Respostas a Varandas e Amorim e possível último jogo no FC Porto: tudo o que disse Sérgio Conceição
(Foto: ANTÓNIO COTRIM/LUSA)

Respostas a Varandas e Amorim e possível último jogo no FC Porto: tudo o que disse Sérgio Conceição

NACIONAL25.05.202420:59

Treinador do FC Porto desvalorizou o discurso do presidente do Sporting, elogiou bastante o seu colega de profissão e adversário deste domingo, assim como o capitão dos dragões

Na conferência de imprensa de antevisão à final da Taça de Portugal, Sérgio Conceição deu conta da indisponibilidade de Pepe e falou ainda do discurso 'incendiário' de Frederico Varandas, presidente do Sporting, bem como da possibilidade de este ser o último jogo enquanto treinador dos dragões.

O que espera desta final com o Sporting e que equipa os adeptos do FC Porto podem esperar? E já agora se poder esclarecer a questão do Pepe.

A minha opinião sobre o jogo é, e começo já por dar os parabéns ao Rúben, porque estive a ver com atenção a sua conferência e a do Francisco Trincão, porque não são conferências fáceis. Dá-me a ideia que muitas vezes existe o jornalismo que é um bocadinho mais comercial do que verdadeiramente ir ao fundo da questão e do que se quer para o jogo de amanhã em termos de opiniões dos treinadores e dos jogadores. É mais pelo clique do que propriamente pela verdadeira opinião e o sentimento que nós treinadores e jogadores vivemos nestes momentos. Eu espero um jogo competitivo, um jogo difícil, como foi dito, perante uma equipa que não perde desde março, penso eu que a última derrota foi frente à Atalanta.

Uma equipa extremamente bem orientada com uma equipa técnica e um treinador com qualidade e com jogadores individualmente fortes, coletivamente uma equipa forte também. Eu penso exatamente o mesmo da minha equipa, trabalhamos de forma, num jogo que pode ser com prolongamento e com penáltis, trabalhamos de forma a ganhá-lo.

Vamos fazer tudo por isso, porque acho que é mais um título importante para o nosso clube e é isso que estamos focados. Em relação ao Pepe, estivemos até agora à hora de subir as escadas aqui, ainda tive aqui uma última tentativa para tentar perceber o estado físico, mas infelizmente para nós não pode dar o seu contributo amanhã. Tem evoluído de uma forma muito positiva e vamos jogar com outro jogador no lugar do Pepe e com o Pepe sempre aqui a dar-nos aquela força, e com a capacidade que ele tem de ser um líder, não só dentro do campo como fora do campo também. Já vi um sorriso ou outro pelo Pepe não jogar (risos), estou a brincar, estou a brincar, é para aliviar aqui um pouco.

Na conferência do Sporting, Rúben Amorim arriscou o onze do FC Porto, aí pelos vistos já falhou, queria perguntar se quer arriscar o onze do Sporting.

Sim, mas não é difícil, penso eu, não será difícil. Querem que eu o diga, sim? Ai é? Tão curiosos? Diogo Pinto será, porque, evidente, um guarda-redes. Eu penso que os três centrais serão o Diomande, o Coates e o Gonçalo Inácio, nas alas laterais é o Rúben (risos), não? Laterais será o Geny e o Nuno Santos, laterais alas, no fundo, no meio-campo o Hjulmand e o Morita, na frente o Trincão, Gyokeres e o Pote, penso eu que será esse o onze do Sporting, mas trabalhámos com a possibilidade de jogar um Paulinho, por exemplo, no decorrer do jogo haver essas mudanças pode ser importante. Enfim, cabe-nos antecipar cenários e perceber o que podemos encontrar no início do jogo, que é importante, mas no decorrer do mesmo.

O que é preciso fazer para travar este Sporting, que ainda não venceu esta época? O FC Porto normalmente nestes jogos engradece, fisicamente e mentalidade está muito rotinado para finais e é uma equipa que se apresenta para as vencer, mas o que é preciso fazer depois desses dois jogos para o campeonato?

