OPINIÃO Sporting: Hugo Viana jogou em dois tabuleiros

OPINIÃO07.02.202508:15

Profissionalismo de Hugo Viana não está em causa, nem mesmo neste período final, mas jogar em dois tabuleiros em altura crucial e assumir discurso na primeira pessoa por dois ‘players’ pode levar a pensar se, mesmo inconscientemente, aquele que ia passar ao passado não ficaria a perder para o que ia passar ao futuro…. Este é o 'Nunca mais é sábado', espaço de opinião de Nuno Raposo

Há 15 dias escrevi aqui uma convicção: mais cedo do que tarde ia nascer o novo Sporting. Um Sporting sem Hugo Viana — também já sem Ruben Amorim — e com dois novos elementos numa renovada estrutura do futebol: Bernardo Morais Palmeiro como diretor-geral do futebol e Flávio Costa como diretor técnico e de scouting, ambos a trabalhar diretamente com o presidente Frederico Varandas.

Oficial: Hugo Viana de saída do Sporting

4 fevereiro 2025, 10:16

Oficial: Hugo Viana de saída do Sporting

Leões comunicam que Hugo Viana solicitou a antecipação da sua saída do clube, inicialmente prevista para o final da presente época desportiva. Novo diretor-geral do futebol, Bernardo Palmeiro, e diretor técnico e de ‘scouting’, Flávio Costa, iniciam funções esta terça-feira

Mais cedo do que tarde, o Sporting anunciou oficialmente essa mudança, mais cedo ainda do aquilo que pensei — porque aconteceu logo na primeira manhã a seguir ao fecho da janela de inverno de um mercado de transferências que ofereceu ao treinador Rui Borges, nesse último dia, um extremo esquerdo destro como era desejo (Biel chegou do Bahia por 6 milhões de euros) e logo no início do período de transferências um guarda-redes (Rui Silva, ex-Betis, por empréstimo com cláusula obrigatória de 4,75 milhões de euros a ser exercida no final da temporada).

Despede-se então Hugo Viana com os dois últimos reforços, despede-se o diretor desportivo com um saldo positivo de encaixe financeiro e de títulos: 150 milhões de euros; dois campeonatos nacionais, três Taças da Liga, uma Supertaça e uma Taça de Portugal. Contas feitas desde setembro de 2018, altura em que Frederico Varandas venceu as eleições após o verão quente da transição de Bruno de Carvalho para a nova administração, e o resultado mostra que nunca o Sporting vendeu tanto e tão bem e nunca também investiu tanto e, entre sucessos e fracassos de mercado, com tão bons resultados que tiveram tradução num sucesso desportivo como há muito não se via em Alvalade.

Hugo Viana deu a ganhar 150 milhões ao Sporting

4 fevereiro 2025, 13:41

Hugo Viana deu a ganhar 150 milhões ao Sporting

Entre sucessos e fracassos de mercado, o saldo do antigo diretor desportivo dos leões é muito positivo. E no campo desportivo foram dois campeonatos, três Taças da Liga, uma Supertaça e uma Taça de Portugal

A saída de Hugo Viana era conhecida desde outubro. Porém foi-nos anunciada pelo Sporting apenas para o final da temporada mas com o City a avisar para um período de transição em que o português iria estar em contacto com o diretor que ia substituir em Inglaterra, Txiki Begiristain. Na altura, com os leões pujantes e ainda sob a batuta de Ruben Amorim lançados para o bicampeonato, não vi grande problema. Confesso, no entanto, que, com o passar do tempo e com as idas de Viana a Manchester em plena janela de inverno que ainda conduzia em Alvalade, comecei a torcer um pouco o nariz…

Hugo Viana 'apanhado' com Txiki Begiristain em Manchester

O profissionalismo de Hugo Viana não está em causa, nem mesmo neste período final, mas jogar em dois tabuleiros (ficámos a saber que movimentações de mercado no emblema da Premier League tiveram já o cunho do na altura ainda leão) em fase crucial e assumir discurso na primeira pessoa por dois players pode levar a pensar se, mesmo inconscientemente, aquele que ia passar ao passado não ficaria a perder para o que ia passar ao futuro — era como estar de corpo num sítio mas com a alma noutro e à espera do corpo…

Mas começa então o novo Sporting. Desafiante nos primeiros tempos e até final da temporada porque no campo desportivo há uma luta por um bicampeonato que não é conseguido há 70 anos. E porque depois há uma nova temporada para preparar, a primeira sem Amorim, a primeira sem Viana.

O desafio é muito para Palmeiro, que conhece bem os cantos à casa porque prestou assessoria executiva à administração e ao departamento de futebol entre 2020 e 2023, ou seja, trabalhou em Alvalade (e com papel ativo nas negociações) na era de Hugo Viana e Ruben Amorim, e para Flávio Costa, responsável por um departamento que descobriu, por exemplo e só, Viktor Gyokeres e Morten Hjulmand. Mas é sobretudo determinante para o presidente. Porque como os leões explicaram no comunicado de outubro a anunciar a saída de Viana, os dois novos elementos «vão reportar diretamente a Frederico Varandas», numa «nova estrutura organizacional no futebol profissional, deixando de existir a figura de diretor desportivo». Fica a pergunta sobre quem fará o papel que Viana fazia junto balneário, fica o desafio para uma nova temporada que será, toda ela e desde 2020, a primeira que não começará a ser preparada com o cunho de Viana e de, sobretudo, Ruben Amorim. E em 2026 há eleições no Sporting