Marco Guerreiro: «Tenho muitos Jotas Silva na minha equipa...»

Percurso do extremo do V. Guimarães inspira o selecionador da AF Lisboa; Retrata os desafios do jogador amador em Portugal; Revalidou título da Taça das Regiões

A chamada de Jota Silva, avançado do V. Guimarães, e as duas internacionalizações pela Seleção Nacional, na última paragem FIFA, são uma história inspiradora para os diversos escalões do futebol nacional. Há quem aproveite a ascensão meteórica do avançado de 24 anos para motivar os seus jogadores, como é o caso de Marco Guerreiro, selecionador da AF Lisboa, que conquistou, recentemente, a Taça das Regiões pelo segundo ano consecutivo, a terceira nos últimos cinco anos.

«Transmito-lhes a mensagem que é uma questão de oportunidade, de estarem no sítio certo na hora certa. Na minha equipa tenho muitos Jotas Silva que jogam a nível distrital, mas que têm qualidades para chegar ao futebol profissional. Eles não são diferentes dos outros, têm o mais importante: o talento. Só precisam de uma chance para mostrá-lo», garantiu o técnico em conversa com a A BOLA, explicando a importância de não desperdiçar oportunidades.

«Os treinos, os jogos, a seleção de Lisboa tudo são veículos de visibilidade. Felizmente, os jogadores, sejam eles jovens ou menos jovens, dão valor a este espaço e chegam aqui com orgulho e vontade de mostrar serviço. O Beto, que agora está ao serviço do Everton na Premier League, disputou esta competição com o Luís Nunes, antigo selecionador, e no ano seguinte estava no Campeonato de Portugal e agora está a fazer a carreira que toda a gente conhece. E como ele há outros, que não estão nos brilhantes holofotes de uma competição como essa, mas vão fazendo o seu percurso na Liga 3. Não digo que foi pela seleção da AF Lisboa, mas o facto de estarem aqui e saberem que os jogos vão passar na televisão aumenta o interesse dos agentes do futebol.»

Na final, frente à AF Braga [vitória muito sofrida, por 1-0], sobressaiu a figura de David Tomás, guarda-redes do Sacavenense, da Divisão de Honra da AF Lisboa, a quem Marco Guerreiro tece os mais rasgados elogios.

«Não é propaganda gratuita, mas é um guarda-redes fantástico, com condições para fazer parte de um plantel de Liga 2. Tem 23 anos, um bebé ainda para a sua posição. É daqueles que se a oportunidade surgir não fará má figura. No entanto, sou sensível à sua situação. Tem um trabalho estável e é complicado arriscar o certo pelo incerto, por um clube que não lhe vá garantir um contrato profissional. Essa é uma das principais razões para vermos tanto talento s desperdiçados por esses campos fora, não só em Lisboa. Muitos jovens são confrontados com a realidade da vida, em que eles têm de ser, muito cedo, os homens da família, sacrificando, muitas vezes, os seus sonhos e não é certo eu ou outra pessoa vender uma utopia de algo que, muitas vezes, não são eles que controlam», retratou.

No horizonte, Marco Guerreiro prepara a UEFA Regions Cup, que irá decorrer durante o último trimestre do ano.

«É verdade que é um torneio amador, mas os jogadores sentem-se e são tratados como internacionais. Estão a representar o País e não há maior honra. Falta-nos o título europeu, mas ele há de chegar. Temos alguns constrangimentos a nível regulamentar, como o facto de os atletas serem obrigados a estar inscritos na AF Lisboa há pelo menos duas temporadas. Apesar do leque de jogadores alargado, nem todos podem ser recrutados», destacou o treinador, que também desempenha a mesma função nos iniciados: «O Torneio Lopes da Silva [terá lugar entre os dias 23 e 30 de junho no distrito de Aveiro], é um objetivo.»

Recorde-se que a Madeira é a atual detentora do troféu, após vitória inédita da edição do ano passado.

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