WTF! Diogo Ribeiro  é campeão do mundo
Fotografia Simone Castrovillari/FPN

WTF! Diogo Ribeiro é campeão do mundo

NATAÇÃO13.02.202406:53

Com uma segunda metade de prova de 50m mariposa impressionante, garantiu o ouro no 21.º Mundial Doha-2024. Levou cerca de 16s para descobrir a proeza que acabara de realizar, pensava que era 2.º. Agora aponta ao recorde

«Para mim esta medalha é incrível. Já tinha sido prata no último Mundial, portanto, conseguir agora o ouro é uma coisa que ambicionava. Era o primeiro da start-list e consegui confirmá-lo. É espetacular porque não se trata só de passar à final, mas chegar lá e fazer», afirmou Diogo Ribeiro, de medalha ao peito, através de um vídeo da federação, mais de quatro horas após ter feito história para a natação portuguesa e o desporto nacional ao conquistar o ouro nos 50 mariposa no 21.º Mundial de Doha-2024, com tempo de 22,97s.

Fotografia Simone Castrovillari/FPN

Se sete meses antes já se tornara, aos 18 anos, no primeiro nadador nacional medalhado num Campeonato do Mundo de piscina longa ao ser 2.º classificado na mesma prova em Fukuoka-2023, tinha então tido a preparação afetada por ter apanhado Covid um mês antes do evento. 

Agora, sem qualquer lesão, infeção ou intoxicação alimentar como acontecera em dezembro dias antes do Europeu de piscina curta na Roménia, mostrou-se imparável com uma segunda metade da prova e uma chegada que relegou para os restantes degraus do pódio o americano Michael Andrew (23,07) e o australiano campeão mundial dos 50m livres Cameron McEvoy (23,08). 

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CLASSIFICAÇÃO 50M MARIPOSA

1.º, Diogo Ribeiro (Por) 22,97s;
2.º, Michael Andrew (EUA), 23,07;
3.º, Cameron McEvoy (Aus), 23,08;
4.º, Isaac Cooper (Aus), 23,08;
5.º, Dylan Carter (Trin), 23,17;
6.º, Mario Molla (Esp), 23,29;
7.º, Inchul Baek (Cor), 23,35;
8.º, Shaine Casas (EUA), 23,47.

Os quais ao seu lado, e como vem sendo habitual nas cerimónias da entrega das medalhas, parecem irmãos mais velhos apesar do 1,86m do nadador do Benfica, mas que está integrado no CAR Jamor sob o comando de Alberto Silva. 

No Mundial júnior de Lima-2022, onde arrebatou os títulos dos 50 livres, 50 e 100 mariposa, e fixou o recorde do mundo do escalão aos 50 mariposa (22,96) que ainda se mantém, Ribeiro já fizera soar A Portuguesa

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Ontem, no Aspire Dome, voltou a fazê-la soar para cantá-la com a mão sobre o coração enquanto a restante comitiva nacional, eufórica, assim como a mãe, irmã e namorada na bancada, o acompanhava: «Para mim é sempre arrepiante ouvir A Portuguesa em qualquer pódio, e sendo ainda mais num campeonato mundial absoluto é supergratificante e fico muito contente que tenha acontecido aqui.» 

Já sobre a prova que lhe trouxe o ouro e nem teve superar o seu recorde nacional de 22,80, conseguido para conquistar a prata no Japão no passado verão, reconheceu que até nem foi como desejava. 

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«Sei que não fiz uma boa partida. O salto gostei, mas depois, no subaquático, ainda fiquei a ondular quando já estava em coma da água, senti logo que alguma coisa havia falhado. Depois nadei com o coração para dar esta vitória aos portugueses. Foi uma prova bem conseguida e, no fundo, o que interessava era chegar na frente», acrescentou.

WTF, mano!   

Curioso no meio de toda a história é que Diogo levou cerca de 16 segundos para se aperceber do que havia conquistado. Primeiro ficando a recuperar o fôlego virado para a parede, e só depois de se virar, tirar a toca e os óculos é que olhou para o placard e abriu a boca de espanto e deixou sair: «What the f..., mano!»

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Acabou a celebrar sentado na pista de braços abertos para receber a ovação vinda das bancadas, onde a família abraçava-se de alegria e saltava, e o seu grande amigo e fisioterapeuta da FPN Daniel Moedas levava as mãos à cara de emoção enquanto era abraçado pelo selecionador Alberto SiIva.

«Não tenho palavras neste momento...», começou por dizer o menino de ouro, 19 anos, quando foi entrevistado mal saiu da água e ainda tentando recuperar o fôlego e organizar as ideias. «A partida não foi boa mas, mas estou tão contente por ter ser campeão do mundo!», acrescentou antes de juntar ao resto da comitiva que o esperava à entrada da zona das equipas. 

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Além de ser o único português (duplamente) medalhado em mundiais, Ribeiro é igualmente o único a ter chegado por duas vezes a uma final num reduzido universo de quatro pessoas a nível individual e onde figuram Alexandre Yokochi nos 200 bruços (5.º) em Madrid-1986 e Ana Barros nos 50 costas (8.ª) em Perth-1991 e aos quais se junta a estafeta de 4x50 livres (7.º) composta por Paulo Trindade, Paulo Camacho, Diogo Madeira e Artur Costa, também em Perth-1991.

«Isto não é um trabalho de um ano. Temos vindo a fazê-lo há três. No primeiro consegui o Mundial de juniores, no segundo tive medalha de prata em absolutos e chegar ao terceiro e conseguir o ouro, é muito bom. Assim como saber que melhorei todas estas épocas, ver que tenho margem para evoluir e ficar perto do recorde do mundo [22,27], que também já é um objetivo na carreira», concluiu o velocista que, agora, irá disputar os 50 e 100 livres e 100 mariposa. 

Fotografia Simone Castrovillari/FPN

Provas para as quais está qualificado, desde março, para os Jogos de Paris-2024. Note-se que os 50 mariposa não integram o programa olímpico.