Se Kokçu fosse Di María...
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OPINIÃO Se Kokçu fosse Di María...

OPINIÃO19.03.202408:00

Mensagem nas redes sociais mostra que Kokçu continua a pensar apenas em si

Campeão em Portugal, Espanha e França. Detentor de uma Liga dos Campeões, de uma Copa América, de um título mundial e de uma medalha de ouro olímpica, entre muitos outros troféus. Com este currículo, Ángel di María teria alguma legitimidade para dar uma entrevista a questionar abertamente as opções do treinador do Benfica. Talvez escapasse com um puxão de orelhas numa sala qualquer do Seixal e a sentença pública de uma multa que nunca chegaria efetivamente.

Se tivesse sido o argentino a dar tal entrevista, o Benfica e Roger Schmidt teriam um problema bicudo para resolver. Tratando-se de Orkun Kokçu é, antes de mais, uma atitude embaraçosa para o jogador de apenas 23 anos, campeão neerlandês pelo Feyenoord.

Não está em causa a liberdade de expressão, por mais pertinente que seja esse debate, digno de uma reflexão profunda dos jogadores. O que aqui se censura não é a decisão de dar uma entrevista à revelia do regulamento interno do clube, mas o conteúdo da mesma.

O internacional turco deixa claro que esperava ter outro status, como se 25 milhões de euros não fossem pompa suficiente. Diz que nunca fizeram com que se sentisse importante, mas reclama antes de se revelar verdadeiramente importante para a equipa. Alega que não foge às expectativas, que não é jogador de dar um murro na mesa, mas procurou dar justificações na comunicação social antes de justificar o investimento em campo.

O problema de Kokçu está, pelos vistos, no papel que o treinador lhe dá. Entende que não é o certo, aquele que melhor rentabiliza as suas características, e até lembra que Schmidt já o conhecia dos Países Baixos. Queixa-se que está demasiado preso a tarefas defensivas e que precisa de mais liberdade.

É verdade que o meio-campo do Feyenoord permitia que Kokçu jogasse mais solto, mas também porque o turco tinha conquistado esse privilégio. Era o elemento incontornável em todas as jogadas de ataque da equipa de Roterdão. Tanto pegava na bola junto dos centrais, como depois aparecia mais à frente, a fazer o último passe. Tanto fechava junto do médio mais posicional como saltava na pressão logo à saída da área contrária, sabendo que teria alguém na cobertura.

Esse Kokçu, a fazer lembrar Enzo, não tem sido o do Benfica. Será um reflexo do coletivo, acima de tudo, mas sem que o turco tenha conseguido justificar, em 34 jogos, que merecia perder alguns deveres para ter mais direitos. Ao dar uma entrevista tão inoportuna, no conteúdo e na ocasião, Kokçu mostrou que não estava preocupado com a equipa, e a mensagem publicada ontem, nas redes sociais, confirma o pensamento individualista. O jogador do Benfica defende uma crítica construtiva, mas esqueceu-se de olhar para o que tem feito e comparar com a influência que João Neves assumiu, ou mesmo com a perseverança de Florentino, estimado apenas nas situações de crise.