A festa dos jogadores do V. Guimarães após o empate (2-2) com o Betis, no Benito Villamarín
Vitória emaptou 2-2 com o Betis, em Sevilha, na 1.ª mão dos oitavos de final da UEFA Champions League (Foto: Imago)

Intervalo europeu

OPINIÃO11.03.202511:00

Sentido de Pertença é o espaço quinzenal de opinião de André Coelho Lima, associado do Vitória SC, jurista e empresário

1 — Escrevo estas linhas no intervalo dos oitavos de final da UEFA Conference League, entre o V. Guimarães e o Betis Sevilha. Após o empate 2-2 em Sevilha, no qual mais do que o resultado se ressalvou a magnífica exibição do Vitória. Vamos por partes.

Trazendo para Guimarães uma eliminatória empatada fora de casa, tudo poderia levar a concluir que o favoritismo pende para o lado do Vitória. Mas todos sabemos não ser essa apreciação rigorosa. No plano financeiro, estamos a falar de um orçamento de € 25 M contra um orçamento de €185 M (mais de sete vezes superior ao do Vitória). No plano desportivo estamos a falar de um clube que apesar do poderio financeiro nunca ultrapassou os quartos de final de uma competição europeia (tal como o Vitória), ou seja, um clube desesperadamente à procura de alcançar um título internacional, uma vez que não tem nenhum no palmarés.

Todas estas considerações servem apenas para trazer ainda maior valor à forma destemida e personalizada com que nos apresentámos no Benito Villamarín. À forma como vamos disputar a eliminatória de igual para igual com um clube com um poderio indiscutivelmente superior ao nosso. À forma como este clube conseguiu deslocar 2.000 adeptos em seu apoio a Sevilha numa afirmação de grandeza social que extravasa a desportiva. À forma como, aconteça o que acontecer, o Vitória já é vencedor.

Nem o ritmo sevilhano quebra o espírito conquistador (crónica)

6 março 2025, 19:54

Nem o ritmo sevilhano quebra o espírito conquistador (crónica)

Enorme exibição dos vimaranenses em Sevilha leva a decisão para o D. Afonso Henriques. Vitorianos estiveram em desvantagem por duas vezes, mas continuam campanha histórica na Europa, ainda sem conhecer o sabor da derrota na UEFA Conference League. Já lá vão 13 (!) jogos

As odds podem não pender para o lado do Vitória, mas a ambição pende necessariamente. A ambição de igualar a nossa melhor marca de sempre em competições europeias — quartos de final em 1986/1987. A ambição de nos agigantarmos e demonstrarmos que, em campo, são 11 contra 11 e que os nossos atletas são tão capazes quanto aqueles que têm uma obrigação superior de resultado. A ambição de continuar a bater o recorde de invencibilidade de clubes portugueses em competições europeias. A ambição de continuar a ser o maior contribuinte para a classificação portuguesa no ranking da UEFA. (aproveito para referir que o Real Betis Balompié também não tem Sevilha no nome mas aparentemente os seus adeptos, como é normal, não se incomodam com o seu clube ser designado como Betis Sevilha.

2 — Neste intervalo europeu, há que falar igualmente do campeonato. Indispensável para que possamos ter a ambição de continuar esta caminhada de reafirmação do Vitória europeu. E nesse particular, as últimas duas jornadas dificilmente nos poderiam ter corrido melhor. De entre os seus adversários na classificação, o Vitória, só em duas jornadas, ganhou 5 pontos ao Santa Clara, 5 pontos ao Estoril e 6 pontos ao Casa Pia. Colocando-se novamente em posição favorecida de poder disputar os lugares europeus a que temos sempre de ambicionar. Após os empates com SC Braga e FC Porto, o Vitória derrotou o Casa Pia em Guimarães e foi vencer o Boavista no Estádio do Bessa, num embate histórico sempre emotivo e envolvente. Uma vitória incontestável do Vitória com mais um banho de multidão no Bessa a acompanhar o seu clube para todo o lado.

3 — Desde o meu último texto tiveram lugar as eleições para os órgãos sociais do Vitória Sport Clube, que reconduziram António Miguel Cardoso como presidente do clube com uns inequívocos 89%.

Em primeiro lugar cumpre felicitar António Miguel Cardoso e a sua equipa pela vitória obtida. E talvez importe refletir um pouco sobre o significado que possa estar por trás de um resultado tão clarificador. E na minha leitura, mais do que representar a opção entre duas candidaturas, o que estas eleições demonstraram foi uma escolha óbvia dos sócios do Vitória no que respeita às prioridades de gestão financeira e desportiva: responsabilidade financeira e compromisso com abatimento do passivo histórico do clube; realismo na construção da equipa de futebol, sempre dentro das nossas possibilidades sem embarcar em loucuras que tantas vezes conduzem às derrapagens a que já assistimos; aposta séria e consistente na formação, tanto no que concerne a equipamentos como sobretudo quanto à confiança de colocar os atletas da cantera no plantel principal.

Penso que foi a aprovação inequívoca de um caminho de maior sobriedade e realismo que os sócios caucionaram nas eleições. Um caminho nem sempre fácil de trilhar (porque naturalmente os adeptos desejam sobretudo vitórias e respostas imediatas), mas que com tempo acaba por trazer resultados. E, nesse sentido, acaba por demonstrar uma maturidade que não é muitas vezes vista nos patamares desportivos.