voltar a recolocar o Sporting na senda dos títulos nacionais, é óbvio que o tricampeonato terá um simbolismo ímpar e por isso ser a Liga (ainda mais) a prioridade das prioridades. Mas posto isto, no futuro, acredito que o Sporting terá de reforçar esses estatuto europeu não apenas com as presenças na UEFA Champions League mas com um pouco mais de atrevimento… Ninguém espera que um clube português a ganhe, mas a sensação que fica com o Sporting é que uma vez lá, o desafio de ir ao play-off sem mais ambição não reforça muito esse estatuto e reconhecimento europeus que se quer. Só um pouco mais de ambição...
Depois, fazer um real aproveitamento da base social, que em tempo de vitórias gordas podia ser mais entusiasmante. As lotações esgotadas de Alvalade previamente anunciadas e depois alguns milhares de lugares vagos (vendidos mas vagos) mostram que há caminho a fazer. O Sporting é muito mais do que um Sporting glamour muito promovido e incentivado por esta Direção. Mas certamente esta nova fase da requalificação de Alvalade vai pensar nas bases. Afinal, são essas bases em que tudo assenta.
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