Ânimos exaltados no final do clássico entre FC Porto e Sporting (Grafislab)
Ânimos exaltados no final do clássico entre FC Porto e Sporting (Grafislab)

FC Porto-Sporting, 1-1 Tu, leão, ficas com a primeira parte; tu, dragão, com a segunda (crónica)

NACIONAL07.02.202523:41

Empate justo, sim; jogo interessante, sim. Estragado na parte final, sim, sim, sim, sim.

Quase pareceu uma espécie de Tratado de Tordesilhas do século XXI: tu, Sporting, ficas com a primeira parte; tu, FC Porto, ficas com a segunda. O leão foi mais forte na metade inicial, embora sem nunca encostar o dragão às cordas, enquanto este dominou a segunda metade, talvez até com um pouco de maior perigo. Empate justo, sim; jogo interessante, sim. Estragado na parte final, sim, sim, sim, sim. 

Rui Borges: «Custa sair daqui com um ponto»

7 fevereiro 2025, 22:58

Rui Borges: «Custa sair daqui com um ponto»

Treinador do Sporting gostou da exibição, especialmente da primeira parte, mas lamentou o facto dos seus jogadores terem perdido o equilíbrio emocional nos últimos minutos

Chegou a parecer, de início, um jogo de paciência. Talvez até de xadrez. Tudo muito pensado, lento, sem rasgo. Quando a bola chegava aos centrais do FC Porto, então, era quase um marasmo. Zé Pedro, Nehuén Pérez e Tiago Djaló trocavam a bola na frente de Diogo Costa e, na maioria das vezes, Harder e Daniel Bragança pressionavam com os olhos. Sem pressa, esperando, talvez, um erro. Como os de Vila do Conde.

 O Sporting, quando tinha a bola, mantinha a calma e a serenidade, quase como se estivesse à espera de uma falha do adversário. O primeiro lance de perigo (ou de semi-perigo) surgiu na sequência de um canto de Trincão, com Hjulmand a desviar de cabeça para defesa fácil de Diogo Costa. 

Até que, de repente, algo mexeu com o jogo. Primeiro, claro, a saída, por lesão, de João Simões, entrando Debast. Depois, o passe falhado de Gonçalo Inácio, bola recuperada por Rodrigo Mora e remate potente de Eustáquio, à barra. O FC Porto parecia ter perdido a paciência e tentou, nesse período, pouco antes da meia hora, incomodar Rui Silva. Não incomodou mais. 

Depois, como sempre acontece com os craques, um deles irritou-se e mexeu com o jogo de forma bem contundente: Geovany Tcherno Quenda. O 57 de Alvalade pegou na bola, passou por João Mário com um drible fantástico. Encontrou Zé Pedro e improvisou: passou por um lado e enviou a bola por outro. Foi à linha de fundo e cruzou atrasado. E aí reuniu-se uma série de acasos: Bragança falha o remate, Mora falha o corte, Fresneda aparece na área a rematar de pé esquerdo e, por fim, o último acaso: a bola desvia em Francisco Moura e entra. 

Estava-se em cima do intervalo e não se sabia ainda o que por aí vinha. E veio muita coisa. A primeira sensação que trouxe a segunda parte foi de que os jogadores do FC Porto entraram com doses maciças de adrenalina, enquanto os do Sporting pareceram receber algum tipo de calmante. 

Assim, quase só deu FC Porto na etapa final, sobretudo nos últimos 30’. Mais agressividade positiva, mais velocidade, mais acutilância, enquanto o Sporting, um pouco à imagem do que tem acontecido em grande parte dos últimos jogos, baixou abruptamente de rendimento. 

Até que, pouco depois da hora de jogo, já depois de Tiago Djaló ver (bem) um golo a anulado por fora de jogo, Anselmi e Borges começaram a mexer. Porém, enquanto o técnico leonino não alterou a filosofia (Bragança por Morita e Harder por Gyokeres), o treinador dos azuis e brancos alterou-a radicalmente (Neuhén Pérez por Fábio Vieira e Francisco Moura por Gonçalo Borges, passando a jogar com apenas dois centrais). 

E o FC Porto começou, então, a crescer. Cresceu tanto que, aos 68’, teve a segunda jogada mais perigosa do jogo, com João Mário a cruzar para o remate cruzado de Pepê para grande defesa de Rui Silva. Logo a seguir, Quenda teve no pé esquerdo o golo. Mas falhou, rematando muito por cima. 

Anselmi volta a mexer e coloca em campo aquilo que, em futebolês, se designa por carne toda no assador: João Mário por William Gomes e Alan Varela por Namaso. Borges responde com Bragança por Morita e Maxi Araújo por Matheus Reis. O treinador do FC Porto coloca a equipa a jogar de forma quase anárquica em busca do golo (Eustáquio, Zé Pedro, Tiago Djaló e William Gomes; Fábio Vieira, Mora e Pepê; Gonçalo Borges, Samu e Namaso), com dois defesas puros, dois médios e seis avançados. 

Faltavam talvez 15 minutos para o final e o FC Porto sentia que, perdendo, diria adeus à luta pelo título. E forçou muito as tentativas de golo. O Sporting, defendendo-se, esticava o jogo na tentativa de colocar a bola longe de Rui Silva e, ao mesmo tempo, perto de Gyokeres

A espécie de anarquia portista acabaria por dar frutos. Fábio Vieira viu Samu nas costas de Diomande e o espanhol, recebendo a bola sozinho, colocou-a à disposição de Namaso. Que fez golo. Dando consistência maior à tese de Tratado de Tordesilhas.  

O final foi triste. Muito triste, aliás. Vermelhos distribuídos, alguns justos, outros dificilmente explicáveis. É o que é. Jogos entre FC Porto e Sporting, seja em que estádio for, são sempre escaldantes. Mas, que raio, não era preciso elevar a temperatura ao ponto de fusão do material mais duro do Mundo.