«Carmo foi o reforço que deu mais gozo… e um pedido de desculpa»
PEDRO ALVES NA REDAÇÃO D'A BOLA (FOTO: MIGUEL NUNES)

ENTREVISTA A BOLA «Carmo foi o reforço que deu mais gozo… e um pedido de desculpa»

INTERNACIONAL28.05.202405:15

Pedro Alves revela que, inicialmente, nem queria levar David Carmo para o Olympiakos; a influência de Chiquinho, mas não só; os convites que já surgiram após o adeus à Grécia (PARTE 2)

Cedido pelo FC Porto, David Carmo foi o reforço que deu mais gozo a Pedro Alves levar para o Olympiakos. O antigo diretor desportivo da equipa grega revele a A BOLA, no entanto, que tinha dúvidas quanto à contratação de um jogador que até conhecia bem do SC Braga, mas que estava com problemas no Dragão. O dirigente português destaca ainda a influência de Chiquinho no Olympiakos, dentro e fora do campo, e revela convites para prosseguir a carreira. Eis a segunda parte da entrevista:

Qual foi o reforço que mais satisfação deu levar para o Olympiakos, entre o valor do jogador, a complexidade do processo, entre outros temas?

—  Todos têm contacto direto comigo, e não me esqueço que os deixei para trás, por assim dizer. O Jovane Cabral chegou, assinou, tirou a fotografia, e no dia a seguir eu saí. O Vezo igual. Alguns jogadores pouco estiveram comigo. Agora, a contratação que me deu mais gozo, e um pedido de desculpa, ao mesmo tempo, foi o David Carmo. Eu era scout do SC Braga quando ele era sub-18, sub-19, e depois quando subiu à equipa B, na altura com o Abel. Conhecia-o de menino e passados oito anos fui contratá-lo, quando eu próprio não o queria. Não estava entre as nossas prioridades, por não estar a jogar, cometia erros no FC Porto por falta de confiança. Hoje conheço-o melhor do que conhecia antes, e deu-me um gozo enorme contratar um jogador que estava morto, especialmente em termos psicológicos, mas temos ali um jogador que a seleção de Angola ganhou, e acho que a nossa Seleção pode ter perdido para o futuro. Pelo que custou levá-lo para a Grécia, pelo que fomos criticados, e ao fim de um mês o Olympiakos estar praticamente obrigado a comprá-lo, para mim um orgulho e uma satisfação. Sem esquecer o papel da equipa técnica, até porque usámos muito o míster Carvalhal para o recuperar, pois tinha sido a pessoa que o tinha lançado, que lhe tinha dado a oportunidade de ir para o Liverpool, acabando por assinar pelo FC Porto.

—  Foi difícil convencer Pinto da Costa a libertar o David, apesar de toda a situação?

— Apanhámos o David numa circunstância um pouco difícil, porque tinha tido um problema interno, do qual não me fica bem falar. Logicamente que eu tenho conhecimento de tudo, porque ouvi a versão de um e do outro, mas também não devo estar aqui a julgar. Era público que havia um atrito. Para além do presidente, também o mister Sérgio Conceição foi importante neste processo. Deixaram o orgulho de parte e pensaram no clube e no atleta, fizeram força para que voltasse a ser feliz. Hoje o David Carmo é feliz e nota-se na importância que tem no Olympiakos.

—  Vários reforços assumiram um papel relevante no Olympiakos. Estou a lembrar-me também do Chiquinho, por exemplo…

—  Não tenho dúvidas que já é uma referência no Olympiakos e vai ser ainda mais, e não falo apenas de questões técnicas ou táticas. Estamos a falar de um profissional de mão cheia, um profissional que se cuida, acima de tudo alguém agregador por natureza. O Chiquinho está há cinco meses no Olympiakos e tem relação com todos os jogadores, sejam gregos, franceses ou portugueses, porque é uma pessoa extremamente genuína e, acima de tudo, boa pessoa. O Horta, pela capacidade de entender o jogo e de procurar espaços vazios, tem, naquele contexto de campeonato grego, muita capacidade de encher o olho às pessoas, dentro da tal paixão pelo jogo. Ficam malucos com ele porque realmente decide muito bem, especialmente no último terço. O Gelson é o que conhecemos: a qualidade que tem, especialmente individual, no um-contra-um, é acima da média. Só está hoje no Olympiakos porque no último ano e meio não foi feliz com  as lesões. Foi muita conversa por telefone, muita conversa pessoalmente para o convencer, e acho que fez uma aposta certa porque vai rebentar.

— O Olympiakos vai ter a primeira final europeia da sua história. Sente esta caminhada até à decisão da Liga Conferência, frente à Fiorentina, também como sua?

— Honestamente, de coração, não vou sentir como desejava, mas vou ficar extremamente contente e vou torcer muito que o Olympiakos seja campeão. Só conhecemos as pessoas quando passamos por algumas dificuldades, e eu tenho um momento muito especial com os três portugueses, aqueles que estão inscritos na prova, que são o David Carmo, o Horta e o Chiquinho. Quando eliminaram o Fenerbahçe fizeram uma vídeochamada para mim, dentro do balneário, e tiveram um desabafo genuíno, e foi gratificante ouvir dizerem que aquilo também era meu. São coisas que nos marcam, por isso seria de todo mal intencionado se não esperasse que o Olympiakos ganhasse, para ver a alegria dos meus meninos. Mais do que o próprio troféu é o desejo de ver a felicidade deles.

—  Esta página do Olimpiakos ainda não está completamente fechada, mas o Pedro já está livre para a assumir uma nova etapa?

—  Só recentemente é que finalizámos para que a situação siga a via legal e agora é esperar, mas sou um pássaro livre para poder seguir o meu rumo.

— E o telefone tem tocado muito nos últimos tempos?

—  Tocou quatro ou cinco vezes, logicamente muito mais no mercado internacional do que em Portugal. Mas, no momento em que aconteceu, a minha vida pessoal passava momentos de alguma dificuldade, porque tinha a minha esposa e as minhas filhas em Portugal e estava na Grécia. Depois a adaptação à nova escola, termos de percorrer 50 km para levar as miúdas à escola... Era preciso estabilizar o lado familiar e também tinha que resolver a situação com o Olympiakos.

—  E podemos saber de quem partiu algum desses convites?

— Prefiro também proteger os clubes, mas posso dizer que foram dois clubes brasileiros. Um deles até foi à Grécia, ter comigo, mas não era o timing certo para poder novamente pegar na mochila e viajar para o Brasil. Em Portugal as pessoas tentam perceber a situação, mas agora já posso assinar e inserir-me novamente num projeto com o qual me identifique.

—  O estrangeiro é o mais provável?

— Acaba por ser o mais aliciante, não só em termos de projeto, mas em termos financeiros também. Em Portugal temos clubes bons, alguns clubes que estão a passar algumas dificuldades financeiras, e outros com bons profissionais na área. E não querendo dizer mal de ninguém, se não sair ninguém também não vai entrar ninguém. Se a pessoa estiver a fazer um bom trabalho, é normal que não se mude. Também sou contra a mudança constante dos diretores desportivos, por isso tenho que esperar a melhor oportunidade e, quando surgir, vou tentar estar preparado.