Sem «choradinho»! Portugal quer algo que não consegue há 16 anos
Seleção feminina de andebol tem dois jogos com a Finlândia que a podem aproximar do Europeu (FPA)

Sem «choradinho»! Portugal quer algo que não consegue há 16 anos

ANDEBOL29.02.202409:10

Seleção feminina de andebol terá dois jogos fundamentais com a Finlândia e o selecionador não quer desculpas

Em 2008, o andebol feminino português viveu o melhor momento da sua história ao apurar-se pela primeira vez para um Europeu. Aquela presença na fase final da competição que decorreu na Macedónia do Norte, porém, foi um ato isolado. E desde então, Portugal não voltou a estar entre as melhores seleções da Europa.

Mas isso pode estar prestes a mudar. Nesta quinta-feira, a Seleção orientada por José António Silva joga o primeiro de dois jogos fundamentais rumo a esse objetivo que lhe foge há 16 anos.

Depois de derrotas frente a duas seleções que ficaram classificadas nos primeiros oito lugares do Mundial realizado em dezembro, Países Baixos (6.º) e Rep. Checa (7.º), Portugal tem um duplo compromisso com a Finlândia, que pode deixar o Europeu muito perto, também porque a fase final terá, pela primeira vez, 24 seleções, abrindo espaço aos quatro melhores terceiros classificados do apuramento.

A ambição, por isso é só uma. E em conversa com A BOLA, o selecionador não foge à responsabilidade. «Queremos afirmar-nos no panorama internacional. E para isso temos de vencer os jogos em que os adversários são mais fortes do que nós. Chega de choradinho e daquele discurso do ‘vamos tentar fazer o melhor possível’. Não! Temos de vencer. E estamos a trabalhar para isso», introduziu, apontando já ao jogo desta quinta-feira (16h30).

«Reconhecemos que existem países com outras condições de trabalho, mas não podemos andar à procura que os outros falhem. Temos de ser nós a fazer algo por nós próprios. A derrota com a Rep. Checa (30-26) foi difícil de gerir porque estivemos perto de ganhar a uma equipa que nos é superior. Mas agora, temos de ganhar os dois jogos à Finlândia, sem desculpas», acrescenta.

José António Silva, treinador da Seleção feminina de andebol (FPA)

Uma nova geração que faz sonhar

Para a dupla jornada frente às finlandesas – domingo joga-se o segundo jogo, em Matosinhos – o selecionador não vai poder contar com cinco escolhas habituais, todas ausentes por lesão. Mas se a capitã Bebiana Sabino (Colégio de Gaia), Ana Ursu (Benfica), Maria Unjanque (Benfica), Carolina Loureiro (Achenheim Truchtersheim) e Joana Garcês (Grafometal La Rioja) são ausências inesperadas para estes jogos, a realidade já é bem conhecida por José António Silva.

«As lesões têm sido uma constante. Em 95 por cento dos casos - para não exagerar! - as nossas mudanças nas convocatórias acontecem por motivos físicos. Às vezes as pessoas não sabem que temos três treinos para preparar um jogo. E se estivermos sempre a mudar a equipa, torna-se difícil consolidar a estratégia e modelo de jogo», lamenta.

Ainda assim, para colmatar as ausências de jogadora experientes, o técnico conta com… irreverência. A irreverência de uma nova geração de andebolistas que está a surgir e que José António Silva conhece bem, uma vez que liderou o grupo que no ano passada alcançou o 4.º lugar no Europeu de sub-19.

«Perante a necessidade de mexer nos quadros técnicos da federação, pareceu-me lógico ficar com as duas equipas para uniformizar o modelo de jogo. Progressivamente, estamos a integrar as jogadoras mais jovens, com o peso das mais experientes, tanto no momento do jogo, como na integração dessas jovens. Porque elas precisam de ter essa referência em termos de experiência competitiva», explica.

No grupo de 18 atletas convocadas para o duplo confronto com a Finlândia, o técnico incluiu quatro jogadoras que igualaram o melhor resultado das seleções femininas nacionais, que já tinham alcançado o 4.º lugar no Europeu sub-17 em 2013.

E elas dão também voz à ambição lusa.

«Sabemos que somos melhores do que a Finlândia e temos de ganhar. Ponto final! Temos melhor equipa e melhor andebol, por isso só a vitória interessa», atira Constança Sequeira, central de 20 anos.

A jogadora que há duas épocas se tem destacado com a camisola do Benfica admite que o desaire de outubro com a Rep. Checa ainda custa a digerir, mas já olha para a frente.

«Ainda dói um bocadinho pensar na derrota com a Rep. Checa porque jogámos bem para ganhar. Andámos perto, mas não conseguimos. Mas agora o objetivo é conseguir vencer os dois jogos com a Finlândia», resume.

Constança Sequeira, jogadora da Seleção feminina de andebol (FPA)

Porta-voz da geração mais nova, juntamente com Carmen Figueiredo, Constança admite haver um misto de sentimentos pelo salto dado no último ano, mas assegura que a ambição fala mais alto.

«Sentimos pressão e entusiasmo. Já estamos bem integradas, mas há sempre aquela pressão por estar nas seniores, e também alguma ansiedade. Sabemos que podemos conseguir algo que há muito tempo Portugal não consegue e isso motiva-nos», enaltece.

Já Carmen Figueiredo, lateral do Gil Eanes que na época passada foi eleita jogadora revelação do campeonato, continua a firmeza de discurso.

«Estamos confiantes e isso é o fundamental. Estamos focadas para conseguir estas duas vitórias, dando tudo aquilo que temos», assegura.

Carmen Figueiredo, jogadora da Seleção feminina de andebol (FPA)

Ela que admite que ainda há pouco tempo olhava para a Joana Resende, Mariana Lopes, Beatriz Sousa e Patrícia Lima com idolatria, confessa também que por vezes ainda custa vê-las ao seu lado como companheiras de equipa.

«No início achava que estava a sonhar. Ainda agora, nos treinos, vejo muito o que a Joana faz, porque joga na mesma posição que eu para tentar fazer igual ou melhor», revela a jovem que foi também a melhor marcadora do campeonato da época passada.

Sobre a presença cada vez maior de jogadoras que fizeram parte da Seleção que há menos de um ano conseguiu um dos melhores resultados da formação feminina portuguesa, Carmen não tem dúvidas.

«É um ótimo sinal! E para nós é uma possibilidade de aprendizagem. Não temos tanto peso em cima de nós, porque há jogadoras mais experientes, mas é uma oportunidade que nos deixa muito orgulhosas», finaliza.

Seleção feminina de andebol (FPA)