O desejo de Cancelo: como correram os outros regressos no Benfica?
Rui Costa no último jogo pelo Benfica e na carreira, a 11 de maio de 2008 (Foto: Álvaro Isidoro/ASF)

O desejo de Cancelo: como correram os outros regressos no Benfica?

NACIONAL24.03.202421:00

De Di María a Humberto Coelho, passando pelo atual presidente Rui Costa; viagem aos casos de quem voltou e continuou a fazer a diferença

A história de regressos no Benfica é feita, na maioria dos casos, de ciclos felizes. O tema volta a estar presente na agenda das águias após a entrevista de João Cancelo publicada ontem nas várias plataformas de A BOLA, na qual revela esse desejo.

«Tenho um vazio por não ter jogado uma temporada no clube, mas acho que esse momento poderá chegar e vou estar disponível. Espero muito voltar ao Benfica, é o clube do meu coração, seria um prazer, no futuro, representar este grande clube», disse o lateral-direito atualmente ao serviço do Barcelona.

Se tal vier a ocorrer, o futebolista formado no Seixal iria engrossar uma lista relativamente restrita. Porque, efetivamente, não houve assim tantos jogadores que voltaram depois de fazerem longa carreira no futebol europeu.

Mais de duas mil pessoas acorreram ao Estádio da Luz em julho para a apresentação de Di María (Foto: Sérgio Miguel Santos/ASF)

Di María é o caso mais recente: o argentino decidiu representar novamente as águias 13 anos depois da sua saída e a decisão foi calorosamente saudada pelos benfiquistas, que se dirigiram em massa ao Estádio da Luz para recebê-lo, numa cerimónia de contornos inéditos no novo recinto.

Até agora a história está a ser positiva do ponto de vista do desempenho individual: aos 36 anos, o esquerdino vai na sua terceira época mais concretizadora, com 15 golos em todas as competições (melhor só os 21 golos em 2017/2018 no PSG e os 19 golos em 2018/2019 também nos parisienses), falta saber se em termos coletivos também cantará sucesso tendo em conta que a equipa ocupa o segundo lugar do campeonato e pode não depender de si própria para ser campeã (caso o Sporting vença o jogo em atraso com o Famalicão) — embora também ainda esteja na Taça de Portugal e na Liga Europa.

Rui Costa em 2006/2007, na primeira época após o regresso (Foto: Miguel Nunes/ASF)

A receber o campeão do mundo esteve Rui Costa, hoje presidente e aquele que havia sido até aí o último jogador a regressar depois de muitos quilómetros percorridos noutros relvados europeus. Ao fim de 12 anos ao serviço de Fiorentina (sete épocas) e Milan (cinco temporadas) e aos 34 no BI, o maestro voltou a vestir a camisola 10 e fê-lo por dois anos, embora sem o impacto desejado: por causa das lesões fez apenas 22 jogos em 2006/2007 (um golo e quatro assistências) na época seguinte esteve em 45 partidas (10 golos e cinco assistências), mas terminou a etapa sem quaisquer títulos conquistados.

A exceção Chalana

Nuno Gomes festejando novamente de águia ao peito (Foto: Rui Raimundo)

Antes de Rui Costa foi Nuno Gomes a protagonizar o papel do bom filho que retorna a casa. Dois anos depois de se ter transferido para a Fiorentina e aproveitando a crise financeira em que o clube de Florença mergulhou, Luís Filipe Vieira resgatou-o para nove temporadas seguidas, onde viria a conquistar dois campeonatos, uma Taça de Portugal, três Taças da Liga e uma Supertaça.

Mas foi na década de 90 do século passado que se registaram a maior parte de casos como aquele que Cancelo gostaria de personificar. Três deles com brasileiros e melhores estrangeiros da história do Benfica: Mozer, Ricardo Gomes e Valdo. Só um, no entanto, foi campeão na segunda passagem: Carlos Mozer em 1993/1994, nas duas épocas e meia seguintes aos dois anos passados em Marselha, onde entrou em 1989 depois de duas temporadas de sucesso na Luz.

Carlos Mozer voltou a sagrar-se campeão nacional, em 1993/1994 (Foto: ASF)

Quanto a Ricardo Gomes, voltou em 1995, aos 30 anos, depois de quatro temporadas no Paris Saint-Germain, mas só fez uma época, conquistando uma Taça de Portugal. A acompanhar o central no trajeto esteve o compatriota Valdo, que passara quatro anos na capital francesa. O talentoso médio e internacional brasileiro realizou duas temporadas (1995 a 1997), com o mesmo brilho individual mas sem vencer qualquer campeonato.

Valdo e Ricardo Gomes regressaram em 1995, provenientes do PSG (Foto: ASF)

Já o caso de Rui Águas foi especial: voltou depois de ter representado um rival durante duas épocas (1988 a 1990), no caso o FC Porto. Ficou quatro anos, tendo conquistado dois campeonatos e uma A BOLA de Prata para o melhor marcador do campeonato (1999/1991).

Equipa da época 1982/1983, que tinha os regressados Humberto Coelho, João Alves e ainda Fernando Chalana, que sairia em 1984 e voltaria três anos depois (Foto: ASF)

Nesta viagem de regressos não podiam ficar de fora duas glórias do Benfica e com a etapa PSG_de permeio. João Alves representou o clube francês apenas durante a temporada 1979/1980, voltando a casa para três épocas bem sucedidas, vencendo dois campeonatos e duas Taças de Portugal. Quanto a Humberto Coelho, foram nove temporadas depois de dois anos no estrangeiro (um no PSG e outro no Las Vegas Quicksilvers, dos EUA). E_venceu tanto quanto havia ganhado antes da experiência fora de portas.

O episódio de menor sucesso acabou por ser o de Fernando Chalana. Depois de três anos no Bordéus apresentou-se na Luz (cujo Terceiro Anel já estava fechado graças à sua transferência para França) sem a mesma capacidade física e nunca chegou a ser o futebolista genial que fez dele um dos melhores de sempre das águias.

Foram eras e situações diferentes, mas a possibilidade do regresso de um homem da casa mexe sempre com as emoções dos adeptos. Será assim com João Cancelo?