Treinador do Sporting diz entender as críticas de que está a ser alvo, mas garante que sente ter condições para continuar no comando técnico dos leões
- Qual o ponto de situação em relação ao boletim clínico?
- Juntando aos outros, há questão do [Gonçalo] Inácio [que está indisponível].
- É inquestionável que o jogo com o Club Brugge deixou cicatrizes. O jogo de amanhã em Alvalade pode ser um ponto de viragem?
- Já falamos desse momento de viragem há algum tempo. Em todos os jogos entrámos para ganhar e fizemos o melhor possível. É o que vai acontecer contra o Boavista. Mostrar que temos vontade de ganhar, que queremos os três pontos e acreditar que há coisas, com o destino a pregar-nos algumas partidas, que não vão voltar a acontecer.
- Já disse que não será um problema para o Sporting. O que vale mais: não ser mais um problema ou ter contrato até 2027?
- O que vale mais é ganhar amanhã. Isso é o que vale mais.
- Se fosse hoje voltava a atender a chamada de Frederico Varandas para ser o treinador da equipa principal? Colocou alguma data limite para continuar no comando técnico?
- Para ser mais claro possível: eu não falo em coisas hipotéticas. Isso para mim não funciona, têm de ser coisas claras. E o que é claro é que temos de ganhar amanhã ao Boavista. Sabemos que a vitória é o que dá segurança aos treinadores, mão há como esconder. Chamada de Varandas? Claro que atenderia. Como não atender? Atendia porque não sabia o que era [risos]. Voltava a dizer sim sim. Disse que queria e estava preparado. Continuo a achar o mesmo.
Os resultados não têm aparecido, é verdade, mas às vezes a competência não se vê apenas nos resultados
- O que o leva a acreditar que é a melhor solução para o Sporting?
- Porque acredito no trabalho da equipa técnica, porque acredito no trabalho dos jogadores, acredito no trabalho de toda a estrutura. Sinto que estamos todos no mesmo barco e a remar para o mesmo lado. Quando é assim, ficamos mais perto da vitória. Os resultados não têm aparecido, é verdade, mas às vezes a competência não se vê apenas nos resultados. A competência vê-se em muitas outras coisas. É sinal de que o presidente e a Administração viram competências em mim, tal como já perguntaram a outras pessoas que viram competências. Sei que eu e a minha técnica somos competentes. Isso leva-nos a acreditar que vamos dar a volta.
- Acha que os jogadores sentem falta do treinador no banco? Sente-se de alguma forma diminuido ou fragilizado?
- A equipa técnica sabe qual é a mensagem a passar. Pensamos todos com uma só cabeça. Todos sabemos o que queremos ofensivamente, defensivamente, nas bolas paradas, que é o mister José Caldeira encarregue disso. Sabemos exatamente o posicionamento de cada jogador, o que queremos de cada jogador e de cada ação e a mensagem é clara.
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- Disse que ia implementar algumas mudanças na forma de jogar da equipa. O Gyokeres deixou de ter profundidade, isso acontece por indicação da equipa técnica?
- Quem analisa bem os jogos consegue ver que há uma situação que leva a isso. O Sporting normalmente chegava aos últimos 30 minutos em vantagem e os adversários a tentarem chegar ao empate abriam muito mais espaços. Se virmos o 5x4x1 do Santa Clara, muito baixo, não há profundidade. Temos de chegar lá de outra forma. A verdade é que não temos chegado aos últimos 30/25 minutos em vantagem, o que leva as equipas a baixarem para defender o resultado. A profundidade deixa de existir.
- Os jogadores parecem estar em fase de luto pela saída de Amorim. Você já foi jogador, já viveu situações de crise, o que é que é preciso fazer no dia a dia para ultrapassar isso?
