No dia do 40.º aniversário de Cristiano Ronaldo, Pepe, que pendurou as chuteiras no verão, falou sobre a relação com o avançado. «Tenho um momento com o Cris que nunca me vai sair da memória. Apesar de ter perdido a memória, perdi um pedaço desse jogo. Foi no primeiro jogo do campeonato contra o Valência. Eu recebi uma pancada do Iker [Casillas], abri a cabeça e fui para o hospital. Ainda entrei no jogo [antes disso]. Faltavam cinco minutos, entrei depois do intervalo e, pronto, a partir daí já não me lembro de mais nada. Lembro-me que, quando acordei no dia seguinte no hospital, estava ainda com o equipamento do Real Madrid amarrado na cama. Depois, ia perguntar à minha família o que tinha acontecido, à minha mulher, que estava a cinco dias de ter a minha filha mais velha, que é a Angeli, e na notícia vejo que o Cris tinha estado lá no hospital!», referiu, sobre as oito temporadas com CR7 no Real Madrid, em entrevista à Renascença. Depois de oito anos, Pepe rumou ao Besiktas, enquanto Ronaldo continuou em Madrid. «É assim, eu falava muito com ele e ele dizia para eu ficar no Real Madrid. Só que eu acho que já tinha chegado o meu tempo no clube, porque foram 10 anos de muita exigência, onde eu abdiquei de muito tempo. Eu tentava explicar-lhe que já não conseguia estar ali pelas dificuldades que estava tendo nessa altura e ele dizia assim: ‘Se é pelo dinheiro pá, eu abdico do meu dinheiro para te dar!’. E eu disse que não: ‘Graças a Deus não é por isso, é por outras questões’. Eu também queria voltar a sentir o futebol, e pronto, optei por ir para a Turquia», disse, recordando a final do Euro 2016, em Paris, em que a Seleção Nacional derrotou França e conquistou o inédito Campeonato da Europa. «Sim, foi o momento mais alto para os dois. Ronaldo já jogou muitas finais. Numa das finais, se não me engano no ano de 2016, em Milão, nós estávamos a almoçar – eu acho que ele até já tornou isso público – e ele falou assim: ‘Não me está a descer a comida’ [risos]. Estávamos ali eu, o Marcelo, outros jogadores, e começámos a olhar uns para os outros: ‘Se ele está assim, imagina como estamos nós’ [risos]. Por isso começámos a dizer-lhe: ‘Cris, se tu estás assim, imagina nós! Jesus, como é que vai ser o jogo?’. Ele assim: ‘Eh pá, mas é só os primeiros minutos’, contou. «A comida não descia antes de uma final. O Cris estava assim, imagina como é que ele estava, o nível de stress. Acho que as pessoas nem imaginam a responsabilidade. Ele tinha muita responsabilidade, porque ele era a bandeira do Real Madrid, jogou uma segunda final com o Atlético Madrid. Nós tínhamos aquele bichinho de termos de ganhar um título por Portugal. Acho que nós merecíamos ganhar um título e ele particularmente», prosseguiu. Pepe lembrou o último encontro por Portugal. Depois da derrota com França nos penáltis, o antigo defesa-central abraçou CR7. «Custa um bocado falar porque a nossa trajetória foi muito paralela, nós os dois, muita troca de sentimentos, muita partilha entre mim e ele. Cumplicidade, exatamente, do que eu sentia em vários momentos de jogo, em vários momentos de treino, em vários momentos da nossa vida, do que era o nosso dia a dia. Se tentou dissuadir-me? Não, acho que ele sabe que é uma decisão muito pessoal. Acho ele também me conhece perfeitamente, como eu o conheço a ele. Obviamente que dizemos “ainda dá para ir mais um bocadinho, dá para ir mais um bocadinho”, principalmente quando pensamos que um dia esse momento vai chegar para ele. É triste para nós, porque estamos habituados a ligar a televisão e vê-lo dentro de campo, vê-lo a jogar, vê-lo a marcar o jogo», atirou. Pepe disse ainda imaginar Ronaldo no Mundial 2026: «Estou, estou (risos). Imagino. Gostaria muito que ele estivesse.»