«Poucos países têm as condições que encontrei em Marrocos»
- Que balanço faz de quatro meses no FAR?
- Muito positivo. Felizmente, encontrei uma realidade muito organizada e um profissionalismo muito grande, ao nível da Europa. O FAR é o clube das Forças Armadas, treinamos mesmo dentro do centro das Forças Armadas, onde também são formados os instrutores militares. Existe um ambiente de disciplina, de horários, de dedicação. Estou muito contente, o clube está muito satisfeito. A equipa chegou ao segundo lugar e apuramento para a Liga dos Campeões de África e este ano caiu nos quartos de final da Champions, por um golo, para aquele que se tornou o campeão africano, o Pyramids do Egito.
- A ambição da próxima época é, ao nível das Champions, fazer melhor?
- Em África há duas eliminatórias antes da fase de grupos. É a parte mais difícil da prova por muitos fatores. Nos jogos fora podem acontecer muitas situações inusitadas.... Muitas vezes os jogos nem sequer são televisados, não têm VAR, podem acontecer coisas fora de controle. Podemos ter de ir a um país onde se joga com 40 graus e 80 por cento de humidade, com condições que os jogadores não estão adaptados. Podemos ficar e jogar em locais que intimidam. Se conseguirmos passar, a fase de grupos é menos difícil, há seis jogos para gerir, a tenção mediática é maior, o rigor também, menos probabilidade de situações mais estranhas acontecerem.
- O objetivo passa também por ser campeão marroquino?
- Sim, sem dúvida. Mas é muito, muito difícil ser campeão... O campeonato é extraordinariamente competitivo. As equipas do meio da tabela para baixo estão sempre a tirar pontos às da primeira metade. O campeonato tem claramente quatro equipas muito fortes: o Berkane, potencia que emergiu nos últimos anos, que tem uma grande estrutura dentro e fora de campo, e os históricos Raja e Wydad, de Casablanca, e o FAR de Rabat. -
«Relvados em Marrocos são inacreditáveis»
- Além da competitividade, que mais destaca no campeonato marroquino?
- À cabeça, relvados inacreditáveis, ao nível do melhor na Europa. Poucos países terão relvados assim, tão bem tratados em tão boas condições. E são todos assim. Os estádios têm também excelentes condições. Quando não têm, a Liga obriga as equipas têm de jogar noutro estádio. Tem havido uma política muito interessante e bem conseguida de valorização dos recintos desportivos, muito também pela organização da CAN do final do ano e co-organização do Mundial de 2030.
- É um país que se está a preparar bem para organizar o Mundial com Espanha e Portugal?
- Sem dúvida. Estão a construir vários estádios em várias cidades. E a reconstruir outros, estádios de grande qualidade. Alguns são inacreditáveis. Mas estão também a investir na arbitragem, no VAR, em academias de formação. Um nível de profissionalismo imenso, de organização e logística. Marrocos será um país mais do que preparado, juntando outros aspetos. São estradas e estradas em construção; novos aeroportos em Rabat e Casablanca. Tudo junto, num investimento com sentido, um projeto claro de desenvolvimento. E focando de novo no futebol, com um profissisonalismo só ao nível, no continente, à África do Sul. A manter este rumo, e com a localização favorável de estar perto da Europa, Marrocos pode tornar-se na grande referência do futebol em África. Aliás, poucos países, mesmo europeus, têm condições como este. Para ter um campeonato ainda melhor, só lhe falta mesmo conseguir reter os melhores jogadores, mas o investimento ainda não está virado para salários, antes para infra-estruturas, formação e organização.
Muita segurança, mas polícia é discreta
- Como é viver em Rabat?
- Fiquei muito surpreendido é uma cidade que tem muita história. O centro histórico é bastante visitado, é muito turístico. Mas é uma cidade que tem acima de tudo um elevado desenvolvimento e qualidade de vida. E sendo uma cidade grande, é organizada e calma. Sente-se muita segurança. Presente, mas não ostensiva. A polícia é discreta e está lá para ajudar. Tem muitos espaços verdes, um tempo ameno. Olhando para Marrocos, Casablanca é a cidade do lazer, Marraquexe é ponto obrigatório para quem quer viver a cultura árabe, Rabat é o melhor sítio para se viver.
- Come de tudo ou é esquisito a comer?
- A comida é mesmo muito boa. Basta dizer que estou em Marrocos há quatro meses e já engordei cinco ou seis quilos... Mais no Ramadão... Como não pratico o Ramadão, comi normalmente. Só que descobri que as mesas no Ramadão, para se comer após o pôr do sol, são repletas de pratos e de vários tipos de comida... Ou seja, depois de um dia a comer normalmente, juntava-me aos que faziam o Ramadão e acabava por... comer bem mais, tanta a oferta e em qualidade. Se não ganho juízo... ganho muitos quilos...
«O Petro de Luanda mudou a minha vida»
- O Petro de Luanda abriu-lhe as portas de África em 2021. Venceu três campeonatos em três anos, três taças de Angola e uma Supertaça... Petro que acaba de ganhar novo campeonato, chegando ao tetra... Ficou feliz?
- Fiquei muito feliz, claro. Continuo a trocar mensagens e conversar com muita gente do Petro e de Angola. Deixei muitos amigos em Luanda, amigos mesmo, e continuamos a dar força uns aos outros. Foram três anos muito intensos, o Petro é um grande clube. O Petro e Angola mudaram a minha carreira e ajudaram a formatar muito do que sou hoje como pessoa. Devo muito ao Petro e a Angola. Um abraço a todos.