Manuel Cajuda: «Só foi pena ter encontrado pela frente o super FC Porto do Mourinho...»

Manuel Cajuda: «Só foi pena ter encontrado pela frente o super FC Porto do Mourinho...»

NACIONAL22.09.202312:17

Atual presidente do Olhanense está na história do UD Leiria por ter conduzido os unionistas à maior goleada de sempre no segundo escalão há... 30 anos; triunfo dos leirienses diante do Belenenses (5-0), na última jornada da Liga 2, igualou a segunda melhor marca de sempre do clube fora de portas; voltaria, depois, a Leiria, para levar o emblema do castelo ao Jamor. Mas aí houve um nome que não o deixou ser feliz...

Manuel Ventura Cajuda de Sousa ou, simplesmente, Manuel Cajuda. Um nome que dispensa apresentações. Porque o currículo supera qualquer palavra. Porque foram quase quatro décadas no cargo de treinador e inúmeros os feitos alcançados. E foi, precisamente, um dos dados estatísticos que conseguiu ao longo do seu percurso que originou esta conversa com A BOLA.

E, para isso, é preciso recuar quase... 30 anos. Porque no dia 2 de janeiro de 1994, Manuel Cajuda guiou o UD Leiria à maior vitória de sempre da história do clube no segundo escalão nacional: 8-1, na receção ao Académico de Viseu. Surge esta efeméride na sequência da (também) goleada alcançada pelo emblema leiriense na passada jornada, diante do Belenenses (5-0).  O triunfo no Restelo passou a ser a segunda maior marca alcançada fora de casa pelos unionistas na referida competição, igualando o feito alcançado na época 1997/1998, no terreno do Felgueiras.

Mas voltemos, então, a Manuel Cajuda. Que, do alto dos seus 72 anos, denotou uma memória assinalável. «Esse jogo com o Académico de Viseu foi em Leiria», começou por dizer. «Certíssimo, mister. A questão é que é a maior vitória de sempre do UD Leiria no segundo escalão nacional», retorquimos. E, na senda da goleada imposta recentemente pela equipa (agora) orientada por Vasco Botelho da Costa, importa recordar este dado histórico. Porque, afinal, nos últimos quase 40 anos, ninguém conseguiu igualar nem superar o registo de Cajuda.

«Recordo-me perfeitamente desse jogo. Ao intervalo estávamos a ganhar 5-0 [golos de Luís Miguel, Pedro Miguel, Reinaldo, Leonel e Gervino] e quando cheguei ao balneário perguntei aos jogadores o que é que eles queriam que eu lhes dissesse. Não sabia mesmo! Lá acabei por lhes dar os parabéns pelo jogo que estavam a fazer e mandei-os para a segunda parte pedindo-lhes que se divertissem», graceja. E a mensagem passou. Na etapa complementar, os unionistas aumentaram ainda mais os números, com golos de Gervino e Pedro Miguel (ambos completaram o bis) e Dias. Pelo meio, Arsénio Miranda havia apontado o tento de honra dos viseenses.

Mas por muito importante e histórico que tenha sido esse resultado, a verdade é que o registo alcançado nesse jogo não foi o melhor momento da época. Porque, nessa temporada, Manuel Cajuda fez regressar o UD Leiria à elite nacional. O 2.º lugar alcançado na então 2.ª Divisão de Honra fez explodir a festa na cidade. E o título de campeão (alcançado pelo Tirsense, que somou 46 pontos, mais um que UD Leiria) ficou 'atravessado' na garganta do técnico. Mas o grande sonho da subida estava alcançado: «É uma época que guardo com muito carinho na minha memória, sem dúvida nenhuma. Entrei à 5.ª jornada, para substituir o Luís Campos, e estávamos no último lugar da tabela classificativa, com apenas dois pontos. Os jogadores foram fantásticos, fizemos uma recuperação verdadeiramente épica e acabámos por subir de divisão. E se o campeonato dura mais duas ou três jornadas ainda éramos campeões...»

As memórias desse tempo são tão fortes que se estendem à massa associativa unionista e ao antigo recinto leiriense. «Essa caminhada teve como grandes protagonistas os jogadores, que foram inexcedíveis desde o dia em que eu cheguei, mas também os adeptos. Acompanhavam-nos sempre para todo o lado e davam-nos uma apoio incansável. Tenho várias memórias do antigo Estádio Dr. Magalhães Pessoa completamente cheio, num ambiente de intenso fervor unionista. Grandes tempos, sem dúvida», relata, emocionado.

Mas deve, ou não, voltar-se a um sítio onde já fomos felizes? O trajeto de Manuel Cajuda desmistifica por completo essa questão: depois do brilharete em 1993/1994, eis que o técnico ajudou a escreveu mais uma página dourada na história do UD Leiria. Quase 10 anos depois, mais concretamente na época 2002/2003, Cajuda regressou à cidade do Lis e voltou a encantar. 

O treinador conduziu o clube do castelo ao 5.º lugar da Liga - igualando o feito alcançado pelos unionistas duas épocas antes, sob o comando de Manuel José -, mas foi ainda mais longe e logrou levar os leirienses à final da Taça de Portugal. O grande 'problema' foi ter encontrado do outro lado, no Jamor, um tal de... José Mourinho.

Qualidade de José Mourinho bastante elogiada por Manuel Cajuda

«Estar no Jamor é um marco histórico na vida de um treinador. Eu estive lá graças ao UD Leiria, aos jogadores e aos adeptos. Só foi pena ter encontrado pela frente o super FC Porto do José Mourinho. Acabámos por perder por 0-1, mas fizemos história», relembrou.

E José Mourinho? Já se percebia, nessa altura, que viria a chegar ao topo do mundo? A resposta de Cajuda não deixa margem para dúvidas: «Absolutamente! Havia algo que o diferenciava, que era a sua enorme perspicácia relativamente aos conteúdos de uma equipa de futebol. Começou a transformar a teoria que trazia do curso para a prática e fê-lo de uma forma brilhante. Depois, durante o seu caminho, até foi, na prática, contrariando a teoria, algo que o engrandece ainda mais. Para mim, é e será sempre um treinador de referência. Porque sabe, por mérito próprio, utilizar a inteligência e a resiliência. Entre muitos outros fatores. E fá-lo de uma forma perfeita.»