«A primeira vez que vi João Neves foi nos sub-19 e vi logo o talento»
Roberto Martínez [foto A BOLA]

Roberto Martínez «A primeira vez que vi João Neves foi nos sub-19 e vi logo o talento»

FUTEBOL29.01.202401:00

Selecionador Nacional destaca médio do Benfica; Geovany Quenda, do Sporting, foi o outro nome que mencionou; renovação com qualidade garantida. PARTE I

Roberto Martínez tem tido um percurso de sucesso com Portugal. Responsável pela melhor campanha numa fase de qualificação – e com a maior goleada que uma seleção nacional aplicou – o treinador espanhol mostra-se sempre preparado para o que vem.

Estudou português, mas nesta visita a A BOLA revelou também que recolheu informação sobre o Terramoto de 1755, que atingiu Lisboa a 1 de novembro daquele ano. A cidade é que ainda não conseguiu conhecer com detalhe, pelo que um breve passeio pelo Bairro Alto e Miradouro de São Pedro de Alcântara foram uma oportunidade para ver um pouco mais da cidade e o país que acolhem.

«Não tenho tido tempo, gosto de sentir o que o adepto pensa da seleção, mas não tenho tempo. Estamos a trabalhar na Cidade do Futebol, mais as viagens, não tenho tempo. Gostava mais de desfrutar das cidades de Portugal com as minhas filhas e mulher», disse, ele que ficou surpreendido com o que encontrou na formação do futebol português e deu dois exemplos: João Neves, do Benfica, e Geovany Quenda, do Sporting.

Gosta da história, tem curiosidade, que outros pontos de Portugal lhe despertarem interesse?

A ideia é ver todos os estádios, porque histórias futebolísticas estão muito bem representadas na seleção. Gosto de ver os clubes do passado dos jogadores, os jogadores como criança tiveram o sonho de jogar pela seleção e gosto de conhecer Portugal do ponto de vista dos jogadores.

Houve algum estádio que o surpreendeu?

Sou uma pessoa muito curiosa. Gosto de conhecer histórias novas, de conhecer a cultura futebolística, formas de viver. Mas nunca tenho uma expectativa. Estive 21 anos fora da Península Ibérica, mas agora é muito giro poder voltar à minha cultura. 

O que é que encontrou cá que não esperava encontrar? O que achou diferente das experiências que teve em Espanha e, sobretudo, no Reino Unido? 

Eu acho que a estrutura da formação... É mais estruturada do que a Bélgica. 

Mas em relação a Espanha… 

Sim, a Espanha é um país maior, o volume dá muitas mais possibilidades de o talento surgir. Portugal, um país de 10 milhões de pessoas, tem uma estrutura que tem talento permanentemente. Porquê? Porque tem uma liga nacional sub-19, tem uma liga de sub-23, tem as equipas B, e depois tem equipas que utilizam os jogadores jovens. E isso é muito importante para o futuro do futebol português. 

Eu sei que o seu foco neste momento estará no Europeu e no próximo estágio em março. Mas daquilo que já viu da formação, em toda a sua globalidade, ou seja, desde os clubes à federação, o que é que projeta, por exemplo, para 2026?

É importante. Eu acho que é minha responsabilidade ter um foco que vai mais além de ganhar o próximo jogo. É importante para nós o Mundial 2026, é um objetivo ter uma equipa com muitas possibilidades. Os jogadores das nossas equipas de formação, sub-19, sub-21, vão ter um papel muito importante. 

Consegue destacar alguns nomes? 

Muitos, muitos. A primeira vez que vi o João Neves foi com a equipa sub-19 e, imediatamente, vi o talento, mas é muito imprevisível que o João pudesse estar na seleção A, com o nível que está a ter no Benfica. O perfil do jogador é o que é mais interessante para mim.

Ver um jogador como o [Geovany] Quenda, que é um jogador de uma qualidade de um contra um, um jogador criativo... O caminho dos próximos meses e os próximos anos tem muito de imprevisível. A sorte, o papel importante na equipa, no clube, o que está a fazer com as equipas de seleções... Mas é importante, é uma responsabilidade que eu gosto muito, que é acompanhar o talento. Mas posso dizer aos adeptos do futebol português que o nosso talento na formação é constante e isso dá a garantia que no Mundial 2026 ou 2030, que é muito importante, podemos substituir os jogadores que agora temos, porque agora temos jogadores de um nível mundial, de um nível superlativo. Nós temos o potencial, temos o talento para continuar quando os jogadores se reformarem.

Acha que há um protótipo de futebolista português? Como é que o define? 

O jogador português é competitivo e quando um jogador é competitivo pode sempre ser uma parte importante de uma equipa. Depois, acho que essa competitividade dá ao jogador o grau de tentar ser especialista. Nós temos muito bons centrais, bons jogadores de posse de bola, jogadores que podem jogar por fora ou por dentro, jogadores que têm uma grande qualidade no um contra um, jogadores de área. Eu acho que é o aspeto de ser um jogador muito competitivo, que gosta de informação tática e pode ser um especialista. E isso é importante para um treinador. Eu acho que o jogador português chega a um balneário em qualquer parte do mundo e pode dar-lhe muito valor.