João Tralhão: «Benfica estará desejoso que chegue o jogo contra FC Porto»
Equipa do Benfica após o golo de Aursnes, frente ao Sporting. Foto: Miguel Nunes/ASF

João Tralhão: «Benfica estará desejoso que chegue o jogo contra FC Porto»

NACIONAL02.03.202409:00

Antigo treinador das camadas juniores das águias falou sobre a derrota contra o Sporting, escolhas para o onze e o que esperar para o clássico de domingo

O Benfica perdeu a primeira mão da meia-final da Taça de Portugal contra o Sporting, por 2-1. Roger Schmidt viu algumas das suas escolhas serem contestadas pelos adeptos, dias antes de visitar o Estádio do Dragão, a 3 de março, na 24.ª jornada da Liga.

A BOLA falou com João Tralhão, antigo treinador de juniores no Benfica e atualmente ao serviço do Antalyaspor, como treinador-adjunto principal, para perceber o que correu mal ao Benfica no dérbi em Alvalade, que escolhas pode Roger Schmidt fazer para o onze titular, e que consequências a derrota pode ter para o jogo contra o FC Porto.

João Tralhão durante o jogo Benfica - Vilafranquense, jogo da Taça de Portugal 2020/21. Foto: Miguel Nunes/ASF

Benfica e Sporting são duas grandes equipas, com perfis diferentes, e é bom para o futebol português saber que quando há um dérbi desta natureza a incerteza do resultado é total.

— Quais os motivos para a derrota com o Sporting?

«Para já, acho que é um jogo de tripla, não é? Pode cair para qualquer um. O Benfica-Sporting é histórico, são jogos sempre muito competitivos, por vezes desequilibra para um lado e é difícil dar a volta. Ontem acho que houve duas partes distintas: na primeira, o Sporting foi superior, dominou em todos os momentos, o Benfica teve dificuldades para se encontrar e para superar o Sporting, que esteve muito bem; na segunda foi uma história diferente, o Benfica conseguiu equilibrar-se melhor como equipa e contrariar o Sporting, foi mais eficaz na pressão, e Sporting teve alguma dificuldade em sair com critério, e daí achar que o jogo foi mais equilibrado no segundo tempo, mas o Sporting foi superior no cômputo geral. Foi uma equipa mais sólida, mas acredito que a eliminatória está aberta, na Luz pode ser uma história diferente. São duas grandes equipas, com perfis diferentes, e é bom para o futebol português saber que quando há um dérbi desta natureza a incerteza do resultado é total.»

Neste tipo de situações, quando se perde, num clube grande, aquilo que se pretende é que rapidamente haja um próximo jogo, e quanto maior a dificuldade, mais motivação existe.

 — Quem deveria jogar a lateral esquerdo, na dupla do meio-campo e no ataque?

«Eu acho que o Schmidt tem procurado as soluções mais adequadas para jogos diferentes. Parece-me que o Benfica, nesta fase da época, ainda não encontrou os dois laterais titulares, tem feito algumas modificações de jogo para jogo. Na esquerda tem tido várias opções, tem Morato, Carreras e Aursnes, com perfis diferentes. Na direita também, com Aursnes e Bah. Esta variação pode ter benefícios por um lado, pois de um ponto de vista estratégico pode criar indefinição no adversário, mas, por outro lado, não dá a consistência necessária que uma equipa precisa de ter. Entre prós e contras, ninguém melhor que Schmidt para encontrar o equilíbrio. Acho que está sempre à procura da melhor solução.»

Morato dá lugar a Álvaro Carreras, frente ao Estoril, na Taça da Liga. Foto: Miguel Nunes/ASF

«No meio-campo há um jogador que é sem dúvida indiscutível, o João Neves. É completo, neste momento traz tudo à equipa: do ponto de vista defensivo, consegue pressionar na frente, perseguir o adversário, junta-se à linha defensiva para ajudar a defender; do ponto de vista ofensivo, transporta o jogo com critério, é bom no passe, assiste, marca… e depois o treinador tem várias opções diferentes. Quando joga Florentino, a equipa fica mais equilibrada defensivamente e liberta o Neves. Quando joga Kokçu ou João Mário, o meio-campo fica mais criativo e imprevisível, porque Kokçu e Neves podem chegar mais perto da área. Acho que em determinados jogos é importante garantir o equilíbrio defensivo para dar mais liberdade aos jogadores criativos do Benfica, e há outros jogos em que justifica ter uma dinâmica no meio-campo e ataque que crie muita imprevisibilidade ao adversário.»

João Neves frente ao Sporting na Taça de Portugal. Foto: Miguel Nunes/ASF

«No ataque, esta opção mais móvel, com o Rafa como falso ponta contra defesas que jogam com uma linha mais alta, pode ter algumas vantagens; com blocos mais baixos, é necessário ter um jogador mais de referência, mais perto da linha defensiva, e tanto Tengstedt como Arthur CabralMarcos Leonardo não conheço tão bem, não posso fazer considerações – podem desempenhar esse papel. Contra linhas mais altas, como Sporting e FC Porto, percebo a ideia por trás, tentar conquistar mais meio-campo, fortalecendo-o com João Mário, Kokçu e João Neves, e usar jogadores mais móveis na frente para criar desequilíbrios e aproveitar a profundidade. Não quer dizer que concorde ou deixe de concordar, mas, como treinador, tento perceber a ideia por trás da estratégia e respeito. Benfica tem muitos recursos, e para o treinador é bom. As decisões ainda estão para vir, Roger Schmidt tem feito mais variações e rotação que na época passada, e isso pode ter vantagens na gestão do grupo, mas desvantagem de garantir a solidez e consistência da equipa. Mas Schmidt estará consciente disso e saberá melhor que eu que opções tomar.»

— Que consequências terá a derrota para o clássico?

«Não acredito que tenha consequências. Estas coisas são diferentes para quem vive os grupos por dentro, como é o meu caso que sou treinador há muitos anos e percebo as dinâmicas do grupo. Compreendo que adeptos, agentes à volta do futebol, sócios, jornalistas, podem achar que esta derrota terá implicação direta, mas para quem está por dentro… num clube grande como o Benfica, estas derrotas são uma motivação extra para o próximo jogo, sempre, seja contra quem for. A derrota de ontem não é definitiva, é uma eliminatória em aberto e o resultado permite lutar, tal como o Sporting também não considera a eliminatória fechada. Neste tipo de situações, quando se perde, num clube grande, aquilo que se pretende é que rapidamente haja um próximo jogo, e quanto maior a dificuldade, mais motivação existe, e o FC Porto, Sérgio Conceição e o plantel sabem disso. Tenho a certeza que a equipa do Benfica, neste momento, deseja que chegue já o próximo jogo, um clássico de dificuldade máxima, mas os jogadores querem provar que são capazes de ganhar.»