Opinião Sporting quer voltar a ganhar de 20 em 20 anos?

OPINIÃO13.12.202411:00

Saída de Amorim, o cimento-cola dos sucessos recentes, pode ser um acidente reversível ou um pretexto para o Sporting voltar ao que tem sido desde os anos 80 do século passado. No limite, cabe aos sócios decidir

A dúvida é legítima desde o momento em que se soube, no final de outubro, que Ruben Amorim ia deixar o Sporting: a recuperação leonina dos últimos anos, que chegou a suspeitar-se poder vir a transformar-se numa espécie de hegemonia do futebol nacional, era obra coletiva e estruturada ou o resultado de uma conjugação de fatores, leia-se pessoas, leia-se Amorim e Hugo Viana?

A resposta mais imediata, em face da crua realidade dos primeiros resultados, é não — não era estrutural e tudo vivia em torno das capacidades do antigo treinador. Foi um período conjuntural, com características muito próprias, a começar pela ocorrência de uma pandemia que mudou, por largo tempo, o paradigma do futebol, da sociedade, do mundo em geral.

Parece-me precipitado, contudo, retirar desde já essa conclusão. O tempo é o maior professor e, simultaneamente, o melhor juiz que temos. É factual que o Sporting se desmembrou e abanou muito mais que o desejável com a saída de Amorim, verdadeiro cimento-cola dos sucessos recentes, mas um mês e cinco jogos são manifestamente curtos para avaliar a decisão de fazer subir João Pereira à equipa principal. Nem sempre o que parece é, e podem ser extremamente prematuras as sentenças que já recaem sobre o jovem treinador.

Acontece, porém, que o professor-juiz tempo nem sempre se dá bem com as emoções do futebol. À terceira derrota consecutiva, o Sporting voltou num ápice a ser o clube que foi nos últimos 50 anos: instável, pouco solidário, carregado de guerras de Alecrim e Manjerona, com muita politiquinha e poucas políticas de verdade. Com muito fervor mas pouca união.

À quarta derrota, em Brugge, foi possível recordar, naquele artefacto pirotécnico lançado contra os jogadores após o final, a chuva de foguetes e petardos lançados há uns anos para cima da baliza de... Rui Patrício.

A pirotecnia, que bem utilizada e regulamentada com menos fundamentalismo até poderia ser um espetáculo muito interessante (quem nunca foi ver um fogo de artificio e se deliciou com o que via?) transformou-se numa das formas mais óbvias de os adeptos do Sporting comunicarem os seus estados de alma. Não serão a maioria (os últimos atos democráticos do clube demonstraram-no claramente), mas haveria muitos a contar espingardas e foguetes no escuro, à espera que Varandas perdesse o estado de graça para poderem voltar a cantar que «a presidência não é lugar para ti», entre impropérios, insultos e faltas de educação.

Se não houver sangue frio, o Sporting arrisca regressar ao passado, candidatando-se a ganhar campeonatos esporadicamente a cada 20 anos, que é o que lhe sucede desde o início da década de 80 do século 20.

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