RIO AVE-FC PORTO, 2-2 Mesmo com as redenções, é difícil sobreviver a tanto erro (crónica)
Nehuén e Otávio marcaram depois de terem oferecido vantagens ao adversário de forma quase inacreditável. Maior volume azul e branco esbarrou em Miszta e na boa organização vilacondense
O novo figurino do FC Porto de Martin Anselmi, com três defesas assumidos e não um líbero a descer para a construção, revelou-se um falhanço redondo. Não exatamente pelo processo defensivo, mas pelos erros clamorosos cometidos por todos os centrais na saída de bola. Foram cinco as bolas perdidas depois de controladas, no passe ou na tentativa de progressão — uma de Tiago Djaló, uma de Nehuén Pérez e três de Otávio. A de Pérez deu golo de Clayton perto do intervalo, a terceira de Otávio deu o 2-1 ao Rio Ave aos 73 minutos. Nehuén e Otávio marcaram o 1-1 e o 2-2, numa espécie de redenção, mas tal foi insuficiente para evitar o quarto jogo seguido do FC Porto sem vencer no campeonato.
O talento de Rodrigo Mora também não chegou — e aqui há que falar muito em Miszta, guarda-redes polaco do Rio Ave —, o tempo passa e os dragões ficam menos crentes, Samu está desinspirado há umas semanas e a equipa ressente-se.
Entrou mais assertivo o FC Porto, com Rodrigo Mora a dar o tom logo aos 25 segundos, obrigando Miszta à primeira de várias boas intervenções. Foram do jovem Mora, em transições entre a esquerda e o meio, as melhores acelerações durante o período de predominância portista. Teve mais três ou quatro aproximações ao guarda-redes polaco, com vantagem para este, e até de livre direto ameaçou.
Com o decorrer dos minutos, o Rio Ave foi acertando marcações. Adaptou-se ao 3x4x3 do FC Porto e percebeu que na retaguarda visitante não reinava a tranquilidade. Foi pressionando cada vez mais as saídas de bola dos três defesas-centrais. Aos 22 minutos foi Tiago Djaló a não encontrar o melhor caminho e a perder a bola para Clayton — valeu Diogo Costa; aos 35 foi a vez de Otávio, em lance que até deu direito a discussão entre companheiros de equipa — Kiko Bondoso perdeu a oportunidade; dois minutos volvidos, Neuhén Pérez imitou os companheiros de setor e desta foi fatal: Clayton segurou, controlou, progrediu e ainda beneficiou de uma escorregadela do argentino que derrubou Diogo Costa — estava o caminho aberto para o 1-0 com que se chegaria ao intervalo.
A segunda metade começou da melhor forma para o FC Porto. Mora continuava endiabrado e à segunda tentativa proporcinou a Miszta a melhor defesa da noite, corria o minuto 51. Canto, carambola entre Tiknaz e Moura e eis que Nehuén Pérez traz a primeira redenção da noite, empatando a partida. Até ao primeiro quarto de hora da segunda parte houve mais Porto, de novo, mas uma vez mais o Rio Ave soube reequilibrar-se a si e ao jogo. Perto dos 70 minutos saíram as jogadas dos bancos, mas mal deu tempo para se perceber quem se sairia melhor, visto que Otávio (entretanto amarelado e afastado do jogo de sexta-feira com o Sporting) cometeu o erro II (Clayton falhou escandalosamente) e o erro III, que Olinho não desperdiçou.
Continuava, porém, a pairar uma certa nuvem poética nos Arcos: três minutos depois, o ainda réu Otávio vingou-se da sorte e de si mesmo num remate forte de fora da área, que bateu em Ntoi e traiu o quase imbatível Miszta. Tudo igualado de novo, com o FC Porto a sentir que ainda havia tempo para alcançar a vitória mas sem encontrar discernimento, nesta fase e mesmo com as substituições, para contrariar a cada vez melhor organização dos donos da casa, que foram sempre controlando os danos sem deixar de tentar mais uma pitada de sorte... ou aproveitar mais um erro que surgisse lá nas traseiras portistas.
O Porto terminou com linha de defesa a 4, o Rio Ave com linha de 5, mas nestas alturas dos jogos só mesmo milagres ou talentos extremos lhes mudam a face. Não apareceram uns nem outros, até porque o único que parecia capaz disso já tinha saído aos 77 minutos. Esse mesmo, Rodrigo Mora.