André Villas-Boas, Frederico Varandas e Rui Costa jogam cartadas decisivas neste arranque de temporada (ANDRÉ CARVALHO)
André Villas-Boas, Frederico Varandas e Rui Costa jogam cartadas decisivas neste arranque de temporada (ANDRÉ CARVALHO)

Villas-Boas, Rui Costa e Varandas ao murro

Villas-Boas começou a dar murros na mesa e despediu o treinador, Rui Costa disparou contra instituições e estratégias. Varandas teve de entrar na luta devido à novela Gyokeres… Este é o ‘Nunca mais é sábado’, espaço de opinião de Nuno Raposo

No dia 22 de junho, André Villas-Boas prometeu dar um «murro na mesa». Não literalmente, claro está — ou também literalmente, se isso ajudar a libertar o stress acumulado pelo desgaste que a função acarreta —, mas para dar corpo àquilo que significa a expressão — «usada de forma figurada para descrever uma reação enérgica e decisiva com o objetivo de mudar ou interromper uma situação, muitas vezes de forma abrupta ou contundente; é uma forma de mostrar firmeza e determinação para impor uma mudança», explicam-nos as ferramentas digitais.

O murro na mesa do presidente do FC Porto foi efetivamente dado três dias depois, com a chamada de Martín Anselmi para uma reunião de despedimento. Já em julho, Villas-Boas apresentou Farioli, o terceiro treinador no espaço de um ano, no que parece ser a procura de um novo Mourinho ou Amorim, mais um tiro, depois de um murro, de risco elevado.

Vítor Bruno, o primeiro treinador de Villas-Boas, sofreu na pele ainda do fantasma de Sérgio Conceição e da era Pinto da Costa; Anselmi sofreu de nunca ter percebido que não podia ir pelo caminho que pensou e nunca esteve disponível para experimentar outros; ambos sofreram por o plantel ser o mais fraco em muitos anos no Dragão.

Promete agora Villas-Boas o melhor mercado para oferecer ao treinador italiano as armas que os antecessores não tiveram. Farioli certamente agradece, mas cuidado, porque o líder portista continua a não entender que não é altura de promessas, como não era quando prometeu ganhar a Liga Europa ou o Mundial de Clubes… A altura pede boa gestão de expectativas, sem colocar a fasquia demasiado alta, porque estamos no início de uma nova era os portistas compreenderão que é preciso ir jogo a jogo, como dizia o outro. E depois até pode correr bem.

O murro na mesa de Rui Costa foi dado esta semana. Um murro diferente do líder portista, porque não se tratou de um golpe de treinador — jogadores, esses, já começaram a chegar neste mercado e estou certo de que no final do verão será o Benfica o campeão… do mercado, valha isso o que valha. O murro de Rui Costa foi na direção das estruturas e estratégias do futebol nacional mas acossado pela entrada em cena de Luís Filipe Vieira num ambiente pré-eleitoral e numa campanha que já começou e ontem contou com a oficial entrada em jogo do maestro. João Diogo Manteigas, Martim Mayer, Cristóvão Carvalho e Noronha Lopes também já estão prontos para a luta. Este último repetente com quase 35 por cento nas últimas eleições, que podem dar-lhe esperança de mudança na Luz. Mas na verdade foi o reaparecimento de Vieira em cena que assustou e espicaçou o presidente encarnado, tantas vezes acusado de ser o prolongamento do vieirismo, visto como um problema que se cola à pele de Rui Costa. Mas terá percebido o presidente que ter o vieirismo colado pode não ser bom, mas bem pior, em termos eleitorais, pode até ser ter Vieira a concorrer contra…

Na poltrona do bicampeonato poderia estar Frederico Varandas a ver. Instalado no confortável estatuto de bicampeão e com os adeptos em estado de graça com o clube, o presidente do Sporting não estava à espera de ter de dar um murro na mesa. Porém, a saída de Gyokeres está transformada numa novela em que Varandas surge como um dos protagonistas pelas respostas em praça pública ao agente do jogador. E pela intransigência negocial naturalmente na defesa do que entende ser o superior interesse da instituição, pomposa forma que os dirigentes encontram para explicar algumas medidas e atitudes.

É legítimo mas há no entanto um risco quando se leva ao extremo as negociações, sobretudo quando se trata de um jogador como Gyokeres, estrela maior da companhia e sem dúvida uma das maiores que neste século já passaram pela Liga nacional: o desgaste que pode causar no grupo. E acredito que nos títulos dos leões de Varandas, o de 2021, o de 2024 e o de 2025, a união, o espírito de família, o excelente ambiente no plantel contribuiu quase tanto como o trabalho de campo para as conquistas. E no Sporting ninguém vai querer que um murro, por muito que seja o certo a fazer, possa magoar também o resto da família…