- Acho que que os jogadores já passaram o luto. Indo ao jogo anterior, entrámos muito bem. O Brugge tocou na bola no pontapé de saída, controlámos o jogo, com paciência, fizemos golo numa boa jogada, apoio fontal no Vitkor [Gyokeres] e o Maxi a aparecer por fora. Os 15 minutos a seguir, antes do empate, controlo absoluto do jogo e o Brugge faz um cruzamento que nem à baliza ia e a bola, infelizmente, bate num jogador nosso e trai o guarda-redes. Isto não são desculpas, mas parece que tudo nos acontece. Os jogadores sentem isso, mas logo na jogada a seguir reagiram. Os jogadores querem muito ganhar, voltar às boas exibições. Há pouca coisa que lhes posso pedir mais.
- Não é imune às vozes que se levantam de contestação. Já falou com o presidente Frederico Varandas?
- Quanto à crítica, não existe ninguém, mas ninguém, que esteja mais frustrado de não conseguir dar as vitória que toda a gente quer do que eu, os jogadores, a Direção, toda a estrutura, o staff... Queremos muito ganhar. Por exemplo, eu como treinador, se ganhar menos, no futuro terei menos clubes para treinar. Os jogadores, se ganharem menos, se calhar no futuro já não vão para um 'Manchester City'. O mercado reduz para toda a gente. Não há ninguém que queira ganhar mais do que nós, isto é a nossa vida, o nosso trabalho. Aceito as críticas e a frustração. É normal. Quando era adepto também ficava frustrado e temos de saber lidar com isso, por isso é que somos profissionais , esta é a nossa profissão. Com o presidente falamos todos os dias. Falamos de futebol, de família, sobre tudo.
- Admite colocar o seu lugar à disposição quando sentir que será um problema para o Sporting?
- Não falo em ses ou hipoteticamente. O foco é ganhar ao Boavista. Depois, logo se vê.
- Há muitos adeptos que realçam a ausência de Pedro Gonçalves, jogador com que ainda não contou desde que assumiu o comando técnico. Considera que é um jogador que faz muita falta?
- Às vezes não gosto de falar dos jogadores que estão fora e lesionados, porque lembro-me do que disse antes do Brugge, que o azar de uns é a oportunidade de outros. Agora, se me perguntarem diretamente, ele e o Nuno Santos fazem falta. Se formos ver nas últimas três ou quatros épocas, no mínimo podem dar 15 assistências e 25 golos. Isso é um peso enorme numa equipa de futebol. Temos outros jogadores, é a oportunidade deles e eles têm de aproveitar.
- Face à contestação que tem havido receia que amanhã Alvalade se vire contra a equipa?
- Já fui jogador no Sporting em épocas complicadas e houve uma coisa que sempre senti, apoio do primeiro ao último minuto. O que acontece no final é normal quando uma equipa não ganha, que assobiem, que acenem com lenços brancos e que protestem. Temos de estar preparados, mas tenho notado desde o apito inicial ao final um apoio incondicional à equipa. Eles fazem a parte deles e nós temos de fazer a nossa parte.
- Tem a confiança por parte da Direção para continuar até ao dérbi?
- Sinto o mesmo tipo de confiança desde o primeiro dia. A confiança é a mesma. Já disse que o caráter não se define por resultados e o trabalho e a competência têm outras coisas, os resultados não estão a aparecer, mas acredito que vão aparecer.
Não é o dinheiro que me move, estou aqui porque gosto, porque quero ser um grande treinador, porque quero ganhar títulos e estou aqui porque amo a minha profissão
- Quando disse que não seria um problema para o Sporting referia-se a, caso o Sporting decidir prescindir dos seus serviços, abdica da indemnização?
- Não sei o que vai acontecer no futuro, mas o que me traz aqui não é o dinheiro. Não é o dinheiro que me move, estou aqui porque gosto, porque quero ser um grande treinador, porque quero ganhar títulos e estou aqui porque amo a minha profissão.
- Se perder amanhã com o Boavista coloca o seu lugar à disposição ou continua a acreditar que é a solução?
- Continuo, porque tenho confiança na vitória de amanhã.