Eu acho que o importante nestes jogos em termos daquilo que são as características sermos muito fiéis àquilo que somos como equipa. Temos uma ambição muito grande, uma determinação também elevada, eu acho que isso se adquire naturalmente pelo ambiente, pelo dia que é, por ser uma final. E depois acho que a intensidade, a agressividade nestes jogos, tudo aquilo que é o plano traçado para o jogo, ou seja, a estratégia, e tudo nas suas tarefas dar um nível alto e depois acho que faz parte, e eu acho que não sei viver sem isso, é a paixão. Acho que todos nós, intervenientes diretos no jogo, vivermos este momento com esta paixão, com esse brilho no olhar, as coisas acabam por correr bem, sem dúvidas.

O Sérgio disse que ganhar seria importante porque era mais um título importante para o clube, mas também uma justa e merecida homenagem para a Pinto da Costa. Ao fim de 42 anos entregar-lhe essa festa, gostava de o ter no banco ao lado neste último jogo?

Eu já me manifestei sobre isso e penso que não vale apena estar a falar outra vez de uma situação onde já por duas ou três vezes me manifestei.

Usou as declarações de Frederico Varandas no balneário para motivar de alguma forma os seus jogadores para esta final, como disse Rúben Amorim?

Eu estou atento às declarações de Rúben Amorim e Francisco Trincão, de quem está na folha e é interveniente direto no jogo, não estou atento às outras pessoas que no fundo pertencem aos clubes e não fazem parte da ficha de jogo, no fundo.

Pode tornar-se no terceiro treinador a conseguir quatro Taças de Portugal, esse historial também pesa na hora de preparar um encontro? Quer ficar marcado na história do futebol nacional e da prova?

Sinceramente, eu não vivo com isso. Isso faz parte do que é uns anos de muita dedicação, de muita paixão, de muito trabalho e sacrifício, de muitas horas que faltei à minha família para poder ganhar, e nestes sete anos, quase tantos títulos como os nossos dois rivais juntos. Eu estou completamente focado e concentrado como se fosse o meu primeiro título, amanhã, e é isso com que eu vivo, porque, no fundo, no passar da história, tenho muito respeito pela história de cada uma das pessoas que faz parte do grupo de trabalho, como é o caso do nosso presidente, que são centenas e centenas de títulos que conseguiu através da sua capacidade de trazer para o nosso clube, mas o título mais importante é aquele que temos amanhã pela frente, porque é o próximo e aquele que temos neste momento. E é com esse sentimento que eu vou ver o jogo amanhã.

O Rúben Amorim já falou algumas vezes sobre beber uma cerveja, você por acaso também já falou sobre isso. Como seria esse ambiente? E Rúben disse que o Sérgio foi o treinador mais difícil que defrontou nos quatro anos, nos seus sete anos, o Rúben é o mais difícil?

Começando já aí. Acho que essas declarações do Rúben foram sinceras, porque a essa hora penso que já tenha bebido umas cervejinhas para dizer isso. Eu acho que era mais fácil para nós, olhando para aquilo que é o nosso carácter e acho que é absolutamente normal no final, fica mais difícil, um porque ganhou e outro porque perdeu. Eu quando perco em casa sou uma pessoa difícil também, às vezes perco um bocadinho do apetite, aquela cervejinha já não entra, já não vai. Portanto antes do jogo e desta conferência eu achava bonito fazê-la com o Rúben, não me importava nada e tinha todo o gosto em fazer esta antevisão da final, hoje, com ele, não tinha problema nenhum. No final já é difícil, é difícil porque são sentimentos diferentes, estados de espírito diferentes, e acho que aí muito sinceramente, tão competitivos como somos, acho que seria mais difícil fazer no final. Dois ou três dias depois, se calhar, passando um bocadinho da azia ou da euforia, se fosse o caso, de certeza que seria mais fácil estarmos juntos, como dois treinadores, dois homens que amam o futebol, e partilhar algumas situações convosco, acho que sim. Como eu disse, a equipa do Sporting é uma equipa que nós olhamos para aquilo que é a sua estrutura, para aquilo que é a sua dinâmica e parece fácil de desmontar, muita largura, atacar a profundidade com muita facilidade, quem é que o faz, quem é que provoca isso. Em que zonas do campo é que o fazem também, mas depois fica difícil se não tivermos concentrados, focados e não trabalharmos algumas situações de contrariar. É um treinador que, dentro do 3-4-3 ou 3-5-2, por vezes que ele utiliza, tem muitas nuances dentro do jogo que dificuldade a vida aos adversários e ele tem evoluído ao longo do tempo e tem sido um treinador muito capaz e com certeza que vai ter um futuro brilhante porque aquilo que me diz, tudo aquilo que é essa solidez, essa consistência que ele tem ao longo deste tempo, diz-me exatamente isso. Enfim, não digo que é o mais difícil, mas é um treinador numa equipa difícil, de defrontar isso sem dúvida nenhuma.

