O festejo exuberante de Acerbi e Simone Inzaghi, central e treinador do Inter (Foto: IMAGO)
O festejo exuberante de Acerbi e Simone Inzaghi, central e treinador do Inter (Foto: IMAGO)

Valeu a pena mudar: a Superliga pode ficar na gaveta

Novo formato da prova está a ser um sucesso. Mais jogos trouxeram melhores espetáculos, tal como no Mundial do Qatar. Em dois anos anos e meio assistimos a noites memoráveis

A competição ainda não acabou mas é justo dizer que o novo formato da UEFA Champions League superou as expectativas. A fase de liga e um calendário mais alargado tiveram como consequência uma necessidade constante de pontuar em cada um dos encontros por cada um dos intervenientes, impedindo as equipas (principalmente as não favoritas à conquista do título) de recorrerem ao tradicional taticismo de vencer pelo menos dois jogos em casa, outro fora e eventualmente mais um empate em domicílio alheio. Desta vez não deu para fazer contas, todos os jogos eram fundamentais e, mais importante, não se sabia como estaria a classificação na ronda seguinte face à quantidade de variáveis, uma imprevisibilidade que enriquece qualquer competição desportiva. Chegados à última jornada, apenas um quarto das 36 equipas não tinha hipóteses de qualificação, mas defrontavam adversários com ambições, facto que deu a quase todas as partidas muito sal e pimenta.

Concluída com sucesso a fase de liga, as eliminatórias não defraudaram. Grandes golos, ótimos espetáculos, mas talvez poucos imaginassem que as meias-finais nos dessem duas noites memoráveis como foram o 3-3 no Montjuic e o 4-3 no Giuseppe Meazza. Noites apoteóticas e dramáticas já ocorreram no passado nesta fase crítica da competição, mas não me recordo de duas mãos tão intensas, equilibradas e com tanta variabilidade (umas vezes o Inter por cima, noutras o Barcelona). Pode parecer um cliché, mas é caso para dizer que nenhuma destas equipas merecia perder. Quem tem tanto coração e talento deve orgulhar-se do trajeto que fez e resta-nos, enquanto observadores, agradecer e elogiar quem decidiu ir mais além. Sim, falamos naturalmente da UEFA, acossada pela emergência da Superliga, mas  devemos também recordar o último Mundial, no Qatar, em 2022: se nos focarmos apenas e só na vertente desportiva, ficou provado que o aumento de jogos e de seleções não prejudicou o espetáculo, antes pelo contrário: trouxe novos protagonistas e, mais que isso, proporcionou a melhor final de que me recordo em Mundiais  - melhor que os 3-2 da Argentina sobre a Alemanha no México-86.

Ou seja, no espaço de dois anos e meio tivemos aquele Argentina-França e agora este Inter-Barcelona a dobrar, situações que não são exceções mas uma consequência de altos investimentos à procura do devido retorno - e consequentemente já admito que o Mundial de Clubes da FIFA possa vir a ser bem melhor que a encomenda. Claro que brevemente ouviremos Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, acenar novamente com a bandeira da Superliga, mas esse é um desígnio que pode por agora ficar fechado na gaveta.

PS: No futebol de formação há duas perguntas comuns quando se fala em guarda-redes: quanto é que o miúdo mete e a outra é qual é a altura dos pais. O tamanho de quem ocupa a baliza é um aspeto fundamental e poucos são os guardiões das grandes equipas que tão tenham perto de 1,90 metros . Yann Sommer pertence a uma outra geração, com os seus curtos 183 centímetros que lhe valeram críticas recentes. Mas a experiência e antecipação ainda contam muito. As defesas a Eric García e ao remate de Lamine Yamal (114')  merecem uma moldura. Não há campeões sem um gigante entre os postes.