Acabou o tempo de Paulo Fonseca, começou o de Sérgio Conceição no Milan. O técnico português foi substituído pelo compatriota após apenas meia época e 24 jogos ao comando dos rossoneri. A rescisão de Fonseca foi confirmada ontem pelo próprio e pelo clube e, esta segunda-feira, Conceição chegou a Milão para preparar o novo desafio na carreira, o primeiro desde que, no final da época passada, deixou o FC Porto. Muitas dificuldades frente aos rivais O peso histórico de um clube como o Milan contrasta com o momento que atravessa, sobretudo na Serie A. A saída de Stefano Pioli deu-se após uma época em que a equipa de Milão terminou em segundo lugar no campeonato, só atrás do rival Inter. Neste momento, as coisas estão bem mais difíceis: à 18.ª jornada. os rossoneri estão em oitavo. É certo que tem menos um jogo disputado que equipas como Atalanta, Nápoles ou Lázio, mas também tem mais um jogado que o Bolonha, que está em sétimo, um lugar que podia ser, neste momento, da equipa de Rafael Leão, se esta tivesse batido a Roma. São já 14 pontos que separam o Milan do topo da tabela. E a luta pelo scudetto ainda nem vai a meio... Nestes 17 jogos, o Milan ganhou apenas sete. E, nestas partidas, somou derrota com o Parma ou empates com Torino, Génova e Cagliari. Dos sete clubes que estão acima na tabela, falta apenas defrontar o Bolonha. Nos outros seis, o registo é extremamente negativo: seis jogos, três derrotas, frente a Fiorentina, Nápoles e Atalanta, dois empates, com Lazio e Juventus e apenas uma vitória, frente ao rival Inter. O Milan mostrou muitas lacunas nos confrontos diretos com os rivais, lacunas essas que também foram potenciadas por vários problemas físicos: Pulisic, por exemplo, era o melhor marcador quando se lesionou. Agora, é Leão que desfalca a equipa. Mas não foi só por questões de inaptidão física que o internacional português, uma das grandes estrelas do plantel, não foi indiscutível. A guerra de balneário Um dos grandes trabalhos que Paulo Fonseca tinha no Milan era de gestão de balneário. A equipa mostrava alguma desorganização com Stefano Pioli, a começar pelos capitães de equipa, Calabria, Theo Hernández e Rafael Leão. E o técnico português não mostrou quaisquer problemas em travar essa batalha. Rafa Leão foi o primeiro visado pelo técnico e foi, várias vezes, colocado no banco, segundo a imprensa italiana, por falta de compromisso com os colegas, sobretudo a nível defensivo. O avançado não foi, contudo, quem mais colidiu com o treinador: Paulo Fonseca chegou a admitir que não estava satisfeito com Theo Hernández e, após empate a três com o Cagliari, terá dito no balneário que «ninguém é mais importante que a equipa». Segundo a Gazzetta dello Sport, era um dos três que, juntamente com Calabria e Tomori, tinham ordem de saída do clube. Isto, claro, se Paulo Fonseca tivesse mantido o cargo. Sérgio Conceição não é interesse recente do Milan. No verão passado, o técnico, que havia deixado recentemente o FC Porto, foi um dos escolhidos para suceder a Stefano Piolo. A escolha recaiu sobre Paulo Fonseca, que tinha acabado a temporada no Lille, mas, com os maus resultados, o nome de Conceição voltou a surgir na discussão e, agora, confirmou-se. E, apesar do mau momento que se vive no lado vermelho e negro de San Siro, nem tudo é mau. A posição na Liga dos Campeões, a presença na Taça e algumas surpresas podem ajudar a transição de treinador. Afinal de contas, nem tudo foi mau com Paulo Fonseca. A ascensão de Jiménez e a confirmação de Reijnders podem continuar em todas as frentes A necessidade de Paulo Fonseca de aplicar mão firme em Theo Hernández potenciou uma estreia: Álex Jiménez, lateral-esquerdo vindo do Real Madrid este verão, teve a oportunidade de mostrar serviço. E fê-lo com distinção. O espanhol tem mostrado capacidades surpreendentes na ala esquerda da defesa, com profundidade, criatividade e entrega ao jogo. Jiménez pode, também, jogar mais à frente, juntamente com o lateral francês, e tem sido essa a sua posição desde que Leão se lesionou. 19 anos de idade de qualidade. Uma surpresa que surgiu ao lado de uma já certeza que se confirmou ainda mais: Tijjani Reijnders. Num plantel com Rafael Leão, Pulisic, Morata ou Tammy Abraham, é o médio neerlandês que tem sido a grande figura ofensiva. Começou como médio defensivo, mas tem vindo a subir no terreno e já é, com 10 golos, o melhor marcador do Milan. Pode fazer qualquer função no meio-campo e junta a capacidade com bola à intensidade sem ela. Tem todas as características para ser uma das principais figuras no jogo de Sérgio Conceição, que terá de se virar para muitos lados. O Milan, oitavo classificado da Serie A, é 12.º classificado da Liga dos Campeões e está em zona de apuramento para o play-off de acesso aos oitavos de final da prova milionário. Está, também, nos quartos de final da Taça de Itália e prepara-se para, na estreia de Conceição, disputar as meias-finais da Supertaça Italiana. São quatro competições e, em pelo menos duas delas, a Taça e a Supertaça, os rossoneri têm hipóteses reais de lutar pelos troféus. A estreia de Sérgio Conceição, com um encontro familiar, dá início a um mês de boas-vindas... infernal. «Prepara-te, pai»: 33 dias loucos para começar Entre 3 de janeiro e 5 de fevereiro, o Milan prepara-se para jogar nove ou dez jogos, tudo dependerá do resultado na meia-final da Supertaça. Essa meia-final, no dia 3 de janeiro, é logo contra... Francisco Conceição, seu filho, que joga na Juventus, pelo acesso à decisão da prova, contra Inter ou Atalanta, no dia 6. A 11, enfrenta o Cagliari, a 14 joga com o Como e, no dia 18, volta a enfrentar a Juve, todos estes para o campeonato. Seguem-se Girona, a 22, Parma, a 26 e Dínamo Zagreb, a 29. A 2 de fevereiro há Derby della Madonnina, frente ao rival Inter e, três dias depois, fecha-se este ciclo com os quartos de final da Taça, frente à Roma. Previsões podem ser precipitadas, mas, se sobreviver a este ciclo, Conceição estará, provavelmente, bem encaminhado.