Amanhã vai ser o seu jogo número 378 no comando técnico do FC Porto, pode ser o último, de alguma forma essa possibilidade passou-lhe pela cabeça durante a semana?

Passou, para ser sincero passou, mas o mais importante é amanhã o jogo da taça. Sobre o meu futuro, o meu futuro não está dependente de nenhuma conversa, quem decide o meu futuro sou eu. E se o meu futuro for sair do FC Porto, é com um sentimento de imensa gratidão e de dever cumprido, ou seja, o meu sentimento é de que estive na altura da exigência do FC Porto, como estive habituado. Quando o meu pai me deixou no Porto à frente do Estádio das Antas, e por falar nisso, eu naquele momento tive a sensação de que tudo era imenso, tudo era enorme, eu nunca tinha saído da minha aldeia, tinha ido para Coimbra estudar, mas ia e vinha no mesmo dia. E entrar numa cidade como o Porto e estar à frente de um estádio como o das Antas foi inacreditável, o sentimento que eu tento hoje é exatamente isso, de dever cumprido, se tiver de sair, porque sou eu que vou decidir. Voltar nestes sete anos a ter a hegemonia do futebol português o FC Porto, porque esteve quatro anos sem ganhar nada antes de eu chegar aqui. Saber que em três anos de fair-play financeiro, dois anos de pandemia e este ano muito atribulado com as eleições, nós conseguimos ganhar tantos títulos como os nossos dois rivais.

Eu sempre digo, para ter contrato no FC Porto, onde o contrato não faz o jogador nem o jogador, ok, e se o meu caminho no FC Porto me enforcarem, se posso dizer assim, se me enforcarem, eu saio com a mesma dignidade que entrei, ou seja, amanhã, se for o meu último jogo, o FC Porto paga-me até ao dia de amanhã e eu vou embora sem nada, porque isto fez muita comichão. Eu sou o Sérgio Conceição, não sou o Sérgio Comichão, e, portanto, isto fez muita comichão a muita gente, eu vou embora sem levar um tostão, pagam-me até ao dia em que eu trabalhei, com a mesma dignidade com que eu entrei, aquela com que eu saio. Foi muito falado, para antecipar aqui alguma ou outra pergunta, aquilo que foi a minha assinatura dois dias antes das eleições, é fácil, porque há uma das características que eu não abdico, é inegociável para mim, pela pessoa que tem mil e tal títulos no clube e por quem me trouxe para aqui com 15 anos. A partir desse momento, os nossos caminhos dividem-se, nem um tostão do FC Porto, e que fique claro isto. E desculpem esta resposta tão longa, estava aqui e tinha de a soltar e achei que tinha de ser hoje, não sei porquê.

Do que é que não abdica para continuar no FC Porto, que condições para si são inegociáveis?

Sobre isto, está falado. Jogo com o Sporting, jogo de amanhã, a final, isso é que é importante. Vamos embora.

