Trincão sobre Gyokeres: «Teve um impacto incrível»
Francisco Trincão não esconde a felicidade pelo excelente momento que atravessa (Miguel Nunes)

ENTREVISTA A BOLA Trincão sobre Gyokeres: «Teve um impacto incrível»

NACIONAL17.05.202410:18

Extremo a assistir o avançado sueco foi um regalo para o Sporting; ainda há garra para mais nos dois últimos jogos da época

— Tem uma simbiose engraçada com Gyokeres. Até nas redes sociais lhe disse um par de vezes para não se preocupar que você via onde é que estava para lhe pôr a bola.

— Sim. Como falo bem inglês acabámos por nos dar bem. Ele normalmente também me pede um bocado de ajuda, para onde é que deve ir, restaurantes e essas coisas e eu tento ajudar. A partir daí criámos uma boa relação, também com o Franco, e acabamos sempre por nos dar todos bem.

— A chegada de Gyokeres foi um momento importante no Sporting. Como é que tem sido a construção da equipa em torno deste avançado?

— Ele teve um impacto incrível, que acho que nunca ninguém teve em Portugal. Mesmo o festejo dele, acho que acaba por ajudar nisso. É um grande jogador, acabámos por também tirar muito proveito disso e daquilo que ele veio acrescentar. E estamos felizes que ele esteja cá connosco.

Gyokeres e Trincão a festejar um golo a meias (GrafisLab)

— Já lhe perguntou o significado do festejo?

— Ainda não, estamos à espera. Se estou curioso? Ele há de dizer, sou paciente, espero.

— Qual foi a chave do sucesso para esta época que levou o Sporting a tão almejado título nacional?

— Consistência. Acho que desde o início sempre jogámos bastante bem, criámos muitas oportunidades e fomos superiores em quase todos os jogos. Portanto, acho que foi muito através da consistência, sempre mantivemos um nível de jogo muito alto. Conseguimos marcar mais golos do que os adversários e ganhar os jogos.

— Se lhe pedir para me apontar os pontos fortes e pontos fracos da equipa, estamos a uma jornada do final, não vai entregar o ouro ao bandido, o que é que aponta?

— Não sou muito de analisar futebol, sou mais de jogar. Não sei, diria que este ano marcámos muitos golos, ofensivamente fomos muito fortes. Acho que talvez deverá ser esse o nosso ponto mais forte, foi mesmo termos conseguido criar muitas oportunidades e fazer muitos golos. Os pontos mais fracos, gosto de acreditar que não temos nenhum. Mas acho que deixo isso mais para o mister responder, porque ele deve ser muito mais capaz do que eu para responder àquilo que temos de melhorar ou não.

— O Estádio José Alvalade foi uma autêntica fortaleza, a equipa ganhou todos os jogos. Quais são as expectativas para o último jogo em casa, amanhã, frente ao Chaves?

— Queremos muito ganhar porque queremos chegar aos 90 pontos, também queremos tornar a nossa casa uma fortaleza e acabar a época sem empates e sem derrotas, só vitórias esse é o nosso objetivo.

— Fazendo jus ao lema do Sporting?

— Sim. Esforço, dedicação, devoção e glória. Exatamente.

SONHO DE MENINO

— Qual o sentimento de ter sido campeão nacional e como é que viveu os festejos?

— É um bocado estranho porque acho que ainda não me caiu bem a ficha de ter sido campeão, acho que só mesmo quando a época acabar e tiver calma e tempo para pensar nisso é que vou ter noção. Os festejos foram incríveis, as pessoas fizeram com que fosse incrível e é repetir, é querer fazer mais.

— Uma vivência especial a ida ao Marquês e todo o ambiente.

— Sim, completamente, desde o início, desde que saímos do estádio, o caminho todo, as pessoas sempre a correr atrás do autocarro, foi uma coisa única.

— Preferia ter sido campeão durante um jogo ou da maneira que foi?

— De qualquer forma [risos], a mim não me interessava muito, queria ser o mais rápido possível, portanto, fiquei feliz que fosse antes de jogarmos.

— Enquanto estavam reunidos a ver o jogo do Benfica, havia aí um nervoso miudinho?

— Não estava muito. Sinceramente, não tinha muita expectativa, não estava à espera que o jogo fosse correr assim. A partir do momento em que o Famalicão faz o primeiro golo comecei a acreditar um bocadinho mais e depois acabou por acontecer aquilo que queríamos.

É contido nos festejos, mas a saltar por dentro

Francisco Trincão é pouco efusivo nos festejos de golos, apesar de o seu semblante não esconder a felicidade do momento, sente-se a saltar por dentro, é certo, mas as reações são comedidas. 

Desafiado a recordar o primeiro dos três golos que marcou pelo Barcelona, o extremo recua a 7 de fevereiro de 2021, num jogo com o Bétis, que os blaugrana venceram por 3-2 e, divertido, revela como celebrou.

«Lembro-me sim, acabei por recuperar uma bola e depois chutei, a bola bateu no travessão e entrou. O festejo? Sim, sou bastante [acanhado]. Fiz assim [gesto do polegar esticado], não foi? Porque na altura jogava Call of Dutyok com os meus amigos e tinha lá um gesto que se podia fazer assim e um amigo meu tinha dito que quando marcasse um golo para fazer isso, foi esse o significado», conta. 

«EMPATE É O FIM DO MUNDO»

Antes de ingressar no Sporting, Trincão foi emprestado pelo Barcelona ao Wolverhampton, tendo feito parte da armada lusa, sob o comando técnico de Bruno Lage. Cumpriu 30 jogos, marcou três golos e fez uma assistência.

«Acaba sempre por ser uma boa experiência, também não tinha bem noção do que era o futebol inglês. Um bocado estranho porque falava-se muito português, nunca foi o típico inglês, mas foi uma experiência excelente, deu para jogar contra grandes jogadores, em estádios sempre cheios, em ambientes incríveis e para mim foi uma forma de crescer e ser o jogador que sou», respondeu.

Questionado sobre a pressão que sentiu nos três campeonatos por onde passou, Trincão não hesita: «Temos muito mais pressão em Portugal, temos de ganhar todos os jogos, um empate é o fim do mundo, somos um país que vivemos bastante o futebol. Por muito que digam que há outros países que vivem muito o futebol, acredito que Portugal é dos países no mundo que mais vive o futebol.»