Apresentação da equipa FC Porto W52 Quintanilha, em 2020 - Foto: Paulo Santos
Apresentação da equipa FC Porto W52 Quintanilha, em 2020 - Foto: Paulo Santos

«Desconheço qualquer substância ilícita no ciclismo, nunca vi um comprimido»

Adriano Quintanilha, ex-líder da equipa de ciclismo W52-FC Porto, rejeita qualquer envolvimento no esquema de dopagem

Adriano Quintanilha, ex-líder da antiga equipa de ciclismo W52-FC Porto, afirmou, na manhã desta quarta-feira, que é inocente e desconhece qualquer uso de doping pelos ciclistas, acusando o ex-diretor desportivo Nuno Ribeiro de «não dizer uma verdade» em julgamento.

O ex-dirigente falou pela primeira vez em tribunal no julgamento da operação Prova Limpa, que envolve 26 arguidos, incluindo ex-ciclistas, e decorre num pavilhão anexo ao Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira, garantindo que «não sabia de nada» sobre doping no seio da equipa, negando também ser o financiador das substâncias dopantes.

Refira-se que na sessão do julgamento de 18 de novembro do ano passado, o também arguido e ex-diretor desportivo da W52-FC Porto, Nuno Ribeiro, assumiu haver doping durante todo o ano na equipa, financiado e incentivado por Adriano Quintanilha, que era «mestre da manipulação, que queria ganhar a todo o custo.» Nuno Ribeiro contou que a tomada de substâncias dopantes pelos ciclistas «era regular durante toda a época desportiva», denunciando que o financiamento para esse fim advinha do então dono da equipa e que ocorria «durante o ano civil todo.»

Quintanilha, que apenas respondeu a perguntas do coletivo de juízes e do procurador do Ministério Público, refutou hoje essas declarações, assegurando que não sabe o motivo por trás das mesmas: «Quero simplesmente defender-me das acusações que foram feitas a meu respeito. O senhor Nuno Ribeiro pôs o meu nome em causa e não disse uma verdade. Fui aqui acusado de que sou um ditador, que quero, posso e mando. Fui acusado pelo senhor Nuno Ribeiro e ainda não sei porquê.»

Na sequência das declarações do patrão da extinta W52-FC Porto, que apresentou uma versão totalmente oposta à de Nuno Ribeiro, o advogado de Nuno Ribeiro requereu ao tribunal uma acareação (confronto de versões) entre o seu constituinte e Adriano Quintanilha, o que foi rejeitado pela defesa de Quintanilha. O antigo patrão da W52-FC Porto disse também nunca ter visto «uma agulha» ou «sacos de sangue» no autocarro da equipa, acrescentando que apenas lá ia para cumprimentar os ciclistas e tomar café, e que também não ficava no mesmo hotel dos atletas.

«Desconheço qualquer substância ilícita no ciclismo, nunca vi um comprimido. Nunca vi a mais pequenina coisa dentro do autocarro. Ia lá, cumprimentava, tomava um café e ia embora. A única coisa que ouvia durante as corridas era água, soro e gel. Eram as únicas três coisas que via os rapazes pedirem», garantiu o empresário de 72 anos, citado pela Lusa.

«Estou inocente de tudo. Os meus ciclistas sabem que eu estou completamente fora de tudo o que se passou. Não faço ideia de quem pagava o doping», disse Quintanilha perante o coletivo de juízes.

Depois das buscas da Polícia Judiciária ao hotel onde se encontrava a equipa, em Trancoso, realizadas em abril de 2022, e onde foram apreendidas várias substâncias ilícitas e instrumentos usados no doping, Adriano Quintanilha contou que vários ciclistas foram posteriormente à sua casa pedir-lhe para que não os abandonasse. «Os testes deram negativo, os passaportes biológicos estavam limpos. Acreditei neles. Só mais tarde, quando foram à ADoP [Autoridade Antidopagem de Portugal] e confessaram é que me convenci. Senti-me enganado por eles», declarou.

O ex-líder da W52-FC Porto revelou ainda ao tribunal que dava um patrocínio à equipa de 120 mil euros e o FC do Porto 700 mil euros anuais, salientando que «o FC do Porto pagava bem.»

O julgamento prossegue esta tarde com declarações do antigo ciclista e arguido Joni Brandão, que pediu para falar novamente. Os 26 arguidos do processo Prova Limpa respondem por tráfico de substâncias e métodos proibidos, mas apenas 14 por administração de substância e métodos proibidos.

Sugestão de vídeo