Francisco Conceição foi chamado para a seleção para um Europeu pela primeira vez, pergunto-lhe acima de tudo enquanto pai, até porque já é um palco que também conhece, o que sentiu e se já lhe deu alguns conselhos para essa fase final?

Os conselhos que eu dou aos jogadores são diários, as duras são diárias, os ajustes são diários, por isso o Francisco faz parte do lote de jogadores que temos aqui no FC Porto, podia ser convocado e foi convocado, estou feliz por ele, pelo Pepe, pelo Diogo, na seleção portuguesa e pelos outros nas outras seleções que foram convocados, fico sempre muitíssimo feliz. Dou-lhes conselhos, dou-lhes algumas duras também, é verdade, trabalhamos muito e eles trabalham muito e a minha recompensa é deles, não ao Pepe, que já está há muitos anos na seleção, é chegarem pela primeira vez às diferentes seleções, como foi o caso do Evanilson que foi convocado agora para a seleção do Brasil e tantos outros ao longo da minha caminhada como treinador. Eu e da minha equipa técnica, claro, quando falo eu…

Há pouco o Sérgio disse que não liga a discursos de presidentes, de quem não está dentro do jogo propriamente dito, mas certamente as palavras de Varandas lhe chegam. Entre o discurso do presidente do Sporting e os elogios do treinador do Sporting, o que é que mexe mais consigo antes dessa final?

Nem um nem outro, são opiniões, são discursos. Eu tenho de olhar para o discurso do Rúben, enquanto treinador, para ver se consigo esmiuçar alguma coisa para amanhã, isso sim, porque o que conta é o jogo de amanhã, a forma como podemos parar o Sporting, a forma como estávamos aqui a falar como atacam, e não é só o Gyokeres que ataca, e que ataca bem. É uma equipa que fez muitíssimos golos, ficou à frente das outras equipas em muitos golos, no processo defensivo também anda perto da melhor defesa, fomos nós penso eu, e o Sporting logo a seguir. Enfim, temos de olhar para a ficha de jogo, no sentido de olhar quem está lá, quem pode entrar no jogo e ser importante, os treinadores estão no banco, o que podem ajustar durante o jogo. Isso é que é importante, o resto não dou muita importância, sinceramente. Atenção, mas vejo e ouço e tiro as minhas conclusões, mas para mim o que é importante é isso.

Qual das duas equipas tem mais pressão? O Sporting não ganha uma dobradinha há mais de 20 anos, o FC Porto não conquistou qualquer trofeu esta temporada, até pode ser o seu último jogo no banco do FC Porto.

A pressão faz parte do jogo, das equipas que querem ganhar, das equipas que estão habituadas a ganhar, é verdade que o Sporting não conquista há muito tempo uma dobradinha, nós em sete anos conseguimos duas. Isso não nos dá, de certa forma, um sentimento de relaxar no jogo, não, pelo contrário, o Sporting tem muita vontade de fechar o ano da melhor forma, nós temos muita vontade de beber duas cervejinhas no final para comemorar e a pressão faz parte do jogo, faz parte daquilo que é essa paixão que quem vai lá para dentro do campo tem e está habituado a estar num jogo que quer ganhar títulos e que vive de títulos no fundo.

Rúben disse que o Sérgio é dos mais inteligentes nestes momentos e que foi dos mais difíceis de vencer, e que por isso é bom que o Sérgio fique em Portugal, por outro lado quer que o Conceição vá para fora. Também deseja o mesmo, que Rúben Amorim fique ou vá para fora?

Não deve ser o único. Eu desejo que ele tenha muita saúde, ele e a família dele, isso é que é importante. Ou seja, na nossa vida profissional, acho que quando defrontamos os melhores estamos sempre a ganhar, evoluímos. Temos de arranjar forma e estratégia de desmontar no fundo o plano e estratégia do outro treinador e isto é no fundo a luta do gato e do rato, ou seja, depois de tanto conhecimento tão profundo daquilo que são as equipas, o que é que se pode fazer ainda para…

Quem é o gato e quem é o rato?

Nós somos dragões (risos).